Por: André | 05 Novembro 2014
“Em que consiste esta mudança? (...) A mudança se resume ao deslocamento de uma Igreja centrada no 'poder religioso' (Rouco) a uma Igreja centrada no 'serviço evangélico' (Osoro). Por isso, enquanto Rouco foi um arcebispo autoritário e distante, Osoro começou a ser um homem de diálogo e próximo”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo, em artigo publicado no sítio espanhol Religión Digital, 02-11-2014. A tradução é de André Langer.
Eis o artigo.
Em poucas semanas, de setembro a outubro, acabam de ser publicados na Espanha dois livros importantes sobre a Igreja em nossos dias. O livro de José Manuel Vidal, Rouco. A biografia não autorizada. E o de Jesús Bastante, Carlos Osoro. O peregrino. Nestes dois livros, o diretor e o redator-chefe do sítio Religión Digital fizeram uma excelente radiografia da mudança que está em curso, não apenas na Arquidiocese de Madri, mas em toda a Igreja espanhola.
Uma mudança que muita gente não percebe, mas que está sendo mais profunda do que alguns imaginam. Os símbolos desta mudança são o cardeal Rouco e o arcebispo Osoro.
Em que consiste esta mudança? Dito com poucas palavras – e, portanto, de maneira superficial – a mudança se resume ao deslocamento de uma Igreja centrada no “poder religioso” (Rouco) a uma Igreja centrada no “serviço evangélico” (Osoro). Por isso, enquanto Rouco foi um arcebispo autoritário e distante, Osoro começou a ser um homem de diálogo e próximo.
Evidentemente, Rouco e Osoro são dois homens muito diferentes. Mas o deslocamento religioso que se está produzindo, não se deve nem exclusivamente nem principalmente a maneiras de ser ou a diferenças pessoais. Trata-se de algo muito mais sério. Sem dúvida alguma, a explicação desta mudança, como bem sugere Jesús Bastante, está na influência expansiva e crescente que está tendo a forma de governar que todos percebem na conduta do Papa Francisco.
É verdade que Francisco não mudou, até agora, nem o vigente Catecismo da Igreja Católica, nem seu Direito Canônico. Mas, teve condições para mudar realmente tudo isso? A resposta a esta pergunta é muito mais complicada do que muitos imaginam. Não vou entrar agora neste labirinto do qual é difícil sair. O que ninguém coloca em dúvida é que a forma de governar de Francisco criou um clima de esperança que antes da sua eleição não existia. E na mesma direção aponta o incipiente governo de Osoro em Madri, pelo que acertadamente nos diz Jesús Bastante. Só por isso, o recente livro sobre o novo arcebispo de Madri representa uma contribuição importante para a Igreja espanhola.
Mas há mais. Sejamos sinceros: o que contribuiu para o nosso país e a nossa Igreja da Espanha o rigorismo, o integrismo e o autoritarismo hierárquico de Rouco e seus homens? Evidentemente, eu não vou ser tão estúpido a ponto de jogar a culpa nem em Rouco nem na Igreja, da vergonhosa lama em que se vê mergulhado o nosso país, suas instituições, sua economia, sua dignidade e, sobretudo, sua população, em especial os mais fracos e indefesos. Sabemos de sobra que tudo isso tem outras raízes e outras explicações.
Mas tão certo como o que acabo de dizer é que a Igreja espanhola, liderada por Rouco, gritou aos céus em assuntos que serviram apenas para encrespar mais as pessoas, ao mesmo tempo que tiraram o corpo fora (ou procedeu com enorme ambiguidade) em coisas em relação às quais não se devia ter calado.
Por tudo isto me parece que é tão atual e tão ilustrativo o livro de Jesús Bastante. Porque em suas páginas vemos plasmado esse ideal de bispo, que representa o que bem pode ser o ponto de partida de outro modelo de religião e de Igreja. O modelo que entranha uma oferta de conduta ética e de espiritualidade que agora necessitamos mais que do nunca.
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Uma excelente radiografia da mudança na Igreja espanhola - Instituto Humanitas Unisinos - IHU