04 Novembro 2014
“A uniformidade não é cristã”, “não tenham medo da diversidade”. O Papa Francisco recebeu hoje a Catholic Fraternity of Charismatic Covenant Communities and Fellowships (Fraternidade Católica das Associações e Comunidades Carismáticas de Aliança), grupo de associações carismáticas de prevalência católica, reiterando a importância do ecumenismo espiritual “Orar e anunciar Jesus juntos”), daquilo que define o “ecumenismo do sangue” (“Para os que perseguem não estamos divididos”) e ressaltando que “a renovação carismática é, pela sua própria natureza, ecumênica”. Entre os presentes estava o pastor pentecostal Giovanni Trattino que foi aceito há poucos meses em Caserta.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada pelo Vatican Insider, 31-10-2014. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
“A uniformidade – disse Jorge Mario Bergoglio – não é católica, não é cristã. Curiosamente, o mesmo que faz a diversidade e os seus problemas, faz também a unidade: o Espírito Santo. A unidade não é uniformidade, não é obrigar a fazer tudo junto, nem pensar da mesma forma, menos ainda perder a identidade. A unidade na diversidade é exatamente o contrário, é reconhecer e aceitar com alegria os diferentes dons que o Espírito Santo dá a todos e coloca-los a serviço de todos na Igreja. Hoje – continuou – na medida em que o Evangelho que lemos na missa tinha essa uniformidade daqueles presos à Palavra, ‘deve-se fazer assim’, diziam, ao ponto que o Senhor precisou questionar: se pode fazer o bem aos sábados ou não se pode? Este é o perigo da uniformidade. Unidade é saber escutar, aceitar as diferenças, ter a liberdade de pensar de forma diferente e manifestar este pensamento! Com todo o respeito pelo outro que é meu irmão. Não tenham medo das diferenças! Como eu disse na exortação da alegria do Evangelho: ‘O modelo não é uma esfera, a qual não é superior as partes, onde todo ponto é equidistante do centro e não existem diferenças entre um ponto e outro. O modelo é um poliedro, que reflete a confluência de todas as parcialidades que mantém a sua originalidade’. Mas façam a unidade”.
A Fraternidade Católica desenvolve, de ontem até domingo, a XVI conferência internacional sobre o tema “Louvor e adoração carismática para uma Nova Evangelização”. Junto ao ICCRS (International Catholic Charismatc Renewal Services), essa sigla participou do encontro do Papa Francisco com os carismáticos organizado no último mês de junho para a Renovação do Espírito no estádio olímpico. “Quero antes de mais nada felicita-los pois iniciaram aquilo que era um desejo naquele momento”, disse o Papa referindo-se àquele encontro. “Há cerca de dois meses a Fraternidade Católica e o ICCRS já haviam iniciado os trabalhos dividindo o mesmo escritório no Palazzo San Calisto, dentro da Arca de Noé. Tenho consciência que não deve ter sido fácil tomar esta decisão e agradeço de coração esse testemunho de unidade, da corrente de graça que estão dando ao mundo inteiro”.
Papa Francisco se inspirou no título da conferência para fazer uma meditação sobre a oração. Partindo de um atestado de estima para o pontífice pregador Raniero Cantalamessa: “Sobre isso irá falar o padre Raniero, mestre de oração”. Passado um tempo o papa falou, “escutei este exemplo que me parece muito apropriado: a respiração do ser humano. A respiração é constituída de duas fases: inspirar, ou seja, colocar o ar para dentro, e expirar, deixar sair. A vida espiritual se alimenta, se nutre, na oração e se manifesta na missão: inspirar, a oração, e expirar, a missão”: “Ninguém pode viver sem respirar. O mesmo acontece com o cristão: o cristão não vive sem o louvor e sem a missão”. Nesse sentido, “quando se fala de oração de louvor na Igreja vem à mente os carismáticos”, disse Bergolgio, mas essa “não é somente a oração dos carismáticos, mas de toda a Igreja”.
Além do ecumenismo espiritual (“orar juntos e anunciar juntos que Jesus é o Senhor e intervir junto em ajuda aos pobres, em toda a sua pobreza”), o Papa depois falou do ecumenismo “do sangue”que “se vive hoje”: “Hoje o sangue de Jesus, derramado nos seus muitos martírios cristão em várias partes do mundo, nos desafia e nos impele à unidade. Para os perseguidores, nós não estamos divididos em luteranos, ortodoxos, evangélicos, católicos. Somos um! Para os opressores, somos cristãos. Este é o ecumenismo do sangue que se vive hoje”.
“Vejo entre vocês um amigo querido, o pastor Giovanni Traettino”, falou o Papa em meio a aplausos, “a quem visitei há pouco. Fraternidade Católica, não esqueça a sua origem – continuou em meio a novos aplausos – não esqueça que a Renovação Carismática é ecumênica pela sua própria natureza. Sobre esse este assunto o Beato Paulo VI, na sua magnífica e atualíssima Exortação sobre a Evangelização, disse: “(...) a força da evangelização será muito menor se vocês que anunciam o Evangelho estiverem separados das mais variadas formas. Não seria esse um dos maiores males da evangelização da atualidade?”. O mesmo Traettino, durante a vigília do encontro de hoje, afirmou em uma declaração a agência AGI, que depois da visita ao Papa “o clima mudou totalmente no que se refere a nossa expressão de fé”. O Papa argentino, introduzido pelos cumprimentos de alguns bispos brasileiros e o grito “Viva o Papa” dos presentes, concluiu o encontro agradecendo alguns jovens músicos do norte do Brasil.
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O Papa aos carismáticos: “A uniformidade não é nem católica, nem cristã”. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU