30 Outubro 2014
A regionalização do voto apareceu como um dos principais aspectos acentuados pelas eleições presidenciais de 2014, com grande participação da votação de Dilma Rousseff no Norte e Nordeste e Aécio Neves (PSDB) mais forte no Sudeste, Sul e no Centro-Oeste. Pesquisadores destacam que as regiões sofreram diferentes impactos de políticas públicas que, aliadas a outros fatores, definiram os seus votos. No entanto, afirmam que a polarização PT e PSDB no país ocorre não por um ou outro fator regional, mas pela maior nacionalização desses partidos.
A reportagem é de Vanessa Jurgenfeld, publicada pelo jornal Valor, 28-10-2014.
André Borges, professor da Universidade de Brasília (UnB), destaca que existe um efeito sobre o voto que é puramente territorial, isto é, mesmo que duas pessoas tenham um perfil semelhante, elas vão ter um comportamento eleitoral distinto pelo simples fato de residirem em regiões distintas. Uma pessoa branca, com nível superior, pode ter um tipo de voto na região Nordeste diferente da região Sul.
Na prática, ele destacou que há um efeito territorial que tem a ver com determinadas políticas públicas e em que medidas candidatos se aliam a determinados interesses econômicos daquela região específica. "As pessoas que residem no Centro-Oeste, pelo fato dessa região girar em torno do agronegócio, podem ter maior probabilidade de votar no PSDB, porque é visto como um partido que vai representar melhor o agronegócio e, consequentemente, melhor representar os interesses da região", afirmou. Do mesmo modo, ele disse que o simples fato de o PT ter ligação om o Movimento dos Sem-Terra (MST) vai fazer com que haja rejeição neste local porque estaria contra o agronegócio, que é o motor econômico dessa região.
A pesquisadora Sonia Terron, coordenadora do grupo de pesquisa de análise espacial da Associação Latino-americana de Ciência Política (Alacip), mostrou, por meio de um estudo empírico a partir de mapas que apontam a geografia do voto, que há um forte componente regional, que manteve praticamente nos mesmos locais os votos que Dilma obteve em 2010 também no primeiro turno de 2014. Bem como houve regionalmente uma transferência de votos de José Serra (candidato em 2010) para Aécio no primeiro turno. Segundo Sonia, Dilma venceu não por uma questão regional, mas porque foi bem votada em todo o território nacional, sendo mais bem votada no Norte e no Nordeste.
Sonia explica que há no mapa regional do voto um importante papel das políticas públicas. No instante que o Bolsa Família e outras políticas sociais foram implementadas de maneira mais consolidada, houve uma inversão do padrão de apoio eleitoral, criando uma coesão a partir de 2006 no Nordeste, por exemplo, região que não era coesa, em torno do PT. Isso se manteve agora em 2014.
Apesar da acentuada regionalização dos votos, Borges, da UnB, ressalta que a polarização entre PT e PSDB guarda relação direta com a nacionalização do voto. Segundo ele, os partidos incapazes de fazer esse movimento de nacionalização, como foi o caso do PSB, têm poucas chances numa eleição presidencial.
Para Borges, para se tornarem competitivos na eleição presidencial, é necessário que os partidos adotem estratégias de nacionalização do voto. Nacionalização partidária significa que vão se expressar de acordo com uma expressão nacional comum, de forma que não são defendidas propostas diferentes a cada Estado. Para conseguir nacionalizar votos, por exemplo, ele cita que aquilo que é usado como bandeira na eleição presidencial também deve ser replicado na eleição de governador. Isso tende a favorecer uma nacionalização do eleitorado, além de uma coordenação e uma estratégia eleitoral integrada.
Borges lembrou que a eleição de 2014 mostrou que há 20 anos de eleições presidenciais polarizadas entre PT e PSDB e neste período nenhuma terceira força logrou obter votação muito acima dos 20% no primeiro turno, justamente pela falta de nacionalização. "Todas as tentativas de terceira via morreram na praia", disse.
Nos seus cálculos, o PSDB foi o partido mais nacionalizado até 1998. Em 2002, quando o PT ganha a eleição presidencial, a curva se inverte e o PT ultrapassa o PSDB e se mantém na liderança, como o mais nacionalizado, até a última eleição. Segundo ele, quando a votação do PT se torna mais difusa no território, ele cresce eleitoralmente. "O PSB não tinha organização capaz de fazer esse movimento, isso contribuiu para a fragilidade de Marina", disse. Essa base eleitoral de Marina teve queda logo após receber ataques quando iniciou a campanha eleitoral na tevê, ressaltou. Sonia e Borges participam do 38º Encontro da Associação Nacional dos Pesquisadores em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG).
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Nacionalização é base para duelo PT-PSDB - Instituto Humanitas Unisinos - IHU