Por: André | 18 Julho 2014
Após séculos de espera e marginalização, as mulheres acessam, finalmente, à cátedra dos sucessores dos Apóstolos e das Apóstolas. Após séculos de espera e marginalização algumas mulheres chegarão ao ministério episcopal e ostentarão os símbolos do cargo: a mitra, o báculo e o peitoral. Na religião de Jesus de Nazaré, que, em tempos de misoginia, rodeou-se de mulheres, converteu-as em seguidoras e tornou-as as primeiras testemunhas da Ressurreição, estas tinham o acesso ao altar e à cátedra vetado. Finalmente, elas vão conseguir. Mesmo que seja apenas no anglicanismo, um ramo do cristianismo.
Fonte: http://bit.ly/UdM32h |
A reportagem é de José Manuel Vidal, jornalsita, e publicada por Religión Digital, 15-07-2014. A tradução é de André Langer.
Era lógico e natural, e estava dentro do previsível. Em 1994, esta mesma Igreja Cristã, que tem 80 milhões de membros em 165 países, aprovou a ordenação de mulheres. Desde então, já são 3.827 as mulheres sacerdotes que têm acesso ao altar. Até agora, um acesso restrito. A masculinização das hierarquias clericais, mesmo na Igreja Anglicana, é tão forte que levou 20 anos para chegar ao próximo e máximo degrau do sacramento da ordem: o episcopado.
A medida é, de fato, histórica, cria um precedente decisivo e deixa em evidência outros ramos do cristianismo, especialmente a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, dado que nas Igrejas Protestantes também existem denominações que admitem sacerdotes e bispas. Se os anglicanos, que são tão cristãos como os demais, por que não podem fazê-lo também os católicos e os ortodoxos?
Com o Papa Francisco em Roma, o catolicismo poderia, ao menos, fazer-se a pergunta. Até agora, nem isso era permitido. Por duas razões principais. Para a Igreja Católica, o corpo das mulheres é um obstáculo ao acesso aos ministérios ordenados, porque não representa Cristo. E não o representa ou não pode representá-lo, porque a mulher não é ‘vir’ (masculino) e, portanto, em função do seu sexo, não pode representar Jesus Cristo, que era varão.
Essa doutrina, além de ser uma flagrante discriminação em função do sexo, é uma interpretação restritiva da Tradição, que reduz o grupo dos seguidores e seguidoras de Jesus ao círculo dos Doze, sem levar em conta que, no movimento de Jesus, o discipulado era um movimento igualitário e que, além disso, homens e mulheres se incorporam em condições de igualdade à comunidade cristã por meio do batismo, que é um sacramento inclusivo.
Além disso, a masculinidade de Jesus é usada para reforçar a imagem patriarcal de Deus. Se Jesus é homem e, como tal, a revelação de Deus, deve-se deduzir, segundo a corrente predominante da teologia católica, que a masculinidade é uma característica essencial do próprio ser divino. Daí que os homens podem identificar-se mais com Cristo do que as mulheres e, por isso, reservaram exclusivamente para si a capacidade de representá-lo. No entanto, o próprio Credo Niceno-Constantinopolitano diz: ‘Et homo factus est’. Utiliza, portanto, o termo inclusivo 'homo' (pessoa) e não 'vir' (masculino), que será usado muito mais tarde tanto no Catecismo da Igreja (n. 1577) como no Direito Canônico (cânon 1204).
Baseando-se em todas estas razões, João Paulo II, em sua carta de 22 de maio de 1994, a 'Ordinatio Sacerdotalis', afirma: "...Declaro que a Igreja não tem de modo algum a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja". O agora Papa Santo quis encerrar o debate, mas não conseguiu. Entre outras coisas, porque não se atreveu a definir como dogma sua rejeição ao sacerdócio feminino.
E volta com força. Em uma sociedade cada vez mais secularizada, multiétnica e multi-religiosa, o anglicanismo (religião de Estado) e catolicismo perdem fiéis aos borbotões. A maioria migra para a indiferença. Para deter a hemorragia ou recuperar as ovelhas perdidas, os anglicanos oferecem modernidade. Os católicos, até agora, só tradição. Com Francisco, a tradição e a abertura para uma Igreja mais moderna, aberta e em sintonia com os tempos.
Na Igreja Anglicana, uma espécie de laboratório do cristianismo, as mulheres e os gays já não se sentem, nem estão discriminados. As mulheres já podem ser sacerdotes e logo bispas. E os homossexuais, também. Algo que, para Roma, era um anátema e que o Papa Francisco terá de abordar. Porque, no catolicismo, mais da metade do céu não tem acesso ao altar.
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