18 Novembro 2015
"Pode-se concluir, portanto, que a China e a Santa Sé não estão somente dialogando, mas também iniciaram a caminhar juntos em direção à normalização das relações. Não está claro quanto tempo esta caminhada irá levar, mas não se pode excluir a possibilidade de que ambas as partes alcançarão o seu destino dentro de um ano", escreve Gerard O’Connell, em artigo publicado pela revista America, 23-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Será que o Papa Francisco poderá fazer avanços importantes com o governo de Pequim e com o patriarca ortodoxo russo de Moscou dentro dos próximos 12 meses? Tal ideia não pode ser descartada, penso eu, e se uma (ou ambas) as coisas vierem a acontecer, então com certeza estaremos diante de uma grande realização deste pontificado.
Uma série de sinais dão a entender que um progresso está sendo feito em ambos os fronts. Aqui eu apresento um primeiro olhar, começando com Pequim.
No dia 11 de outubro, uma delegação de seis pessoas vindas da Santa Sé chegou a Pequim para “diálogos” com representantes chineses. A delegação, que incluía funcionários da Secretaria de Estado do Vaticano e da Congregação para a Evangelização dos Povos, partiu no dia 16 de outubro, mas até então nenhum dos lados revelou o conteúdo das conversas realizadas.
Uma questão que, certamente, teria estado em pauta é a nomeação dos bispos no país. Isso vem estando no centro dos debates há décadas, e o fracasso em resolver o tema levou a ordenações ilícitas, excomunhões e tensões. A ausência de tais elementos negativos nos últimos tempos, e a ordenação de um bispo aprovado por ambos os lados, sugere que um diálogo sino-vaticano entrou numa fase positiva.
O motivo disso pode bem ser que ambos os lados “concordaram em deixar de lado, por certo tempo, as negociações envolvendo questões mais espinhosas”, conforme disse numa recente entrevista ao UCA News o Rev. Jeroom Heyndrickx, experiente sinologista quando esteve no Verbiest Institute, da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica. Na verdade, trata-se de uma estratégia defendida pelo Papa Francisco, tal como ele deixou saber em seu discurso aos jovens em Havana no mês de setembro.
Esta estratégia evita lidar imediatamente com questões problemáticas, como o são a detenção de Dom James Su Shimin, de Baoding; o status dos oito bispos ilícitos e dos bispos não oficialmente reconhecidos pelo país, assim como o status do bispo auxiliar de Shangai, Ma Daqin; a questão do número de dioceses; e outros temas, incluindo a questão da liberdade de movimento aos bispos chineses.
A reunião de outubro em Pequim foi a segunda desde que Francisco se tornou papa, e aparentemente ela foi bem-sucedida. Digo isso porque a delegação da Santa Sé visitou o Seminário Nacional em Pequim (que se encontra sob o controle da Associação Patriótica) no dia 15 de outubro. Aí, a delegação foi recebida pelo reitor, Dom Ma Yinglin, quem foi ordenado sem a aprovação papal e que é o presidente da conferência episcopal sancionada pelo governo, entidade não reconhecida por Roma. Em visitas anteriores, a delegação da Santa Sé sempre evitou reunir-se com funcionários da Associação Patriótica e com os líderes da conferência dos bispos do país.
Que isso tenha ocorrido desta vez sugere que algo importante mudou nas relações sino-vaticanas. Também válido de nota, embora menos importante, foi a reunião da delegação com Dom Li Shan, de Pequim, no dia 14 de outubro. No passado, os delegados da Santa Sé não eram autorizados a se reunir com o bispo da cidade, ainda que ele fosse ordenado com a aprovação papal, exceto quando esteve gravemente doente no hospital.
Tudo isso aconteceu de forma inédita, visto que os diálogos sino-vaticanos se iniciaram a somente três décadas atrás, e com certeza o que ocorreu recentemente não teria acontecido sem uma participação de alto escalão. Pode-se concluir, portanto, que a China e a Santa Sé não estão somente dialogando, mas também iniciaram a caminhar juntos em direção à normalização das relações. Não está claro quanto tempo esta caminhada irá levar, mas não se pode excluir a possibilidade de que ambas as partes alcançarão o seu destino dentro de um ano.
No front moscovita, há também indícios de que a Santa Sé e o Patriarca de Moscou estão ativamente trabalhando em direção a um encontro inédito entre o bispo de Roma e o patriarca da Igreja Ortodoxa russa. Por vezes Francisco manifestou o seu desejo de um tal encontro, e agora parece haver disposição no lado russo também. Os russos excluíram reunirem-se em Moscou ou em Roma, então locais alternativos estão sob consideração.
O sinal positivo mais recente aqui veio de Dom Tikhon, novo vigário da Diocese de Moscou, sendo ele estrela emergente na Igreja Ortodoxa e um assessor espiritual de longa data do presidente russo Vladimir Putin. Ao falar em Roma, no dia 28 de setembro, ele previu que “algo concreto” virá com respeito a uma reunião entre Francisco e o Patriarca Kirill. Se um tal encontro acontecer na véspera do Concílio Pan-Ortodoxo em 2016, ele será verdadeiramente significativo.
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Francisco olha para o Oriente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU