18 Dezembro 2014
O cardeal Christoph Schönborn disse que algumas respostas dos participantes no Sínodo Extraordinário de outubro sore a família se caracterizaram pelo medo.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada pelo jornal The Tablet, 15-12-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Numa entrevista de quarto páginas na edição de dezembro da revista teológica mensal alemã Herder Korrespondenz, ele falou que o que mais o surpreendeu foi descobrir que muitos de seus colegas bispos ficaram “com medo” da sugestão que ele deu de se reconhecer o bem presente nos relacionamentos irregulares.
Alguns cardeais até mesmo manifestaram um desejo pela autoridade e trouxeram o presidente russo Vladimir Putin como um modelo, pela defesa dos valores da família que ele demonstra ter. Schönborn considerou este desejo “muito preocupante”.
Durante o Sínodo, ele sugeriu aplicar o princípio da “gradualidade” à questão do matrimônio. Com isso ele quis dizer: reconhecer o bem nas relações irregulares tais como a coabitação fora do casamento. Esta sugestão levou a debates acalorados. Reconhecer que as pessoas que vivem juntas podem estar a caminho do Sacramento do Matrimônio não significa concordar com a coabitação como um todo, explicou.
Alguns bispos no Sínodo, no entanto, manifestaram o medo de que uma tal abordagem deixaria o ensinamento da Igreja menos claro. Disseram que, como consequência, muitos católicos comprometidos, que foram preparados para defender os valores da família, tais como o um milhão ou mais de católicos franceses que foram às ruas para protestar contra o casamento homoafetivo, se sentiriam abandonados.
Perguntado sobre o que disse aos bispos que expressaram tais temores, Schönborn falou que lhes lembrou da parábola do Filho Pródigo. “Os bons católicos às vezes me lembram do irmão mais velho. Este se decepciona e sente que não está sendo recompensado por sua lealdade. A resposta do pai é uma das frases mais belas no Novo Testamento: ‘Filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu’ (Lucas, 15,31). Eu diria a estas famílias católicas que elas deveriam ficar felizes e agradecidas por testemunharem o fato de que os casamentos podem ser bem-sucedidos, mas que eles deveriam também de se alegrarem e acolherem nos seus lares os que não alcançam este ideal”.
Para os cardeais que mostraram desejo pela autoridade e elogiaram o Sr. Putin por defender os valores da família, o cardeal disse isto: “Neste momento, há uma certa tentação de sonhar com uma Igreja poderosa, o desejo por um catolicismo político que vá impressionar as pessoas com a sua suposta força e apresentá-la como uma potência cultural. Estes cardeais ficam extremamente preocupados quando pensam que veem sinais de que o poder do papado está diminuindo e que o papa está, em certa medida, descendo de seu trono”.
Segundo ele, algumas pessoas ficaram com medo do pontificado do Papa Francisco, o que fez surgir histórias “deploráveis” de que a sua eleição fosse inválida. Ele perguntou ao papa, no final do Sínodo, se as polêmicas haviam se tornado um pouco acaloradas demais. Francisco, no entanto, disse-lhe para confiar em Deus. “É o Senhor quem conduz a Igreja e a conduzirá través destas polêmicas”, disse Francisco segundo Schönborn.
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Schönborn e os bispos que quiseram uma liderança ao estilo Vladimir Putin no Sínodo sobre a família - Instituto Humanitas Unisinos - IHU