11 Fevereiro 2014
"É fascinante ver como o Papa Francisco está encorajadando, revivendo e renovando a Igreja. Nosso encontro com ele foi uma excelente lição sobre como viver o Evangelho hoje", disse o cardeal Christoph Schönborn, de Viena, depois de uma audiência de 90 minutos com o papa durante a visita ad limina dos bispos austríacos ao Vaticano na última semana de janeiro.
A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, correspondente austríaca para a revista católica semanal The Tablet, publicada no sítio National Catholic Reporter, 07-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os bispos austríacos também levaram a Roma os resultados do recente questionário feito pelo Vaticano. As respostas mostraram que 95% daqueles que responderam o questionário na Áustria são a favor de que os católicos divorciados e recasados recebam os sacramentos.
O tema das relações familiares hoje e de como a Igreja deve lidar com elas desempenharam um papel importante na reunião de 30 de janeiro com o papa, disse o cardeal Schönborn. "Nós não podemos falar sobre as pessoas sem falar das famílias", disse Francisco, explicando que foi por isso que o tema do próximo Sínodo dos Bispos, em outubro, havia sido alterado de bioética para a família.
Francisco falou sobre a sua experiência na América Latina, onde a situação do casamento e da família era, até certo ponto, "muito mais dramática" do que na Europa, comentou Schönborn. É importante perceber que, hoje, muitos casais vivem juntos sem se casar e sem ter filhos, e mais tarde se casam em um cartório, onde alguns optam por um casamento na Igreja, explicou o papa. A Igreja deve considerar seriamente esse modo de vida e acompanhar os casais em seu caminho, sublinhou Francisco. Sua mensagem básica foi: "Não julgue, mas olhe de perto e ouça com muito cuidado", disse Schönborn.
Em várias entrevistas pouco antes de deixar Viena, Schönborn defendeu uma abordagem mais racional e prática no que diz respeito às relações familiares. "Em sua maior parte, a Igreja aborda a questão [da família] de uma maneira não histórica", disse ele. "As pessoas sempre viveram juntas de várias maneiras. E hoje, nós, na Igreja, convivemos com o fato de que a maioria dos nossos jovens, incluindo aqueles com laços estreitos com a Igreja Católica, vivem juntos muito naturalmente. O simples fato é que o ambiente mudou".
Schönborn, "de maneira alguma", queria defender a mudança do direito canônico, mas apenas mostrar o quão difícil era alinhar o modelo de família ideal com a realidade. "O ponto decisivo não é condenar o modo como a maioria das pessoas realmente vivem juntas, mas se perguntar: 'Como vamos lidar com o fracasso?'", disse.
Enquanto "os desejos, as esperanças e as aspirações da maioria das pessoas, em grande parte, correspondem ao que a Bíblia e a Igreja pregam sobre o casamento e a família" e elas anseiam por um relacionamento de sucesso e uma vida familiar bem sucedida, a vida real mostra uma história diferente, disse o cardeal. "O grande desafio é estender uma ponte entre o que almejamos e que conseguimos alcançar." Foi a defesa de trazer a verdade e a misericórdia juntas, disse ele.
Schönborn disse que lamentava que os bispos austríacos não se atreveram a falar abertamente sobre as reformas necessárias da Igreja no passado. Eles não tiveram a coragem de abordar a necessidade de uma maior descentralização e de fortalecer a responsabilidade das igrejas locais, disse. "Estávamos muito hesitantes. Eu bato no meu próprio peito aqui. Nós certamente não tivemos a coragem de falar abertamente."
Os bispos austríacos também discutiram com o papa sobre a Iniciativa dos Párocos Austríacos, que apelou para a ordenação de homens e mulheres casados, e sobre o seu Apelo à desobediência, disse Schönborn. O papa aconselhou-os de que a coisa mais importante para os bispos é sempre estar em estreito contato com os seus sacerdotes, disse o cardeal.
Schönborn disse que estava convencido de que a reforma da Igreja estava a caminho, "mas ela não será alcançada por meio de grandes palavras e programas, mas sim mediante de pessoas como o Papa Francisco". Já se pode ver que o papa tornou-se um modelo, disse Schönborn. "O clima está mudando e o seu comportamento se faz sentir", disse. O que mais o impressionou sobre o papa foi o seu carisma. "Você pode sentir a sua devoção interior por Deus, do qual emanam a sua compaixão, seu calor e seu contagiante senso de humor", disse o cardeal.
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''O Papa Francisco já mudou a Igreja'', afirma cardeal Schönborn - Instituto Humanitas Unisinos - IHU