05 Fevereiro 2015
Nem as mulheres, nem os homens exercem a sua competência na Igreja por causa de algum misterioso gênio relacionado ao gênero, mas porque são batizados.
A opinião é de Gemma Simmonds, CJ, professora de Teologia e Estudos Pastorais e Sociais do Heythrop College, Inglaterra. A Ir. Simmonds pertence à Congregação de Jesus, fundada por Mary Ward, e trabalhou com crianças de rua no Brasil em 1992. O artigo foi publicado no sítio do jornal católico britânico The Tablet, 02-02-2015. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o texto.
O Pontifício Conselho para a Cultura está se reunindo de 4 a 7 de fevereiro para discutir as culturas femininas: igualdade e diferença. As discussões abordarão questões urgentes como a violência física e sexual contra as mulheres, as atitudes patriarcais que subjugam as mulheres dentro da Igreja e na sociedade em geral, e a crise de alienação das mulheres na Igreja em algumas partes do mundo.
O documento preparatório foi elaborado por um grupo de mulheres nomeado pelo Conselho e considera tanto a promoção da igualdade entre os sexos e a valorização da diferença de gênero, bem como o quanto as mulheres são excluídas dos processos de tomada de decisão dentro da Igreja.
Tudo isso é um passo positivo, mas, no passado, os documentos oficiais e pronunciamentos da Igreja já falaram admiravelmente sobre as mulheres, ao mesmo tempo em que precisamente a Igreja não ia a lugar algum. Não há, é claro, uma categoria única e genérica de mulheres, uma vez que as culturas e contextos diferem enormemente. O Conselho adverte contra generalizações inúteis enquanto busca "identificar possíveis caminhos pastorais". Ao mesmo tempo, a sua ansiedade em contrariar as teorias contemporâneas que dizem que a identidade de gênero é uma construção auto-escolhida, no entanto, leva-o a tomar decisões e declarações muito genéricas que alienam tantas mulheres.
É preciso ser justo. Esse Conselho tem se preparado, buscando a opinião de mulheres de todo o mundo, ao contrário de 1994, quando os participantes do Sínodo sobre a Vida Consagrada - quase exclusivamente homens - discutiram uma forma de vida seguida muito mais por mulheres do que homens (70% contra 30%), até que as superioras-gerais criaram tamanho tumulto para que fosse permitido um número minúsculo de participantes do sexo feminino como observadoras.
A intenção da reunião desta semana é boa, embora a versão em inglês do vídeo que convida as mulheres a enviarem material descrevendo suas experiências tem uma atriz assustadoramente fascinante que parece uma das Stepford Wives [Mulheres Perfeitas, livro de Ira Levin] e provocou mais horror do que encanto. Poucas mulheres podem argumentar contra a intenção do Conselho de tratar a pressão exercida sobre as mulheres pela mídia e pela indústria da moda. E nenhuma discussão séria sobre a violência doméstica e sistêmica contra as mulheres é indesejável.
O Conselho justamente sublinha a enorme disparidade entre os níveis de responsabilidade e competência profissional alcançados por muitas mulheres na sociedade e no mercado de trabalho, e sua exclusão sistemática de exercer essa competência dentro da vida comum da Igreja.
A abordagem geral é séria e positiva, ao contrário do cardeal Raymond Burke, que, em uma entrevista recente, culpou as mulheres pelo abuso sexual do clero, pelo alcoolismo, pela dependência das drogas e por uma efeminação geral que ele percebe estar assolando a Igreja. Tais acusações podem ser tratadas com o ridículo que merecem, mas muitas mulheres têm receio de referências a seu "gênio feminino", como fizeram o Papa Francisco e, antes dele, São João Paulo II. O Conselho consegue evitar a repetição da aspiração de João Paulo I de que as esposas devem combinar a leitura de Shakespeare e Tolstói com a beleza física e ser a "rainha inestimável dos [...] pisos brilhantes". Mas a maioria das mulheres têm dificuldade para reconhecer qual é realmente esse gênio feminino.
Nem as mulheres, nem os homens exercem a sua competência na Igreja por causa de algum misterioso gênio relacionado ao gênero, mas porque são batizados. Se esse reconhecimento pode ser o ponto de partida, desta vez, poder-se-á chegar a algum lugar.
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''Poupe-nos de mais palavras vazias sobre o gênio das mulheres'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU