05 Outubro 2025
"Fé é acreditar que a vida presta e tem sentido. É o combustível que nos faz caminhar. Fé - virtude divina, como a Esperança e o Amor - é ver o invisível, é cumprir o dever de existir sabendo que ser é ser-com-os-outros, entendendo que "o verdadeiro encontro é EU-TU, nunca EU-ISSO" (Martin Bubber, 1878-1965)", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, ao comentar a leitura do Evangelho deste domingo.
Ele recorda Helio Pellegrino (1924-1988) que dizia que "o cristão devia se ajoelhar quando entrasse numa padaria e se extasiar diante de uma laranja cortada".
Eis o comentário.
Em Lucas, 17, 5-10, trecho do Evangelho deste domingo, os apóstolos pedem a Jesus o que, de muitas formas, também rogamos: "Aumenta a nossa fé!".
Jesus, sempre instigante, diz que não é questão de quantidade: "se sua fé fosse do tamanho de um grão de mostarda, vocês plantariam amoreiras no mar!".
Fé é acreditar que a vida presta e tem sentido. É o combustível que nos faz caminhar. Fé - virtude divina, como a Esperança e o Amor - é ver o invisível, é cumprir o dever de existir sabendo que ser é ser-com-os-outros, entendendo que "o verdadeiro encontro é EU-TU, nunca EU-ISSO" (Martin Bubber, 1878-1965).
Toda fé é uma aposta, uma vontade, um face a face no escuro. Um modo nada resignado de viver: não aceitar a vida como ela é, não ficar no raso, no imediato, na prisão das coisas, na mediocridade do "compro, logo existo".
É saber ver "o universo num grão de areia", é perceber o sagrado da matéria. É acreditar que Deus, o Amor Transcendente, se revela no imanente, no aqui e agora. Helio Pellegrino (1924-1988) dizia que "o cristão devia se ajoelhar quando entrasse numa padaria e se extasiar diante de uma laranja cortada".
Fé é se emocionar com a luz dos olhos da pessoa amada, a ternura da mãe, o cuidado do pai, a flor baldia e a abelhinha do caminho.
É lindo e gostoso ter fé, o mundo fica mais leve. Não uma fé infantil ou mágica, de mitos desvinculados da realidade. Nem uma fé mercantil, de "devoção" interesseira e medrosa, atenta ao que Deus dará em troca...
Para Santo Agostinho (354-430 d.C.), "cantar é rezar em dobro". Gil canta a fé "na luz, na escuridão, na maré, num pedaço de pão":
"Andá com fé eu vou/ que a fé não costuma faiá/ (...) a fé tá na manhã/ tá no anoitecer/ oh, no calor do verão/ (...) Certo ou errado até/ a fé vai onde quer que eu vá/ a pé ou de avião/ Mesmo a quem não tem fé/ a fé costuma acompanhar/ Oh, pelo sim, pelo não!".
Fé sem obras é vã: fé e ação no hoje e no que virá. Nos pequenos sinais cotidianos, nos grandes sonhos de uma humanidade transformada.
Fé é aceitar nossas fraquezas e finitude, mas marcando com grandeza e eternidade o tempo que nos é dado viver.
Bota fé!
(Para Marceu Vieira, querido de tant@s, jornalista, sambista, poeta)