A miséria e a pobreza nos interpelam. Breve reflexão para crentes ou não. Comentário de Chico Alencar

Foto: Aristotlè Guweh Jr | Pexels

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29 Setembro 2025

"No plano social e político, exercemos nossa cidadania para cobrar políticas públicas que promovam justiça tributária, inclusive taxando os super-ricos, moradia popular, cesta básica saudável, oportunidades e dignidade aos marginalizados?", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, ao comentar a parábola do rico insensível que nem percebia o pobre Lázaro à sua porta (Lucas, 16, 19-31)

Eis o comentário.

A sociedade da profunda desigualdade devia nos incomodar.

A Jesus isso inquietava demais. Tanto que Ele, na sua pedagogia fantástica, nos conta hoje a parábola do rico insensível que nem percebia o pobre Lázaro à sua porta (Lucas 16, 19-31).

Não se trata de "inventar" classes sociais, mas reconhecer sua existência e a absurda diferença entre elas, que perdura até hoje (dados da ONU de 2022 registram que 10% dos mais ricos concentravam 76% da riqueza do mundo, enquanto 50% dos mais pobres ficavam só com 2%!).

Com suas roupas finas e seus banquetes fartos, o ricaço da parábola nem percebia o miserável com feridas lambidas pelos cães, que aguardava as sobras da sua mesa.

Jesus alerta: não se trata de se arrepender pelo medo do inferno, mas ouvir, aqui e agora, as denúncias proféticas da injustiça, e lutar no presente para superá-las. "Eles têm Moisés e os profetas: que os escutem!" (29).

Amós, em 760 a.C., já clamava: "Ai de vós (...), que aplicam o poder da violência (...), bebem canecões de vinho, usam os mais caros perfumes, sem se importar com a ruína de José!" (6, 1, 3, 6).

Escutamos? No plano pessoal, temos excesso de roupas no armário, de alimentos desperdiçados ou equipamentos eletrônicos de uso obsessivo? Temos coração e ouvidos abertos para sentir na própria carne a dor do semelhante?

No plano social e político, exercemos nossa cidadania para cobrar políticas públicas que promovam justiça tributária, inclusive taxando os super-ricos, moradia popular, cesta básica saudável, oportunidades e dignidade aos marginalizados?

O que temos feito para superar essa "economia que mata", como a classificou o papa Francisco (1936-2025)?

Nossa indiferença, como a do ricaço da parábola, contribuirá para a reprodução da desigualdade estrutural.

E revelará que nossa fé é individualista e vã, só de boca pra fora, pois não se concretiza em atitudes e obras.

Aprendamos com D. Helder Câmara (1909-1999) que "o melhor do pão é a partilha".

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