01 Agosto 2023
“Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo” (Tiago 5,4).
Na quarta-feira, dia 26 de julho, mais um acidente de trabalho ceifou a vida de 9 trabalhadores, em Palotina-PR. A explosão no armazém da C. Vale – Cooperativa Agroindustrial, matou soterrados com 10 toneladas de milho 8 imigrantes haitianos e 1 brasileiro enquanto faziam a manutenção no silo da empresa.
A Pastoral Operária do Paraná, o Serviço Pastoral dos Migrantes, o Centro de Promoção de Agentes de Transformação – CEPAT, a Cáritas Brasileira Regional Paraná, a Comissão Pastoral da Terra e a Pastoral Afro-Brasileira – Regional Sul 2 - Paraná manifestam pesar pela vida dos trabalhadores mortos e solidariedade às suas famílias.
Além destes, o haitiano Alfredo Celestin ainda encontra-se soterrado.
A empresa do agronegócio C. Vale, que tem um faturamento anual em torno de 20 bilhões de reais, atua na produção de soja, milho, leite, frango, mandioca, peixe e suínos no Sul e Centro-Oeste. Mesmo assim, os trabalhadores haitianos foram sepultados no Brasil, por não terem condições de translado dos corpos para o seu país de origem. Conta com 13 mil trabalhadores.
O trabalho é fonte de vida e dignificação do ser humano. Por meio dele se constrói vida, relações e transforma-se a realidade. Mas, fatos como este tem sido cada vez mais frequentes no Brasil. Em 2022, foram registrados 612 mil acidentes e 2.538 trabalhadores e trabalhadoras perderam a vida durante a jornada de trabalho.
Portanto, não se trata de um caso isolado, mas recorrente. A empresa C. Vale – Cooperativa Agroindustrial já é reincidente em ocorrências com mortes nas suas dependências. Em 2017, dois trabalhadores morreram em São Luiz Gonzaga/RS, enquanto faziam a manutenção do canal de um armazém carregado de soja.
Não podemos encarar o acontecido como um “evento sinistro de grandes proporções”, como definem no campo empresarial. Por vezes, nesses acidentes, ainda culpam as vítimas por ausência de atenção. Todavia, a inteira responsabilidade é da empresa, que sabe da periculosidade desse tipo de trabalho e, mesmo com alta lucratividade, não investe na qualidade da segurança do trabalho.
Soma-se isso um alerta para a situação de muitos trabalhadores migrantes que deixam seu país em busca de um sonho – a dignidade por meio do trabalho – e não raras vezes precisam se submeter a essas condições de trabalho que levam à morte.
Rogamos ao Deus da vida que interceda por tantos trabalhadores e trabalhadoras, e suas famílias, vitimadas pela precarização do trabalho em detrimento do capital. Aos que se encontram hospitalizados e enfermos, desejamos uma boa recuperação. Acidente de trabalho é responsabilidade da empresa e dever da sociedade exigir condições de trabalho com segurança.
Esta tragédia é reveladora de uma faceta pouco glamorosa da globalização neoliberal: as vítimas são, em sua quase totalidade, migrantes, e submetidas, à semelhante de tantos outros trabalhadores, a um mercado de trabalho precarizado (eles eram terceirizados), em um setor econômico, o agronegócio, que goza de grande visibilidade e que está em interface com a agricultura, a criação de animais e a produção de commodities para a exportação e a criação de divisas para o país.
Infelizmente, os sucessivos recordes de produção de grãos coincidem com altos índices de acidentes de trabalho no setor agroalimentar e a multiplicação das mortes de trabalhadores, mortes que perfeitamente poderiam ter sido evitadas.
Continuaremos acompanhando as investigações. E esperamos que todos os direitos de um enterro digno tenham sido respeitados e garantidos a essas pessoas e seus familiares.
Que Deus nos ajude!
Curitiba, 31 de julho de 2023.
Pastoral Operária do Paraná
Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM nacional
Centro de Promoção de Agentes de Transformação – CEPAT
Cáritas Brasileira Regional Paraná
Comissão Pastoral da Terra
Pastoral Afro Brasileira – Regional Sul 2 – Paraná
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Palotina/PR. Nota de solidariedade aos trabalhadores e familiares vítimas do acidente de trabalho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU