A missionária que construiu uma sólida atuação no Brasil com a economia solidária vive há um ano na África trabalhando com comunidades em situação de miserabilidade. Sua congregação luta para conseguir construir um poço coletivo para mais de 500 famílias
A América Latina e o continente Africano foram espoliados por séculos e séculos pelo norte global, que desfruta hoje – apesar dos novos desafios impostos pelo colapso climático – do bem-estar econômico e social da exploração humana e dos chamados “recursos naturais” retirados destas regiões. Esse passado colonial, muito mais recente em África, forçou com que alternativas como a Economia Solidária se construíssem para dar conta dos enormes desafios da desigualdade e da miserabilidade pudessem ser superados no sul global. Foi pensando em compartilhar essas experiências que a Irmã Lourdes Dill está trabalhando em Moçambique há um ano.
“A diferença entre a pobreza do Brasil e Moçambique, na minha visão, é que o Brasil tem hoje novamente as políticas públicas para o campo e cidade. Os programas e auxílios governamentais, especialmente em nível federal e alguns municípios, ajudam a amenizar a pobreza, a fome e a miséria. Em Moçambique não existem políticas públicas e este tipo de programas para famílias mais pobres”, compara Irmã Lourdes, uma das idealizadoras e realizadoras do projeto de Economia Solidária, em entrevista por mensagens de WhatsApp ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, devido à dificuldade de acesso a outras tecnologias.
Os desafios não são somente de ordem econômica, mas também a violência é um aspecto sensível. “Sim, Moçambique assim como em outros países da África, há muitos e grandes conflitos entre muçulmanos e cristãos. Na região que nós moramos, na Província de Nampula, Distritos de Moma e Larde, é mais tranquilo sem maiores conflitos. A questão fundamental é o respeito pela vida, cultura e opção religiosa de cada povo. Os atendimentos à saúde, questões de acesso à água nos poços coletivos e nas escolas não tem diferenças. Há uma motivação dos cristãos cultivarem muito o respeito uns com os outros”, conta a missionária.
“Seguir neste trabalho é muito importante para mim e os missionários, onde podemos contribuir e motivar o povo Moçambicano e também buscar formas alternativas de Organização e assim contribuir para que a pobreza e a fome sejam amenizadas, especialmente com quem deseja se organizar de forma coletiva, participativa e autogestionária. Com os que desejam se organizar”, complementa.
Nesta segunda-feira, 30 de setembro, a missão em Moçambique com as Filhas do Amor Divino da Província Nossa Senhora da Anunciação do Sul do Brasil completa seu primeiro aniversário, contando com as presença de quatro irmãs. Em 2024, a missão coordenada pelo Regional Sul 3 da CNBB/RS completa 30 anos. A Regional Sul 3 conta com a presença de dois padres e um leigo. O Regional Sul 4, de Santa Catarina, participa a um ano com a presença de um padre.
Se você quer contribuir para a construção de um poço no Distrito de Moma, da Província de Nampula, onde mais de 500 famílias vivem sem acesso à agua potável, deposite qualquer valor no PIX CNPJ: 03.465.924/0001-51, Instituto Asa de Interesse Público - OSCIP ASA.
Irmã Lourdes com criança na missão (Todas as fotos desta entrevista são do acervo pessoal da Irmã Lourdes Dill)
Irmã Lourdes Dill, natural de São Paulo das Missões e integrante da congregação Filha do Amor Divino, tem 73 anos de idade, dos quais 47 na Congregação. Há 55 anos seguiu o chamado de Deus para a vida religiosa. Trabalhou em vários lugares do Brasil e por 35 anos em Santa Maria, no RS, onde foi parte da construção de um projeto vigoroso de Economia Solidária, Cooperativismo e Agricultura Familiar. Teve início com os Projetos Alternativos Comunitários - Pacs, onde a primeira experiência de Pesquisa foi coordenada pela Unisinos junto com a Caritas do Rio Grande do Sul. Foi vice-presidente da Caritas Brasileira durante quatro anos.
Quatro Irmãs formam a Comunidade Luz da Aurora: além de Irmã Lourdes, Irmã Ilca Welter, Irmã Maria Madalena Andrade e Irmã Rita Lori Finkler, todas Filhas do Amor Divino e todas do Rio Grande do Sul. A congregação está presente em três Continentes e 22 Países, com uma missão de 25 anos em Uganda, com quatro comunidades e muitas vocações.
IHU – Irmã Lourdes Dill, a senhora tem 55 anos de vida missionária e agora está na África. O que a motiva neste longo caminho?
Lourdes Dill – O que sempre me motivou foi o chamado de Deus para esta vocação que já senti desde os seis anos de idade. Fui dando a resposta e esta opção me comprometeu desde sempre a contribuir na construção do reino de Deus, na opção preferencial pelos mais pobres, contribuindo para que estes se tornem sujeitos participativos da sua autotransformação e no exercício da cidadania e inclusão social. Trata-se de seguir o exemplo do mestre Jesus no convite que faz aos chamados: "Vem e segue-me". Ao longo destes anos pude sentir e experimentar a força de Deus, o apoio da Igreja, da congregação, dos familiares e amigos para esta grande missão.
IHU – O que é e como é sua missão no continente africano?
Lourdes Dill – A minha e a nossa missão no continente Africano é bem diversificada. Somos uma comunidade de quatro irmãs Filhas do Amor Divino e nos revezamos para ir junto nas comunidades do interior. São duas Paróquias e quase 180 Comunidades onde ocorrem diferentes atividades pastorais em momentos específicos como, por exemplo, avaliação dos sacramentos dos catecúmenos e celebração dos sacramentos, atividades que acontecem por região e depois as visitas missionárias em cada comunidade onde mora o povo que vive em pequenas aldeias.
Além disso duas irmãs atendem o povo na saúde alternativa. Atendemos o reforço escolar com as crianças e mulheres, participamos das reuniões dos diferentes ministérios pastorais e a formação em vários níveis. Além destas atividades, ajudo a coordenar um trabalho específico das mulheres, onde realizamos atividades de Dia das mães, dos pais, da criança, o Dia mundial dos pobres, atividades que eles nunca haviam sido realizadas. Também encontros com a Juventude e jovens vocacionados nas comunidades.
Pessoalmente tenho uma ótima sintonia com as crianças que em qualquer lugar da rua pedem para parar e brincar. Brinco um pouco com eles, dou a benção e sigo adiante. Eles também dão a benção para a gente.
Este ano pela segunda vez que vou realizar com alguns jovens a “Roda de Conversa sobre o Natal”. Visitamos e abençoamos os doentes nas famílias. Também fizemos atividades importantes sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente numa escola de Ensino médio com mais de 1,5 mil alunos, começamos a germinar uma pequena semente sobre a Economia Popular Solidária, Economia de Francisco e Clara. Continuo participando e partilhando em lives sobre estes temas, bem como sobre cooperativismo e agricultura familiar, estes últimos sempre com alunos, organizações e acadêmicos de diferentes lugares. É a partilha do conhecimento acumulado em tantos e longos anos da vida e que merecem ser partilhados.
IHU – Com qual o público a senhora trabalha em Moçambique? Foi para algum outro país?
Lourdes Dill – O público com que trabalho e nossa Missão assumiu é este um pouco descrito na questão acima. São mulheres, jovens, crianças, lideranças e pessoas das comunidades onde participamos das visitas e da evangelização, mas também de muitas reuniões de diferentes conselhos, ministérios pastorais, entre outros, é um público bem diversificado.
Sim, quando da Missão em Santa Maria, no RS, participei de várias atividades em Portugal e nos países do Mercosul, especialmente Uruguai, Argentina, Paraguai, Chile e Venezuela, onde, em 2005, participei do Fórum Social Mundial e de um Congresso internacional da Caritas Latino-Americana.
Tive a alegria de fazer uma visita de peregrinação nos passos de nossa fundadora serva de Deus Madre Francisca Lechner, com mais três irmãs em 2017 para Itália, Áustria e Alemanha. Na oportunidade participamos da abertura do jubileu da Fundação dos 150 anos da nossa Congregação. Foi uma viagem muito importante para conhecer as origens da Congregação das Filhas do Amor Divino. Está última viagem para Itália, Áustria e Alemanha foi em 2018. Pude participar de oito Fóruns Sociais Mundiais que me ensinaram muito sobre os processos participativos e autogestionários numa visão transformadora.
IHU – Quais são os principais desafios de se trabalhar em um país com conflitos religiosos (de grupos associados ao Estado Islâmico) e com as guerrilhas?
Lourdes Dill – Sim, Moçambique assim como em outros países da África, há muitos e grandes conflitos entre muçulmanos e cristãos. Na região que nós moramos, na Província de Nampula, Distritos de Moma e Larde, é mais tranquilo sem maiores conflitos. A questão fundamental é o respeito pela vida, cultura e opção religiosa de cada povo. Os atendimentos à saúde, questões de acesso à água nos poços coletivos e nas escolas não tem diferenças. Há uma motivação dos cristãos cultivarem muito o respeito uns com os outros. Há, inclusive, casamentos mistos entre cristãos e muçulmanos. Porém cada caso é cuidadosamente estudado por uma equipe responsável da pastoral com critérios bem severos. Mas desde que chegamos aqui houve vários conflitos e mortes com muita violência em várias regiões de Moçambique.
Mapa (Mapa: bigkarta.ru)
IHU – O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, com super ricos e pessoas vivendo em situação de profunda miserabilidade. Mas como é a situação na região em que a senhora está atualmente, em Moçambique? Muito diferente da realidade periférica brasileira?
Lourdes Dill – Sim, o Brasil um país rico e com muitas oportunidades de terra fértil. Biomas, biodiversidade, um clima favorável para produção de alimentos e um povo hospitaleiro e trabalhador, que acolhe tantas culturas de diferentes lugares do mundo. O que não dá para entender é um pequeno grupo super rico e um grupo tão grande de pessoas e famílias muito pobres. O grande problema é a concentração de renda, terra e poder num pequeno grupo, de tal modo que muitos pobres ajudam gerar riquezas, mas depois não têm acesso a estes bens. A desigualdade social grita aos quatro cantos do país.
Moçambique é um país muito pobre apesar das riquezas naturais e ambientais. É um país de apenas 49 anos de independência, pois antes foi dominado por guerras, conflitos e dos países interessados somente em explorar as riquezas. Ainda há várias empresas que exploram as riquezas deste país. A diferença entre a pobreza do Brasil e Moçambique, na minha visão, é que o Brasil tem hoje novamente as políticas públicas para o campo e cidade. Os programas e auxílios governamentais, especialmente em nível federal e alguns municípios, ajudam a amenizar a pobreza, a fome e a miséria. Em Moçambique não existem políticas públicas e este tipo de programas para famílias mais pobres. A terra, a educação e a saúde estão sobre o domínio governamental. Também diferente do Brasil, que existem muitas organizações e movimentos sociais, aqui existem poucos e os que existem são frágeis e insuficientes por falta de apoio e recursos necessários.
A parte pastoral está muito bem-organizada em forma de 12 ministérios, atuação por regiões, zonas e as comunidades. Há uma grande e muito significativa participação dos leigos nos ministérios pastorais, pois logo após a guerra muitos missionários foram expulsos e outros fugiram. A pastoral foi praticamente assumida por leigos que contribuíram muito para que o povo não esmorecesse na sua Fé.
IHU – Durante 35 anos a senhora trabalhou com Economia Solidária em Santa Maria, no RS. Como foi esse trabalho que transformou a cidade na capital da América Latina da Economia Solidária?
Lourdes Dill – 35 anos bem vividos e bem trabalhados sempre de forma colegiada, participativa e autogestionária. Tudo que tem nesta bela história foi construído a muitas mãos no Projeto Esperança/Cooesperança, poder público nas três esferas municipal, estadual e federal. Muitos movimentos sociais e populares contribuíram, bem como as universidades, veículos de comunicação e um grande grupo de consumidores assíduos que ajudaram pela sua participação nas feiras e eventos. O papel da Caritas Brasileira e da Regional RS foram fundamentais nesta construção.
A história destas experiências se consolidou pelos 37 anos do Projeto Esperança/Cooesperança, 32 anos de Feirão Colonial e 30 anos da Feicoop. O papel das Políticas Públicas, os Fóruns Sociais Mundiais, os Conselhos de diferentes temáticas a Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES e a participação internacional dos diferentes países contribuíram para que esta vigorosa experiência hoje fosse conhecida em todo Brasil e em muitos outros países, especialmente na América Latina. Sou grata a Deus, à congregação das Filhas do Amor Divino, e à Medianeira, em cujo território está localizada esta bela experiência. Um agradecimento muito especial a Dom Ivo Lorscheiter de feliz memória que viveu 33 anos em Santa e foi um dos grandes e importantes mentores deste trabalho inovador. Gratidão também a Dom Hélio Adelar Rubert que sempre nos apoiou enquanto esteve à frente da Arquidiocese de Santa Maria.
Gratidão também ao grande grupo de professores e acadêmicos que nos ajudaram e continuam ajudando até hoje. Um agradecimento muito destacado à Misereor, entidade ligada à Igreja Católica que durante 30 anos de forma ininterrupta nos ajudou em parte da Construção deste projeto e foi através desta organização nos sentimos desafiados para buscar as Políticas Públicas no Brasil. E, por último, gratidão a todos os setores e pastorais sociais da Arquidiocese de Santa Maria, que nos apoiaram e participaram desta construção coletiva e deste Legado que fica para o presente e o futuro da Humanidade.
Um agradecimento a Dom Leomar Brustolim, que chegou há pouco, espero que possa continuar apoiando este importante trabalho valorizado e reconhecido em muitos lugares e merecido de dezenas de premiações.
IHU – O que da experiência em Santa Maria e no Brasil lhe ajuda em seu trabalho no continente africano? Que tipos de trânsitos de conhecimentos e práticas são possíveis nestas duas realidades?
Lourdes Dill – São duas experiências e realidades distintas, mesmo que no Brasil tenha também muita pobreza e desigualdade social, há as políticas públicas que contribuem para amenizar esta situação e motivam o povo a se organizar e buscar alternativas de trabalho pela Economia Popular Solidária, Agricultura Familiar, Cooperativismo, Economia de Francisco e Clara e tantas outras formas de organização no campo e na cidade com os vigorosos movimentos já existentes. O legado das experiências trazidas para Moçambique são um grande desafio.
O povo Africano gosta muito de cantar e animar as celebrações e outros momentos de encontros. Quanto a parte social é frágil, pois tem poucas organizações e a carência de políticas públicas. Estamos organizando pequenos grupos de mulheres e jovens para Machambas (lavouras comunitárias).
Um destaque também ao atendimento à saúde alternativa, que está sob o cuidado de duas irmãs e chegam na Missão centenas de pessoas por mês buscando ajuda. Já começamos um grupo vocacional e já tem dez meninas que participam dos encontros vocacionais uma vez por mês.
A grande expectativa é, com certeza, que aos poucos possamos contribuir aqui com o lastro das experiências trazidas e com o povo daqui que vive numa pobreza extrema, com o mínimo necessário. É um povo alegre e hospitaleiro que não se queixa de nada. Há um interesse muito grande em conhecer as experiências organizadas e bem-sucedidas no Brasil.
Seguir neste trabalho é muito importante para mim e os missionários, onde podemos contribuir e motivar o povo moçambicano e também buscar formas alternativas de Organização e assim contribuir para que a pobreza e a fome sejam amenizadas, especialmente com quem deseja se organizar de forma coletiva, participativa e autogestionária. Com os que desejam se organizar.
Irmãs Filhas do Amor Divino na Missão em Moçambique
IHU – O que lhe dá esperança e fortalece sua atuação em Moçambique? Por que seguir nesse trabalho é importante?
Lourdes Dill – A coragem, a profecia e a fé deste povo hospitaleiro e acolhedor me dá muita e grande esperança. Como em outros lugares do Brasil, e especialmente em Santa Maria, eu usava muito um sábio provérbio africano e agora estando na África posso afirmá-lo com mais convicção: “Muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da terra."
Para mim seguir este importante caminho faz parte de um plano traçado por Deus para este momento histórico e faz jus ao desejo que sempre tive de poder trabalhar numa missão na África. Agora chegou a vez e já se foi um ano de grandes aprendizados e inculturação, que tivemos a oportunidade de abrir horizontes em cursos preparatórios e também no dia a dia da vida e da missão.
IHU – Quais os principais desafios da população do povoado de Hauaua para acessar água potável?
Lourdes Dill – Um dos grandes desafios de Moçambique é acesso à água potável. Existem vários poços organizados pelo governo, pela Igreja e na nossa Missão temos um poço que muitas pessoas vêm buscar água todos os dias de balde carregados com 20 ou 40 litros de água, transportando-os na cabeça. A maioria são mulheres e crianças.
Sobre o caso específico de Hauaua, onde fizemos um grupo de voluntários, houve um grande encontro de mais 300 pessoas para escutar o clamor pela água. Naquela comunidade que faz parte do Distrito de Moma, da Província de Nampula, mais de 500 famílias buscam sua água na comunidade vizinha pois eles não têm poço. Eles saem na véspera de casa, muitas vezes os pais, as mães e filhos para ir na comunidade vizinha e colocar os seus baldes em uma fila quilométrica para pegar água no dia seguinte. A água para lavar roupa e tomar banho eles procuram pequenos riachos, que, com a época de seca, muitos estão secando. A água, a comida e a fome são grandes e enormes desafios, para este povo que caminha muito longe para buscar sua água para beber e fazer a comida. As crianças vão junto e todos carregam balde na cabeça e caminham muito longe para chegar em casa, cuja alimentação é mandioca crua ou caracata que é mandioca secada no sol.
Busca pela água em Moçambique
Busca pela água em Moçambique
IHU – A missão em Moçambique está realizando a campanha Uma Gota de Esperança. A senhora pode nos contar mais sobre o projeto?
Lourdes Dill – Esta campanha por uma gota d'água é muito importante e a divulgação no Instituto Humanitas Unisinos – IHU é igualmente fundamental. Se cada um contribuir será possível o milagre de conseguirmos fazer este poço artesiano na Comunidade de Hauhaua, distrito de Moma.
Gostaríamos muito de fazer o poço com ajuda de todos que puderem contribuir. Vocês podem ser protagonistas da primeira experiência de economia solidária através da gestão de um poço coletivo pois a gestão vai ser coletiva nós princípios da economia solidária. Qualquer valor para doação é bem-vindo, pois é a coletividade dos doadores que fará o milagre acontecer.
Doe através da chave PIX CNPJ: 03.465.924/0001-51, Instituto Asa de Interesse Público - OSCIP ASA.
IHU – A senhora que conhece as cicatrizes mais profundas da pobreza, saberia nos dizer como curar um mundo ferido pela ganância e domínio do Capital?
Lourdes Dill – Conheço muito de perto a pobreza extrema do Brasil e de Moçambique, onde mais da metade dos jovens não tem perspectiva de futuro e, tampouco, de realizar seus sonhos. Para curar esta grande chaga da fome, da miséria, do desemprego é preciso eliminar a ganância do acúmulo do capital na mão de uma pequena minoria dos mais ricos. É preciso criar consciência e uma grande força da partilha e da solidariedade. Há várias experiências bem-sucedidas no mundo pela Economia Popular Solidária, Agricultura Familiar, Reforma Agrária, entre outros.
Gostaria de destacar o projeto mundial que o Papa Francisco fez pela Economia de Francisco e nós acrescentamos no Brasil o que viria a ser a Economia de Francisco e Clara: para realmar as economias do mundo. Este projeto foi lançado ao mundo no dia 1º de maio de 2019 e está sendo bem aceito e vigorosamente crescendo no mundo. Nesta proposta entram todos os princípios e principais valores colocados acima.
Outro aspecto importante foi a publicação da Laudato Si e da Fratelli Tutti, que propõem para toda humanidade, o Cuidado com a Casa Comum, nosso planeta Terra, onde todos nós estamos apenas de passagem num tempo muito curto. Se todos formos protagonistas e multiplicadores nestas propostas, a mudança de nossas atitudes e relação com o consumo, muitas coisas hão de mudar. Todas estas propostas precisam ser amparadas e subsidiadas com políticas públicas, o que aqui em Moçambique, são praticamente inexistentes.
IHU – Deseja acrescentar algo?
Lourdes Dill – Por fim gostaria de agradecer a Deus o dom da vida, da vocação, da missão e da profecia a serviço do reino de Deus. Gratidão a todas as pessoas, organizações, amigos, familiares e a Congregação das Filhas do Amor Divino, que nos fizeram chegar a esta Missão em Moçambique, que completa seu primeiro ano de presença.
O povo de Moçambique, África, nos evangeliza. Com eles aprendemos muitas coisas, especialmente a fé vigorosa, alegria, resistência e a luta pela sobrevivência sem se queixar de nada, mas com gratidão a Deus por tudo e por todos.
Encerro com a bela frase do papa Francisco:
A seguir, confira outras imagem da missão que a Irmã Lourdes compartilhou conosco:
Missão em Moçambique
Missão em Moçambique
Missão em Moçambique
Missão em Moçambique