22 Junho 2021
Podem personalidades políticas católicas subir às honras dos altares, para se tornarem “beatos” e “santos” venerados pelos fiéis? A questão surge novamente depois que no sábado o papa autorizou a proclamação das "virtudes heroicas" de Robert Schuman, um dos pais do que viria a ser a União Europeia. Coloca-se assim na companhia de Alcide Degasperi, "servo de Deus" desde 1993. A questão surge porque é bastante difícil distinguir, nas pessoas públicas – sejam elas papas, reis ou responsáveis de grandes instituições – a piedade pessoal das escolhas políticas realizadas pelos indivíduos, que na época foram de maneiras variadas avaliados por seus contemporâneos, e ainda mais quando foi possível o acesso a documentos e arquivos.
O comentário é de Luigi Sandri, publicado por L'Adige, 21-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Schuman, nascido em Luxemburgo em 1886, tornou-se primeiro cidadão alemão e depois francês, foi feito prisioneiro pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, mas conseguiu escapar. Depois da guerra, ele ocupou cargos de alto nível em Paris, incluindo primeiro-ministro e ministro das Relações Exteriores; mas ele se impôs na Europa Ocidental sobretudo pela "Declaração Schuman", com a qual em 1950 propôs à Alemanha e aos demais países europeus para trabalharem juntos para aproximar os respectivos interesses econômicos. Ele estava convencido de que tal convergência tornaria a guerra "não apenas impensável, mas materialmente impossível".
Sobre essa onda - corroborada pelo apoio de Degasperi e Konrad Adenauer, chanceler da República Federal da Alemanha - nasceu finalmente, em 1951, a Comunidade Europeia do carvão e do aço, de interesse também da Bélgica, Luxemburgo e Holanda. Dois anos antes, Schuman e Degasperi também haviam apoiado fortemente a criação da OTAN (o Pacto Atlântico de defesa militar contra o "Pacto de Varsóvia" sob o guarda-chuva soviético): e grupos pacifistas católicos, naquela época e depois, discordaram dessa última escolha. Com etapas sucessivas, finalmente surgirá em 1993 a União Europeia com a qual aqueles estadistas haviam sonhado.
Aspectos políticos à parte, uma vez que uma pessoa católica falecida há anos é considerada pelas pessoas como modelo de virtude cristã, a diocese em que ela morreu faz um primeiro processo que, se bem sucedido, leva ao envio da "causa" a Roma. Aqui, constatadas a “heroicidade” das suas virtudes, começa um percurso que conduzirá à “beatificação”, quando se confirma uma cura cientificamente inexplicável devida à invocação do “venerável”; e depois a canonização, se ocorrer outra cura semelhante. Esse processo, caro (por causa das investigações a serem realizadas e pelas viagens das testemunhas convocadas ao Vaticano), acabou gerando - eventualmente - gastos pouco claros; portanto, Francisco decretou providências para eliminar escândalos. Robert e Alcide subirão às honras dos altares? Quem sabe. No aguardo, quem tiver interesse tem a oportunidade de avaliar o que fizeram pelos seus países, pela Europa e pelo mundo. Por outro lado, não é necessário ser "beatos" para viver com autenticidade o Evangelho.
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“Beatos” Schuman e Degasperi: é possível - Instituto Humanitas Unisinos - IHU