01 Outubro 2020
A investigação vaticana aponta que o dinheiro do Óbolo de São Pedro foi utilizado para a compra do palácio em Londres.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 01-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“A história que estamos presenciando entristeceu-nos profundamente. Esperamos que se esclareçam as coisas”. Esta foi a resposta dada ontem pelo secretário de Estado vaticano, Pietro Parolin, ao ser perguntado sobre o “escândalo Becciu”.
“Sinto por todos os envolvidos: para eles também é uma grande dor. Porém, esperamos que tudo seja esclarecido e que haja esta vontade de todos de seguir o Papa pelo caminho da correção e da transparência”, disse Parolin, como publica Avvenire.
O jornal da Conferência Episcopal Italiana (certamente relevante que entre nestas questões) faz eco da informação do jornal La Repubblica que revela certos pontos da investigação judicial vaticana que implica Becciu e seus colaboradores no uso de fundos fraudulentos reservado à Santa Sé para a compra do palácio na Sloane Square, em Londres.
O aval do Óbolo de São Pedro
No relatório, Avvenire diz que a responsabilidade de todo o ocorrido é da Secretaria de Estado, e não da AIF, que naquele momento não tinha faculdade alguma para supervisionar as ordens de Becciu. O jornal incide nas responsabilidades de Rafaelle Mincione e o corretor de negócios Gianluigi Torzi, investigados por lavagem de capitais e lavagem de dinheiro.
De acordo com os documentos acessados por La Repubblica, a compra do imóvel da discórdia foi financiada, em parte, com o dinheiro das doações de fiéis ao Óbolo de São Pedro. A investigação do promotor de justiça, Gian Piero Milano, e seu adjunto, Alessandro Diddi, aponta que “A Secretaria de Estado financiou a operação de Londres com a linha de crédito do Credit Suisse e do Banco da Suíça por 200 milhões de dólares, garantidos por bens de valor patrimonial da Secretaria de Estado e donativos do Óbolo de São Pedro”. La Repubblica estima o valor arrecadado com donativos em 24 milhões de euros.
A promotoria também questionou que o valor do imóvel tenha aumentado enormemente antes da compra, um aumento “que não parece encontrar razão econômica válida”. Como se não bastasse, a agência ANSA garantiu nesta terça-feira que outros investimentos imobiliários foram detectados em Londres por cerca de 110 milhões de euros que também envolvem Becciu.
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Parolin sobre o caso Becciu: “Esperamos que as coisas sejam esclarecidas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU