19 Junho 2015
Como afirma o Papa Francisco, não temos duas crises separadas, uma econômica e uma social, mas "uma única crise complexa, que é tanto social quanto ambiental". No entanto, não tratamos bem a nossa casa comum: essa é a mensagem central da encíclica. Quanto à terra, devemos pensar em nós mesmos como guardiães, em vez de proprietários; inquilinos de Deus, de fato.
A opinião é de Carolyn Woo, presidente da Catholic Relief Services, a agência humanitária internacional da comunidade católica dos Estados Unidos. O artigo foi publicado no jornal L'Osservatore Romano, 19-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto. O texto foi apresentado por Carolyn Woo, no dia de ontem, por ocasião da apresentação da Laudato si' no Vaticano.
Eis o texto.
A mensagem da encíclica Laudato si' para o mundo empresarial é de profunda esperança, porque vê o potencial do empreendedorismo como força para o bem, cujas ações podem servir para mitigar e pôr fim aos efeitos catastróficos acumulativos, agravantes e irreversíveis das mudanças climáticas produzidas pelas ações humanas.
A encíclica afirma que a atividade empresarial é uma nobre vocação, orientada a melhorar o mundo. Como diz o papa, pode ser fonte de prosperidade, "sobretudo se compreende que a criação de postos de trabalho é parte imprescindível do seu serviço ao bem comum". O Papa Francisco também deseja uma economia que favoreça "a diversificação produtiva e a criatividade empresarial". Fala especificamente do papel fundamental desempenhado pelas pequenas empresas, da importância da diversificação da produção, da necessidade de pôr um freio aos elementos monopolistas que limitam a liberdade econômica, além da necessidade do bom governo e do estado de direito. O empreendedorismo, portanto, tem um papel positivo, mas o mundo dos negócios deve pôr o bem comum em primeiro lugar.
Para evitar que haja a tentação de rejeitar a encíclica como desprovida de provas documentais, é bom notar o grande trabalho e a consultoria por parte das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais, e a exortação do Papa Francisco, segundo o qual "a ciência é o melhor instrumento por meio do qual podemos ouvir o grito da terra".
Um dos principais temas dessa encíclica é que toda a vida sobre este planeta está interconectada, ligada. A vida humana se fundamenta em três relações essenciais e conectadas entre si: com Deus, com o próximo e com a terra. Se uma dessas relações está danificada, então as outras também estão. Portanto, há uma conexão entre o modo como tratamos o planeta e o modo como tratamos os pobres.
Como afirma o Papa Francisco, não temos duas crises separadas, uma econômica e uma social, mas "uma única crise complexa, que é tanto social quanto ambiental". No entanto, não tratamos bem a nossa casa comum: essa é a mensagem central da encíclica.
Quanto à terra, devemos pensar em nós mesmos como guardiães, em vez de proprietários; inquilinos de Deus, de fato.
A encíclica faz referência ao conceito de "direitos comuns", ou seja, de bens tangíveis e intangíveis que pertencem a todo o gênero humano, através de todas as gerações, para a prosperidade humana. Exemplos disso são a água, o ar, a biodiversidade, a cultura, os materiais genéticos.
A encíclica fala da perda de biodiversidade, que muda para sempre o nosso ecossistema, e nos lembra que espécies diferentes não são meros recursos exploráveis pelos homens; elas têm um valor inerente em si mesmas e por si mesmas: "Cada criatura tem uma função, e nenhuma é supérflua". E o papa observou com razão que os interesses empresariais muito frequentemente não foram gentil com esses ecossistemas.
A resposta correta, segundo o Papa Francisco, é uma "conversão ecológica" autêntica, que inclua o empreendedorismo como parte da solução. O que isso significa concretamente? Olhando para a encíclica, significa adotar as virtudes da solidariedade e da sustentabilidade, orientadas ao bem comum e ao desenvolvimento autêntico de todos os povos.
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Inquilinos de Deus. Artigo de Carolyn Woo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU