Cardeal Pell: Não estou gastando dinheiro

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10 Novembro 2015

Na esteira da publicação de dois livros na Itália que trazem acusações de gastos excessivos e corrupção, a principal autoridade financeira vaticana rejeitou que o seu departamento esteja gastando além do orçamento previsto, insistindo que o meio milhão de euros gastos nos primeiros seis meses esteve relacionado com custos iniciais legítimos.

A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada por Crux, 05-11-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Uma nota emitida em nome do cardeal australiano George Pell, nomeado em fevereiro de 2014 pelo Papa Francisco para administrar a Secretaria para a Economia, afirmou na quinta-feira (5 de nov.) que o departamento de Pell é, na verdade, um dos poucos no Vaticano que se propuseram a gastar menos dinheiro em 2015 do que em 2014.

“Os livros lançados recentemente parecem ter incluído afirmações falsas, enganadoras sobre a gestão de gastos por parte do Cardeal Pell e sobre as despesas efetuadas pela Secretaria em 2014”, lê-se no texto divulgado.

“Para que não restem dúvidas sobre o compromisso do Cardeal Pell com a gestão e o controle dos custos”, continua o comunicado, “a Secretaria completou o ano bem abaixo do seu orçamento de 2014 e foi uma das poucas entidades a propor uma redução dos gastos totais em 2015”.

A nota foi uma resposta ao lançamento de dois livros escritos por jornalistas italianos que documentaram embaraços financeiros no Vaticano bem como tensões internas relacionadas à reforma encabeçada pelo Papa Francisco.

Os livros são: Avarizia, de Emiliano Fittipaldi, e Via Crucis (publicado em inglês sob o título “Merchants in the Temple”), de Gianluigi Nuzzi. O livro de Fittipaldi é particularmente crítico ao cardeal australiano.

Ele começa com uma cena em que um monsenhor inominado enumera o que considera uma série de contradições entre a reforma prometida por Francisco e a realidade interna, hoje, do Vaticano, incluindo a de que “Pell, por ele mesmo e seus amigos, gastaram meio milhão de euros em seis meses entre salários e roupas feitas sob medida”.

Na quinta-feira, o departamento liderado por Pell revidou com uma nota divulgada em inglês e italiano insistindo que os aproximadamente 540 mil euros gastos pela Secretaria para a Economia em 2014 justificam-se inteiramente.

Tal soma inclui cerca de 317 mil em salários e custos relacionados, segundo o texto divulgado, além dos os gastos iniciais com móveis e computadores.

Apesar dos rumores sobre haver gastos extravagantes em vestimentas litúrgicas e viagens de primeira classe, continua a nota, a realidade é bem diferente. Durante os noves meses em que existiu no ano de 2014, diz o texto, a Secretaria gastou somente 4.400,00 mil euros com viagens, “um valor consideravelmente menor do que muitas outras entidades”, e apenas 2.700,00 foram gastos com vestimentas e materiais para o altar visando ser possível celebrar missas diárias numa pequena capela.

A Secretaria ainda anexou uma declaração em separado emitida em fevereiro, quando acusações de gastos excessivos de Pell em materiais litúrgicos pessoais foram notícias na imprensa italiana. O anexo insiste que o prelado australiano nem mesmo possui uma “cappa magna”, capa volumosa frequentemente associada com a celebração da velha Missa Latina.

O balanço do meio milhão de euros gastos em 2014, segundo o comunicado de quinta-feira, deu-se em despesas relativas a acomodação para consultores que trabalhavam num projeto do Conselho dos Cardeais, grupo que assessora o papa.

O texto reconhece que a Secretaria arranjou um apartamento para um funcionário com contrato a longo prazo, sustentando que, ao assim fazer, ela estava, na verdade, barateando os custos na medida em que não precisaria pagar “hotéis caros” para suas estadas.

Desde a nomeação feita pelo Papa Francisco para ser o responsável pelas finanças vaticanas, Pell vem sendo um para-raios dentro do Vaticano.

Os admiradores dizem que o estilo às vezes abrasivo de Pell é necessário para persuadir um sistema relutante em mudar, enquanto que os críticos argumentam que ele, às vezes, defende a transparência e responsabilidade fiscal, mas atua em segredo e sem realizar consultas aos especialistas.

Esta ambivalência reflete-se nos novos livros também.

Nuzzi inclui Pell na “nova guarda” que compartilha a “política de Francisco por uma Igreja sem privilégios e ao lado dos pobres e necessitados”, enquanto Fittipaldi detalha acusações contra Pell relacionadas com uma superconcentração de poder em Roma e com a sua maneira de lidar nos escândalos de abusos sexuais cometidos pelo clero na Austrália.