18 Fevereiro 2015
O cardeal George Pell, prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, informou aos cardeais reunidos com o Papa Francisco sobre as finanças da Santa Sé.
Pell concedeu uma entrevista para Maria Antonietta Calabró, publicada pelo jornal Corriere della Sera, 14-02-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis a entrevista.
Cardeal Pell, ontem de manhã o senhor apresentou um relatório para Consistório com o Papa para ilustrar um ano de trabalho sobre as finanças. Os 186 cardeais estavam de acordo ou não?
Houve um verdadeiro entusiasmo. Posso dizer que o consenso foi geral, também se não a totalidade do consenso. Um cardeal bem conhecido me disse que foi um dia importantíssimo porque pela primeira vez todos receberam uma descrição completa, que nós acreditamos acurada, da situação econômica da Santa Sé, de minha parte, do cardeal Reinhard Marx, de Joseph Zahra e do presidente do Ior, Jean-Baptiste de Franssu. Até quatro meses atrás alguns queriam crer que de fato, isto é, seriamente, não teria mudado nada.
Portanto, resistências?
Se queremos utilizar uma terminologia “política”, os cardeais de todas as fileiras (esquerda, direita, centro) estiveram quase todos de acordo com este trabalho.
Quase todos? O cardeal Napier disse que algumas pesadas porções da Cúria fizeram resistência. Ele falou de Propaganda Fide...
Eu diria melhor que foi uma pequena porção da Cúria que fez uma tentativa de uma grande resistência. Certamente há alguns da Secretaria de Estado ou talvez do Governatorado que têm dúvidas substanciais sobre a reforma, mas até algumas semanas atrás houve uma forte cooperação de parte da Propaganda Fide.
As novas linhas-guia em matéria financeira servem para racionalizar?
Não só racionalidade e eficiência. Mas, honestidade e transparência. Para sermos claros: não se deve roubar e não se deve desperdiçar o dinheiro. Não queremos extravagâncias e desperdícios. Se fizermos bem as coisas, haverá mais dinheiro para o trabalho da Igreja e para ajudar os pobres e quem sofre.
O senhor afirmou que no Vaticano havia centenas de milhões extra-balanço...
Não eram fundos ilícitos ou ilegais. Mas a citação demonstra que não sou exagerado quando falo, porque escrevi sobre algumas centenas de milhões. Ao invés, ontem, no Consistório, expliquei que na data hodierna há 442 milhões de haveres adicionais nos dicastérios (que entrarão no balanço de 2015), e esses irão acrescentar-se aos 936 que já havíamos individuado num primeiro momento.
Quase um bilhão e quatrocentos milhões?
Sim. Direi que é algo de substancial. Estas informações nos foram enviadas e confirmaram que as cifras eram corretas. Ninguém conhecia o exato montante desses fundos. Também a Secretaria de Estado não sabia que não era a única a ter. apesar dos maus tempos, tanto dinheiro.
Os balanços da Santa Sé estão a salvo?
A Cosea (organismo de investigação, ndr) pôs em evidência que daqui a dez anos, para as pensões existe um déficit de 700-800 milhões. Considerando as flutuações das taxas de interesse, o déficit poderia ser ainda maior.
Em geral, há uma resistência às reformas do Papa? À subsidiaridade, à devolução à periferia, ao descentramento da Cúria?
Para discutir utilmente, é preciso dar algumas definições. O que significa subsidiaridade? Colegialidade? Comunhão? Apenas começamos a falar.
Resistências ou não?
No sistema de autoridade da Igreja há duas coisas de direito divino: o papel petrino (o Papa é o sucessor de Pedro), e o fato de que cada bispo é sucessor dos apóstolos. As conferências episcopais são muito úteis do ponto de vista organizacional, mas são algo sociológico. Um Concílio universal, ao invés, é outra coisa. Assim como as teologias são tantas e a doutrina é uma só. A Congregação da Doutrina da Fé será sempre essencial, porque é o instrumento primário do Sucessor de Pedro para manter uma sã doutrina.
O Ior como vai?
De Franssu vai bem e a direção é composta por pessoas de primeiríssima ordem, penso no Sir Michael Hintze, no chileno Mauricio Larrain, no italiano Carlo Salvatori que é bravíssimo...
O embaixador italiano junto à Santa Sé recordou que ainda há problemas financeiros com a Itália...
Resolveremos também isto, talvez não hoje, mas num futuro próximo.
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“No Vaticano 1,4 bilhões extra-balanço. Serve mais dinheiro para ajudar os pobres”. Entrevista com George Pell - Instituto Humanitas Unisinos - IHU