22 Abril 2015
Uma autêntica surpresa: não só pela época, que ninguém esperava tão próxima, mas principalmente pelos tons que alguns definem como “extraordinariamente conciliadores”. São mais que positivas, embora na variedade das nuances, as reações do mundo católico, em particular, mas não só americano, à notícia da conclusão do caso que via contrapostas as superioras maiores das religiosas estadunidenses aderentes à LCWR e à Congregação vaticana para a Doutrina da Fé.
“As nuvens tempestuosas desapareceram definitivamente” sintetiza Ann Carey. Sobre o mesmo comprimento da onda, primeira voz de religiosa, Irmã Joan Chittister que definiu o acordo “bastante civil e de tons equilibrados”, sublinhando com satisfação como a LCWR tenha, assim, mantido a própria autonomia.
A reportagem é de Maria Teresa Pondara Pederiva, publicada por Vatican Insider, 19-04-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
A maior parte da mídia – publicando a foto do encontro privado de 50 minutos entre as Irmãs delegadas e o Papa Francisco – chama atenção para aquela expressão da presidente LCWR, Irmã Sharon Holland que, embora não tendo estado presente à conferência de imprensa no Vaticano, havia declarado: “Descobrimos que é mais bonito aquilo que nos une do que aquilo que nos separa”. E é precisamente à senhora Holland, perita em direito canônico, por 21 anos em serviço junto à Congregação vaticana para a Vida consagrada, que é atribuído o mérito de um diálogo eficaz e uma mediação vencedora.
Mas, não se esquece do papel do arcebispo de Seattle, James Peter Sartain, na condução da comissão encarregada pelo Vaticano: um binômio que a longo termo produziu os frutos esperados, talvez bem além das expectativas, mas que, em todo caso, já estava “escrito nas estrelas”, acrescenta alguém. Porque, por trás dos bastidores, se imagina a vigilante atenção de Bergoglio, o Papa do Jubileu da Misericórdia que bem conhece as problemáticas das relações entre religiosos e Igreja institucional (estão disso mais que convencidos os seus coirmãos por voz de Francis Clooney, SJ da Harvard Divinity School).
Um dos comentaristas que não esconde sua satisfação é o do jesuíta-jornalista da revista América, o padre James Martin, que nestes três anos havia gasto energias em defesa as coirmãs das quais conhecia bem o serviço confutando também aquela notícia segundo a qual as Irmãs da LCWR teriam um número muito inferior de vocações em relação à outra organização de Irmãs mais “tradicionalistas” (“de 2009 até hoje, escreveu em 2012 ao anúncio da avaliação vaticana, há somente 73 postulantes ou noviças, tanto entre as Irmãs da LCWR como entre aquelas da CMSWR”). “Thank you, Sisters” (“Obrigado, Irmãs”), é o título do artigo, o primeiro além-mar.
“A LCWR continuará, e certamente continuará sendo uma voz poderosa na Igreja católica neste País”, porque tudo se joga naquele “delicado equilíbrio para os religiosos: a necessidade de ser fiéis à Igreja institucional e contemporaneamente ser fiéis à própria vocação à vida religiosa, além de o ser aos específicos carismas dos fundadores”.
E Martin, entre os sete motivos de satisfação, não transcura a dor que o caso havia trazido às coirmãs mais idosas, caídas no desconforto por falta de reconhecimento do serviço de uma vida inteira a serviço dos mais débeis. Mais destacadas, porque menos pessoalmente envolvidas, as análises de outros comentaristas que sublinham como o caso teria parecido à opinião pública quase como um conflito hollywoodiano entre os maus, machistas e retrógrados, da hierarquia da Igreja e as boas exuberantes Irmãs direcionadas ao futuro.
Na prática, como escreve o religioso britânico, frei Alexander Lucie-Smith, “às Irmãs foi reconhecida a patente de catolicidade, quase a descoberta da água quente”, porque não podia ser de outro modo, embora algumas posições tivessem criado motivo de escândalo em alguns setores eclesiais.
A descoberta que “o que une é mais do que aquilo que divide” seria mais própria a um encontro ecumênico, acrescenta Phil Lawler, e, no entanto, somente há três anos, visto o braço de ferro, nada era dado como certo. Não faltam sequer aqueles que esperavam algo a mais, como algumas organizações de tipo Call To Action ou Advocacy Nuns (que falam de “acusações grosseiramente injustificadas”).
A agência católica austríaca recorda os tons propriamente não conciliadores assumidos há somente um ano pelo prefeito, o cardeal Gerhard Ludwig Müller, que havia definido como “uma provocação” o prémio dado à teóloga Elizabeth Johnson, e outros observam como o caso se tenha encerrado precisamente na véspera da primeira visita aos USA do Papa Francisco, no próximo outono. Muitos sublinham, enfim, quanto ter-se-ia podido evitar (já o cardeal O’Malley, capuchinho, havia definido o caso no decurso de uma entrevista televisa como “um autêntico desastre”), em particular a falta de envolvimento dos bispos americanos.
“O que estava colocado em jogo era alto” – conclui o padre Martin - o caso envolveu a vida da Igreja e do povo de Deus. A indagação da Congregação para a Doutrina da Fé tinha implicações que iam bem além da LCWR e das questões ligadas à vida religiosa, porque estavam envolvidas questões de consciência e de fé que têm impacto, de diversos modos, em todos os âmbitos da Igreja. O empenho pelo diálogo, em particular sobre questões deste tipo, é certamente difícil e requer tempo, mas é, com toda probabilidade, uma das ações mais importantes que podemos empreender num momento no qual todo o mundo está envolvido com uma polarização das diferenças, e quando a Igreja está procurando ir além das próprias divisões internas, para dirigir-se às periferias. Ainda uma vez o efeito Francisco.
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O caso das Irmãs americanas. Mais uma vez o efeito Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU