Cardeal Burke: O “Relatio Synodi” é uma melhoria significativa em relação ao “Relatio post Disceptationem”

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21 Outubro 2014

Numa terceira e curta entrevista concedida por email à revista online Catholic World Report, o cardeal Raymond L. Burke, prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, oferece as suas impressões sobre a Relatio Synodi, fala do que pensa sobre os relatos segundo os quais o Sínodo foi um “revés” para o Papa Francisco e faz observações sobre as iniciativas de alguns bispos europeus de mudar alguns ensinamentos da Igreja.

A reportagem é de Carl E. Olson, publicada por The Catholic World Report, 19-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Eis a entrevista.

Quais as reações ou impressões o senhor tem a partir do Relatio Synodi? O senhor acha que este relatório fornece uma síntese e um relato precisos daquilo que o Sínodo debateu e manifestou nas intervenções e nos grupos?

Eu esperava que mais coisas daquilo tudo que falamos no pequeno grupo do qual fiz parte fossem incluídas na Relatio Synodi. Mesmo assim, este documento é uma melhoria significativa em relação à Relatio post Disceptationem que foi apresentado ao Sínodo na segunda-feira passada (13 de outubro). E, sim, eu diria que o texto final fornece uma síntese, se não precisa, pelo menos completa das discussões no plenário e nos pequenos grupos.

Nos meios seculares de comunicação, muitos estão apresentando este relatório como um golpe sofrido pelo Papa Francisco. Por exemplo, a BBC afirma: “No Sínodo, o Papa sofre um revés na questão dos gays”. A seu ver, esta análise da situação é justa, exata? Há realmente alguma evidência de que Santo Padre quisesse que o Sínodo fosse mais “aberto” aos que se identificam como gays/lésbicas, ou de que ele desejasse abrandar os ensinamentos da Igreja quanto à homossexualidade e às uniões homoafetivas?

Foi um revés para aqueles que escreveram matérias que não refletem os ensinamentos da Igreja quanto à condição homossexual e aos atos homossexuais, os quais implicam que a Igreja quer, agora, relaxar os seus ensinamentos perenes; foi um revés para aqueles que tentaram introduzir assuntos com respeito às assim-chamadas “uniões homoafetivas” dentro da discussão do matrimônio cristão. Eu não tenho nenhuma evidência quanto ao que pensa o Papa sobre este assunto ou em relação ao seu suposto apoio ao abrandamento dos ensinamentos da Igreja.

Há uma impressão generalizada de que certos bispos europeus têm a intenção de alterar os ensinamentos da Igreja quanto à homossexualidade, às uniões homossexuais, ao matrimônio e Comunhão, à contracepção e outras questões relacionadas. O senhor acha esta impressão razoável? Se sim, o que subjaz uma tal agenda, em sua opinião?

A impressão é razoável, sim, na medida em que se limita a certos bispos europeus, porque outros inúmeros bispos europeus foram claros e incisivos em defender os ensinamentos da Igreja relativos a todas estas questões. O cardeal Walter Kasper vem sendo o mais destacado apoiador destas mudanças da disciplina da Igreja em tais assuntos, até mesmo quanto ele insiste que não está propondo uma alteração nos ensinamentos.

É claro, na Igreja Católica a disciplina dela é o espelho de sua doutrina e, portanto, não podemos defender os ensinamentos da Igreja ao mesmo tempo propondo uma disciplina contrária a eles, os ensinamentos.

A meu juízo, subjaz a esta agenda uma falsa noção da relação fé/cultura. Aqueles que defendem esta agenda geralmente descrevem, em detalhes, todos os aspectos trágicos da total secularização da cultura e, em seguida, propõem que a Igreja tem que mudar a sua linguagem e disciplina a fim de considerar as mudanças radicais na cultura.

Por exemplo, um prelado fez o comentário de que, se a exortação apostólica sobre a família Familiaris Consortio de São João Paulo II já tem cerca de 30 anos, então este documento não é mais adequado para abordarmos a nossa situação. Porém a Familiaris Consortio apresenta um ensinamento perene da Igreja e que é, portanto, tão pertinente à situação atual quanto o foi na década de 1980.

Uma visão correta da relação fé/cultura tenta ver como a Igreja pode chamar a atenção, de maneira mais eficaz (ou seja, de forma mais clara e incisiva), às verdades imutáveis da fé (ou religião) para a presente situação.

Frequentemente, uma hermenêutica deficiente que foi aplicada aos ensinamentos do Concílio Ecumênico Vaticano II – afirmando seguir o assim-chamado “espírito do Concílio”, enunciado no discurso de São João XXIIIGaudet Mater Ecclesia”, na abertura do evento em 11 de outubro de 1962 – é usada para justificar esta falsa noção.

Esta falsa noção da relação entre fé e cultura deve ser abordada intensamente para se deter a propagação de uma confusão mais prejudicial.