O silêncio do primeiro-ministro israelense frente ao convite do Papa para o diálogo

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: Jonas | 10 Junho 2014

Que a oração tudo pode é um convencimento que o papa Francisco ainda não conseguiu imprimir nos negociadores palestinos e israelenses, cujas relações são nulas desde que Israel se afastou do processo de paz, em razão da integração do grupo islamista Hamas no Governo palestino.

A reportagem é de Carmen Rengel, publicada por El País, 08-06-2014. A tradução é do Cepat.

Contudo, uma coisa é se iludir com um gesto que qualificam como “importante”, “simbólico” e “emotivo”, que inaugura uma nova sede de diálogo, distante da tradicional Casa Branca, desgastada, e outra que os adversários percebam o encontro de Roma como um passo firme para o entendimento.  Nos dois lados da Linha Verde vence o realismo e morre a utopia. “Ninguém pensa na paz”, reconhece um assessor do chefe de Estado, Simon Peres. No gabinete do presidente palestino, Mahmud Abbas, acenam lhe dando a razão.

 
Fonte: http://goo.gl/sa3ifI  

Peres tem um papel institucional, não de gestão. Aí está a primeira fragilidade do encontro: a falta do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu (foto), que é aquele que realmente tem que levar as rédeas de um hipotético processo de negociação, que decide o que se exige e no que se cede. O Papa o deixou conscientemente à margem do ato. “Realmente, não enxergamos Netanyahu orando, em harmonia, com Abbas”, disse com moderação um alto representante do Patriarcado Latino de Jerusalém, após Francisco anunciar o encontro em sua missa de Belém, no último dia 25 de maio.

O primeiro-ministro se manteve absolutamente à margem do encontro. Não fez nenhum comentário a respeito. Na manhã de ontem, em sua declaração após o Conselho de Ministros semanal, também não fez alusão alguma. Seus assessores insistem em que respeita o ato como um “gesto generoso” de Francisco, mas o rejeita pela contrapartida: o discurso, desde o último dia 23 de abril, quando as facções palestinas se comprometeram em criar um Governo de unidade – apresentado formalmente na última segunda-feira –, é o de que não se pode negociar, nem falar e nem rezar com Abbas, agora parceiro do Hamas e da Jihad Islâmica, “terroristas que buscam a destruição de Israel e de seu povo”. Nenhum dos dois grupos reconhece o direito de Israel de existir em paz.

Peres está a ponto de deixar a presidência de Israel e empenhado em “deixar uma herança de paz sobre a qual construir o fim do conflito”. Não teve nenhum escrúpulo em se ver com o “demônio palestino”, como o denominou, nesses dias, a Casa Judaica, segundo partido que mais deputados cede a Netanyahu para que se mantenha no poder. A imprensa local fala de “golpe baixo” ao primeiro-ministro.

Xavier Abu Eid, porta-voz da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), reconhece que o “gesto” do Vaticano é “louvável”, mas como este “são necessários muitos mais”, até se alcançar uma solução para os dois estados e, com ela, a paz. “Não há brancos e negros nesta terra, não podemos dizer que trará a paz ou que não servirá para nada. É uma nova janela, com o acréscimo de que agora o Papa conhece a Terra Santa e sabe das necessidades de sua gente”, explica, fazendo referência à visita de Bergoglio, no final de maior, a Jordânia, territórios palestinos e Israel.

Abu Eid denuncia que, nestes dias prévios, existiram “tentativas de boicote” à oração, porque se algo fica evidente é “o quanto Netanyahu está isolado”, sendo que até Peres diz sim para se encontrar com Abbas e estender a sua mão. “Não acreditamos que a palavra seja se enternecer, não está em seu vocabulário, mas esperamos que a foto que surja de Roma ajude Netanyahu a buscar a voz da razão sobre a necessidade de uma paz baseada na justiça. Esta é uma terra de milagres, mas não acreditamos que ocorra outro, quando nesse meio há um político que fundamenta sua política na ocupação”, denuncia.

Em Israel e nos territórios palestinos se coloca o acento, além disso, no consolo de que, uma vez que a iniciativa não é realmente política, nem prediz, portanto, outro processo de negociação como o que se encerrou em abril, após nove meses de infrutuoso trabalho, ao menos se tente evidenciar que a religião pode ser um ponto de encontro, mais do que de atrito. O conflito é essencialmente político, mas a fé, especialmente a briga pelos santos lugares em Jerusalém, sempre acrescentou lenha na fogueira.