Por: Caroline | 13 Fevereiro 2014
A crise na Síria, o diálogo com a China, o papel das comissões referentes e a reforma da Cúria, são alguns dos temas abordados ao longo da entrevista dada pelo Secretário de Estado, Pietro Parolin (foto), ao jornal católico italiano “Avvenire”.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 09-02-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/LdKI12 |
“O Papa é o primeiro ‘agente diplomático’ da Santa Sé. Somos testemunhas da forma vigorosa com que ele assumiu tal papel em meio à crise na Síria. Por isso tornou-se um interlocutor muito procurado e autorizado a nível mundial”, afirma Pietro Parolin, Secretário de Estado, em uma entrevista publicada no jornal “Avvenire”. Parolin, que será ordenado cardeal dentro de poucos dias, fala sobre a situação internacional, sobre a reforma da Cúria, sobre o papel das comissões referentes, sobre o “Vatileaks” e sobre a “conversão pastoral” que o Papa Francisco pediu a toda a Igreja.
“As tarefa e os objetivos da diplomacia pontifícia – explica Parolin – foram indicados pelo Papa durante o primeiro encontro com os embaixadores acreditados juntos a Santa Sé, em março de 2013, são eles: construir pontes (no sentido de promover o diálogo e a negociação como meio para solucionar os conflitos); difundir a fraternidade; lutar contra a pobreza; edificar a paz. Não existem outros ‘interesses’ ou ‘estratégias’ do Papa, nem de seus representantes que atuam no cenário internacional... Em um mundo plural que, além de tudo, está sob risco da fragmentação, a diplomacia vaticana pode e deve se colocar ao lado dos homens e dos povos, para ajudá-los a perceberem que suas diferenças são uma riqueza e um recurso, e para contribuir para que resolvam tais diferenças, o mais harmoniosamente possível, na construção de um mundo humano e fraterno, em que haverá lugar para todos, sobretudo para os mais fracos e vulneráveis”.
O principal colaborador de Francisco na Santa Sé afirma na entrevista que a reforma da Cúria tem como objetivo torná-la um “instrumento ágil, menos burocrático e mais eficaz, a serviço da comunhão e da missão da Igreja no mundo de hoje, que se transformou profundamente em relação ao seu passado. Um instrumento a serviço do Papa e dos bispos, da Igreja universal e das Igrejas particulares”. Parolin reconhece que “não basta apenas uma reforma das estruturas, que deve ser realizada, ela deve ser acompanhada de uma permanente conversão pessoal”.
Em outro âmbito, as palavras que o Secretário de Estado dedica às comissões referentes (que se ocupam do Instituto para as Obras de Religião - IOR - e das estruturas econômico-administrativas da Santa Sé) são muito significativas: “Seus papéis e suas funções são aquelas definidas em seu devido contexto, através do documento através do qual foram instituídas. Da minha parte, advirto que tais comissões têm um mandato limitado no tempo e um caráter ‘referente’, isto é, sua finalidade consiste em submeter ao Papa e ao Conselho dos oito cardeais, as sugestões e propostas no âmbito de suas competências”. De modo que não se configuram como um “contrapeso” em relação à Cúria e cujo mandato está por terminar.
Em relação ao caso “Vatileaks”, Parolim afirma: “Esse foi um fato muito doloroso e espero, de todo o meu coração, que tenha ficado definitivamente no passado. A lição? Os eventos trouxeram um sofrimento injusto para o Papa Bento XVI e para muitas outras pessoas também, escandalizou a muita gente e causou danos, que não foram poucos, a causa de Cristo. Acredito que os eventos em questão não devem deixar de nos questionar sobre nossa finalidade com o Evangelho”. Entretanto, ao mesmo tempo (referindo-se a forma pela qual recorrentemente a Cúria romana é representada), acrescenta: “É motivo de uma sincera contrariedade quando, com pinceladas que considero demasiadamente apressadas e violentas, apresentam uma imagem exclusivamente negativa da Cúria como lugar em que prevalecem conspirações e jogos de poder. Devemos, por outro lado, trabalhar duro para sermos mais humanos, mais acolhedores, mais evangélicos, como nos quer o Papa Francisco”.
A respeito da IOR, o Secretario de Estado explicou: “Não falo sobre as soluções técnicas, que ainda estão sob análise, mas o que deve ser destacado são os aspectos da transparência e de adequação para a normativa internacional, que devem delinear o perfil da IOR. Também quero destacar que muito foi feito neste sentido, segundo as indicações de Papa Francisco, e que continuará com esta determinação na mesma direção, para que a gestão do dinheiro e das atividades de natureza econômica e financeira, orientadas para as necessidades da vida e da missão da Igreja, estejam impregnadas dos princípios do Evangelho”.
Parolin também falou sobre a situação da Síria: “A primeira parte da Conferência de Genebra 2, cuja inauguração em Montreux, na Suíça, teve participação da Santa Sé, foi concluída, infelizmente, sem resultados concretos, como declarou o mediador Lakhdar Brahimi. Apesar disso, não perdeu-se o valor das indicações, expressadas pela mesma Santa Sé, como práxis de um “Road map” realista para o fim do conflito e para a edificação de uma paz duradoura: o fim imediato da violência, o início da reconstrução, o diálogo entre as comunidades, os progressos na resolução dos conflitos regionais e a participação de todos os atores locais e globais no processo de paz em Genebra 2. O fato de que as duas partes na luta tenham conversado pela primeira vez em três anos é certamente um sinal positivo. Todavia é necessário que cresça a confiança recíproca e a vontade política de encontrar uma solução negociada”.
Sobre as “primaveras árabes”, explica: “Fenômeno complexo o das primaveras árabes, que, infelizmente, não conseguiu alcançar seus objetivos por uma maior democracia e justiça social, que pareciam ser seus motivos de inspiração. Contudo, é lícito perguntar o quanto contribuiu para este fracasso, a nível da comunidade internacional, a busca de interesses econômicos e geopolíticos particulares”.
Após afirmar que “a situação dos cristãos no Oriente Médio é uma das grandes preocupações da Santa Sé”, Parolim deu a entender que é necessário algum tempo para alcançar o acordo econômico e financeiro com Israel: “Claro, a próxima viagem do Papa Francisco à Terra Santa constituirá uma etapa que estará mais próxima a sua marca. Trata-se de resolver algumas questões burocráticas que ainda necessitam de tempo”.
Parolin também retoma as acusações dirigidas ao Papa por seu suposto “marxismo”: “Pode-se não estar de acordo com as afirmações do papa que o dinheiro deve servir e não governar? É marxismo exortar a solidariedade desinteressada e o regresso da econômica e da finança para uma ética a favor do ser humano?”.
Em relação à China, o Secretário de Estado explica: “A Santa Sé vê com muita simpatia o grande país que é a China e seu povo. Recentemente, também na China, são perceptíveis os sinais da renovada atenção para a Santa Sé, relacionadas com a eleição de Papa Francisco, um Papa que, entre outras coisas, é confrade de Matteo Ricci. Esperamos vivamente que aumente a confiança e a compreensão entre as partes e que isto possa se concretizar na retomada de um diálogo construtivo com as autoridades políticas, mesmo que isto já tenha sido desenhado pela Santa Sé e no que insistiu Papa Bento XVI, na carta de 2007 aos católicos chineses”.
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O “road map” do Secretário de Estado do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU