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Por: André | 26 Fevereiro 2013

Hugo Chávez deixou a capital, mas seu espírito parece que continua rondando entre Miramar e Havana Velha, entre o Malecón e Marianao. Os cubanos continuam atentos à sua saúde. Nota-se isso nas ruas e na televisão, em certos atos da concorrida Feira do Livro e no fato de que o petróleo não parece ser um problema grave. O transporte é bastante mais adequado e frequente que em pleno período especial. Há carros e camionetas modernos que usam gasolina refinada, assim como também “almendrones” (os Buicks ou Chevrolet do final dos anos 1950) abastecidos com um combustível de qualidade inferior. Observa-se ônibus de linha bem cuidados que há tempo substituíram os curiosos camelos (um híbrido entre caminhão e ônibus).

A reportagem é de Gustavo Veiga e está publicada no jornal argentino Página/12, 25-02-2013. A tradução é do Cepat.

Os jornalistas venezuelanos que participaram de um Congresso de Redes Sociais no Palácio das Convenções comprovaram in situ porque o seu presidente e o seu país interessam tanto: o líder bolivariano é um aliado estratégico da Revolução, mas, além disso, um amigo próximo de Fidel e Raúl Castro. O genro de Chávez, o ministro de Ciências e Tecnologia, Jorge Arreaza, havia se dado o gosto de mostrar os primeiros indícios de sua recuperação quando divulgou aquelas três fotografias que percorreram o mundo: em uma, seu sogro sorria deitado, ladeado por duas de suas filhas (está casado com Rosa Virginia); e nas restantes lia o jornal Granma, onde se via um artigo sobre José Martí.

Os blogueiros chavistas têm pontos de contato com os defensores da Revolução Cubana, que existem e fizeram um encontro em Matanzas em 2012, embora estejam invisibilizados – são ao menos 500 – ou eclipsados por Yoani Sánchez, que parece a única voz plausível para os adversários do governo cubano. Um deles, Iroel Sánchez, acaba de apresentar seu livro “Suspeitas e dissidências”, com grande audiência na Feira do Livro.

Na construção de sentido, do fato noticioso, disputa-se quadra por quadra do espaço virtual. Em torno das fotos de Chávez (inclusive a apócrifa publicada pelo jornal El País) livrou-se o último combate entre a imprensa estatal, que defende o venezuelano, e seus detratores da Globovisión. Era de se ver como os partidários do presidente aguardavam notícias sobre sua doença. Arreaza denunciava a “necrofilia jornalística” e defendia que seu líder “está tomando decisões em nível familiar e governamental”. Quando se derreteu em elogios à equipe médica do presidente, não perdeu a oportunidade para agradecer a Fidel Castro, a seu irmão Raúl e ao povo cubano tanta hospitalidade expressada em grafites e cartazes seu apoio ao venezuelano.

Percebe-se isso nas ruas desta capital. No Paseo Prado, em frente ao Hotel Inglaterra de Havana Velha, um ex-combatente de Praia Girón, com 85 anos, o corpo encurvado e a tosse seca de fumante, está sentado na praça com várias mensagens escritas a mão em cartolina branca: “Deus disse que Fidel e Chávez são grandes humanistas”, escreveu em um. E acrescenta que daria a vida pelos comandantes.

Arreaza, contam seus compatriotas aqui, costumava viajar quase todas as semanas para acompanhar sua esposa durante a longa convalescença do chefe bolivariano. Esse não foi o único sinal de presença venezuelana na ilha maior das Antilhas durante este verão. No Congresso sobre Redes Sociais, organizado pela área de imprensa da Chancelaria cubana, houve mais uma: a “Apresentação especial sobre as campanhas midiáticas contra a Venezuela”.

Na Venezuela trava-se uma batalha na mídia cujas faíscas continuam chegando em Cuba. A Telesur a ilustra em detalhe. Não é para menos. Chávez permaneceu na ilha desde a sua cirurgia, em 11 de dezembro até o dia 18 deste mês. Nicolás Maduro, o vice-presidente que o substitui no cargo, fustiga a oposição porque só “tem desprezo e ódio”. O ex-candidato a presidente Henrique Capriles Radonski queixou-se dos “dirigentes do governo que não foram eleitos e que todos os dias aparecem na televisão com uma versão diferente” sobre a saúde do líder.

Em um dia chuvoso e fresco Chávez reapareceu em Havana, onde sempre se sentiu contido. Agora descansa em Caracas, longe dos bicitaxis e das buzinas que soam com estrépito na Cidade Velha. Seu rosto sorridente colocou em situação incômoda os seus adversários, mesmo quando era visto ainda repousando em sua cama. Em Cuba, está claro, acompanham minuciosamente a evolução de sua saúde. Embora tenha partido, é como se ainda estivesse aqui. Na Feira do Livro, que terminou no domingo na Fortaleza San Carlos de la Cabaña, houve atos sobre Venezuela e Chávez, embora este ano o país convidado tenha sido outro velho aliado, a Angola. No sábado, realizou-se um Conversatório (assim chamam as conversas aqui) denominado “Conquistas culturais da Revolução Bolivariana”.