Por: André | 28 Novembro 2012
Os “tradicionalistas” deveriam estudar mais o latim, porque muitos deles buscam com força voltar à liturgia antiga embora sem conhecer passagens fundamentais da língua oficial da Igreja católica. Crítica afiada do presidente do Pontifício Conselho da Cultura do Vaticano, Gianfranco Ravasi, com a qual deixou claro que a Pontifícia Academia da Latinidade – recém criada por Bento XVI – não é um regresso sem sentido ao passado, ao obsoleto.
A reportagem é de Andrés Beltramo Álvarez e está publicada no sítio Vatican Insider, 26-11-2012. A tradução é do Cepat.
Instituída no dia 10 de novembro com a carta apostólica “Latina Língua”, a academia tem como objetivo principal “oferecer um conhecimento maior e um uso mais competente da língua latina, tanto no âmbito eclesial como no mais vasto mundo da cultura”. Em entrevista ao Vatican Insider, o próprio Ravasi explicou os alcances reais desta iniciativa.
Eis a entrevista.
Qual é o significado da criação desta Pontifícia Academia Latinitatis?
Não queremos somente recuperar a grande herança do passado composta de cultura, literatura, pensamento, teologia e filosofia expressada em latim, queremos que o latim retorne, sobretudo, aos seminários, para que os seminaristas possam ter a possibilidade de compreender no texto original os documentos fundamentais e talvez alguma página dos padres da Igreja. Por outro lado, queremos também que nas escolas de todos os países do mundo o latim seja recuperado, porque permite compreender a cultura contemporânea já que sua estrutura – embora conhecida em seus componentes básicos – é uma ajuda para bem pensar, refletir e raciocinar com qualidade.
Como evitar que isto seja considerado como um exercício que busca voltar ao velho, ao obsoleto?
Acima de tudo, comecemos por pedir aos chamados “tradicionalistas” que voltem a estudar o latim, porque muitas vezes eles querem que as missas sejam em latim, mas provavelmente conhecem pouco a língua. Tive a experiência com alguns que, apesar de celebrar com força o rito da missa ou da liturgia em latim, não conseguiam decifrar alguns pontos precisos da língua.
Como é evidente, a cultura ocidental, sobretudo aquela dos idiomas europeus mediterrâneos, foi fundada sobre o latim. Algo similar ocorre com o direito e a linguagem científica, ainda hoje os nomes dos fármacos, por exemplo, derivam dessa língua morta. A cultura nobre em geral tem necessidade do latim para compreender o significado profundo de algumas palavras da própria linguagem. Mas, sobretudo, o latim pode estimular a usar muito mais a racionalidade.
Esta Academia substituirá a fundação vaticana Latinitas, que na realidade não funcionava há anos. Como evitar que esta nova iniciativa se perca como a anterior?
Essa era um pequeno cenáculo que buscava reverdecer o uso do latim, mas a utilização prática desta língua é apenas funcional a algumas questões específicas. Não se pode falar em latim, está morto como língua. Pode-se aplicá-lo ainda para algumas formulações, diversas expressões ou como língua solene da Igreja, em algumas ocasiões.
De maneira particular devemos recordar que esta Academia será constituída por acadêmicos procedentes de todo o mundo, que falam diversos idiomas, da Austrália, Estados Unidos ou Canadá. Serão tantas chamas espalhadas que querem propor novamente o passado e seus valores.
Então, o objetivo principal da Academia não é o uso frequente do latim?
Algumas vezes se poderá fazer, especialmente em nível didático. Sempre com a finalidade de aprender, mediante esta língua, um modo de pensar com rigor.