Por: Jonas | 01 Setembro 2012
"Foveatur língua latina". O papa Ratzinger pretende que se aumente o conhecimento da língua de Cícero, de Agostinho e de Erasmo de Roterdã no âmbito da Igreja, como também na sociedade civil e na escola. Por isso, está para publicar um “motu próprio” em que se institui a nova Pontifícia Academia Latinitatis. Até agora, quem se ocupava de manter vivo o latim era a fundação “Latinitas”, que está sob a tutela da Secretaria de Estado e que desaparecerá. Além de publicar a homônima revista e de organizar o concurso internacional “Certamen Vaticanum” de poesia e prosa latina, esta fundação se ocupou de traduzir para o latim um enorme corpo de termos modernos.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 31-08-2012. A tradução é do Cepat.
A iminente instituição da nova Academia Pontifícia, que será acrescida as onze já existentes (entre as que estão as mais famosas, dedicada às ciências e à vida) foi confirmada em uma carta que o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura, enviou a Romano Nicolini, um sacerdote de Rimini comprometido com a volta das aulas de latim nas escolas secundárias italianas.
Ravasi recordou que a iniciativa da Academia é um desejo “do Santo Padre” e que será promovida pelo dicastério vaticano que se ocupa da cultura. Farão parte dela “eminentes estudiosos de diferentes nacionalidades, com a finalidade de promover o uso e o conhecimento da língua latina, tanto no âmbito eclesiástico como no âmbito civil e, portanto, escolar”. Uma forma de responder, conclui o cardeal em sua carta, “numerosos pedidos que nos chegam de diferentes partes do mundo”.
Passaram-se 50 anos, desde que João XXIII, no limiar do Concílio, promulgou a constituição apostólica “Veterun Sapientia” para definir o latim como língua imutável da Igreja e sublinhar sua importância, pedindo às escolas e universidades católicas que voltassem a incluir, caso tivessem cancelado ou reduzido nos programas escolares. O Vaticano II havia estabelecido que cultivaria o latim em algumas partes da missa, mas a reforma litúrgica pós-conciliar aboliu todos os seus rastros no uso comum. Assim, se cinquenta anos atrás os prelados de todo o mundo conseguiram se entender falando o idioma de César, e os fiéis mantinham um contato semanal com ele, hoje na Igreja o latim não goza de boa saúde; e são muitos setores leigos os que mostram interesse para promover esta iniciativa.
De qualquer forma, no Vaticano continuam trabalhando os estudiosos que propõem neologismos para traduzir as encíclicas papais e os documentos oficiais. Um trabalho bastante árduo foi a tradução, para o latim, da última encíclica de Bento XVI, a “Caritas in veritate” (julho de 2009), dedicada às emergências sociais e à crise econômica financeira. Algumas decisões dos latinistas da Santa Sé foram criticadas pela “La Civiltà Cattolica”, a prestigiada revista dos jesuítas que considerou discutíveis as traduções de alguns termos, como “delocalizatio”, “anticonceptio” ou “sterilizatio”, mas que também apreciou as traduções “plenior libertas” para libertação e “fanaticus furor” para fanatismo. Entre as curiosidades, as expressões “fontes alterius generis” para traduzir fontes alternativas e “fontes energiae qui non renovantur” para recursos energéticos não renováveis.
A decisão do Papa, de instituir uma nova Pontifícia Academia, é um sinal muito significativo de constante atenção. “O latim educa para estimar as coisas belas – explica Nicolini, que distribuiu 10 mil cópias de um folheto gratuito, de introdução à língua latina, nas escolas secundárias italianas, e que está difundindo o convite para que volte a circular entre as matérias escolares – e também nos educa para dar importância às nossas raízes”.
Entre os que se ocupam em renovar o léxico latino, para poder comunicar em nossos dias usando a língua de Virgilio, está o senhor Roberto Spataro, de 47 anos, professor de Literatura Cristã Antiga e secretário do Pontificium Institutum Altioris Latinitatis, instituído por Paulo VI na atual Universidade Pontifícia Salesiana de Roma. “Como traduziria “corvo”? Esperava-me esta pergunta... Bem... diria: ‘domesticus delator’ ou ‘intestinus proditor’”, responde o sacerdote. Também explica como nascem os neologismos latinos: “Existem duas correntes de pensamento. A primeira, que poderia se definir “anglo-saxônica”, considera que antes de criar um neologismo, para traduzir palavras modernas, é preciso buscar entre tudo o que se escreveu em latim ao longo dos séculos, e não apenas no latim clássico. A outra corrente, que por comodidade definirei “latina”, considera que podemos ser mais livres ao criar uma circunlocução que transmita bem a ideia e o significado da palavra moderna, mas mantendo o sabor do latim clássico ciceroniano”.