13 Setembro 2011
Na lembrança do 11 de setembro de 2011, inicia um importante encontro inter-religioso promovido pela Comunidade de Santo Egídio.
A reportagem é de Lisa Palmieri Billig, publicada no sítio Religión Digital, 11-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto os chefes de Estado, os ministros de Relações Exteriores e estrategistas econômicos e políticos esquentam os assentos em consultas privadas e dão declarações públicas que disparam os mercados de ações, convertendo-os em uma montanha russa, uma comunidade católica internacional está trabalhando para fazer a diferença.
Ao contrário dos métodos utilizados pelos representantes seculares, que não se consultam com os líderes espirituais, os membros da Comunidade de Santo Egídio consideram que a busca da paz deve incluir todos os setores da sociedade, tanto crentes quanto não crentes. O ex-presidente de Portugal, Mario Soares, e o ex-presidente soviético, Gorbachev – a quem os jornalistas agnósticos e ateus definiram como "pessoas de boa vontade" – estão entre os convidados que participam das reuniões internacionais.
Nascido em 1968 como uma ramificação da revolução estudantil, a Santo Egídio é considerada hoje um movimento internacional altamente respeitado e poderoso, formado em toda a sua estrutura por voluntários que ganham a vida com outros trabalhos em tempo integral.
Bound to Live Together: Religions and cultures in dialogue (Destinados a viver juntos: Religiões e culturas em diálogo) é o significativo título da 25ª reunião inter-religiosa internacional da Comunidade de Santo Egídio, que neste ano será celebrada em Munique entre os dias 11 a 14 de setembro.
Durante um quarto de século, desde que o grande e recentemente beato Papa João Paulo II reuniu os líderes das religiões mais importantes do mundo em Assis para unir suas energias em uma oração simultânea mas separada ("não sincrética") pela paz, a Santo Egídio se somou ao evento e o transformou em uma tradição. A Comunidade nunca deixar de organizar encontros inter-religiosos anuais em diversas partes do mundo, que seguem o modelo dessa primeira reunião histórica.
Essas reuniões internacionais se estenderam aos países europeus, aos Estados Unidos e à América Latina, à Ásia e a 30 países africanos. DREAM é um dos programas da Santo Egídio, que presta assistência médica e social para cerca de 150 mil pacientes africanos com Aids. Os pobres e os idosos também recebem atenção especial. O trabalho da Comunidade com os imigrantes pobres na Itália e os contatos posteriores com as embaixadas de seus países de origem tiveram como resultado o crescimento do trabalho inter-religioso da Santo Egídio com líderes de todos os credos.
Desde Assis, foi percorrido um longo caminho. As reuniões anuais, com o seu ambiente acolhedor que inspira a livre expressão, geram o estabelecimento de contatos e de amizades entre representantes religiosos de comunidades ou nações em guerra que não mantêm relações diplomáticas recíprocas.
"Agora, mais do que nunca, dez anos depois do 11 de setembro, somos chamados a redescobrir o diálogo, não como uma arma dos fracos nem dos ingênuos, mas como uma ferramenta real para aprender a viver juntos", diz Mario Marazziti, porta-voz da Santo Egídio.
Os representantes do governo mais importante da Alemanha, junto com líderes diplomatas e religiosos internacionais, irão celebrar a cerimônia inaugural e a comemoração do 10º aniversário do 11 de setembro.
Christian Wulff, presidente da República Federal da Alemanha, irá oficiar uma reunião silenciosa em Marstallplatz hoje, onde telões gigantes de TV estarão conectados paralelamente com a reunião da Santo Egídio nas proximidades do Ground Zero em Nova York.
"Nossa reunião será uma contraícone do 11 de setembro", explica o porta-voz da Santo Egídio.
O presidente da Alemanha vai falar na cerimônia inaugural, juntamente com outros dignitários, como Horst Seehofer, presidente da Baviera, o cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique, os presidentes das Repúblicas de Guiné e da Eslovênia, Alpha Gondé e Danilo Turk, Shear-Yashuv Cohen, rabino-chefe de Haifa, em Israel, Daniel, patriarca da Igreja Ortodoxa Romena, Dató Seri Anwar Ibrahim, líder da coalizão islâmica e panmalasiana na Malásia, e os líderes da Santo Egídio, Prof. Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, e Ursula Kalb, líder da Comunidade na Alemanha.
Durante as sessões plenárias, os 35 painéis e os oito fóruns, outras personalidades ilustres, como a chanceler alemã, Angela Merkel, os ministros de Economia alemão e italiano (Wolfgang Schäuble e Giulio Tremonti), os ministros de Israel e da Autoridade Palestiniana, os representantes da primavera árabe do Egito, de Túnis, o Conselho de Transição Nacional Líbio, e suas respectivas autoridades religiosas irão discutir vários aspectos da nova cena em mudança em sessões paralelas.
Quem quiser ler os artigos dos palestrantes em outras sessões não terão mais escolha do que buscá-los no sítio da Santo Egídio.
Os temas vão desde a primavera árabe, o processo de paz palestino-israelense e do Oriente Médio, a situação dos cristãos na região, até a situação da comunidade cigana nos países europeus, a África, os pobres, os valores religiosos etc.
Diante da pergunta sobre qual será o tema principal da reunião no meio dessa miríade de temas de interesse mundial, Marazziti respondeu: "Existem vários: celebrar o 25º aniversário da reunião de Assis, comemorar o 10º aniversário do 11 de setembro com a maior comemoração europeia conectada com o Ground Zero. O presidente alemão e os líderes de todas as religiões do mundo estarão unidos nessa reflexão sobre uma ferida comum.
Também será feita uma peregrinação, liderada pelo cardeal Roger Etchegaray, a um dos lugares do maior trauma da Segunda Guerra Mundial no século XX: o antigo campo de concentração de Dachau.
No total, os convidados internacionais serão 300, com aproximadamente 5 mil participantes.
"Depois do comunismo, depois das guerras contra o terrorismo que se seguiram ao 11 de setembro, estamos agora diante de uma nova crise: a crise de identidade do capitalismo", diz Mario Marazziti. "Em dois anos, os mercados ainda não encontraram as ferramentas para se reformarem. Estamos enfrentando a maior crise financeira da história e também falaremos sobre isso".
"As religiões mostrarão ao mundo como podem ser instrumentos na busca de uma globalização com alma, sem a exploração injusta dos trabalhadores".
Os eventos religiosos destacados incluem uma celebração eucarística ecumênica a cargo do arcebispo Marx na catedral de Munique hoje, e a cerimônia de encerramento na terça-feira: a oração ritual multirreligiosa pela paz seguindo o modelo de Assis que irá encerrar, como sempre, com a caminhada de todos os líderes religiosos vestidos em trajes cerimoniais, de mãos dadas depois das orações para se sentarem em uma plataforma na praça central da cidade, e, em seguida, subindo um por um para acender velas pela paz, depois da leitura das saudações e das mensagens das autoridades civis e religiosas. Tradicionalmente, lê-se uma mensagem especial do papa.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Munique: cúpula inter-religiosa para enfrentar as crises atuais do mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU