Lideranças evangélicas criticam voto do ministro André Mendonça

André Mendonça (Foto: Luis Macedo - Câmara dos Deputados | Wikimedia Commons)

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25 Abril 2022

 

A levar em conta as manifestações de líderes religiosos que criticaram o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter votado a favor do relator na condenação do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) a oito anos e nove meses de prisão, perda do mandato e dos direitos políticos, mais multa, a cada momento pontual da conjuntura política e social brasileira está mais vergonhoso declarar-se de filiação evangélica.

 

A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.

 

“Terrivelmente decepcionado” com o ministro André Mendonça, que “se rende ao ditador de toga e envergonha o povo brasileiro”, vociferou o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, pastor neopentecostal Silas Lima Malafaia em postagem no YouTube. A ira desse cristão exemplar xingou tanto o presidente da Câmara como do Senado de “covarde, frouxo”, e chamou o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, de “ditador, cretino, desgraçado”. 

“Nós não temos um STF, temos um tribunal de exceção comandado por Alexandre de Moraes que coloca nove ministros de joelho, rasgando sistematicamente a Constituição”, pronunciou Malafaia

Ele não está sozinho. O deputado e pastor Marco Feliciano (PL-SP) postou nas redes sociais que ficou “terrivelmente desapontado” com o voto de Mendonça. “Só uma palavra me vem à mente sobre a condenação do deputado Daniel Silveira: monstruosidade”, escreveu Feliciano

Feliciano sugeriu, inclusive, que a bancada evangélica na Câmara obstrua votações para assim pressionar o presidente da casa, Arthur Lira (PP), a pautar a sustação do processo do deputado Daniel Dantas. O presidente da bancada evangélica no Congresso, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), disse que os dez ministros do STF que votaram pela condenação de Silveira rasgaram a Constituição. Ele parabenizou o ministro Kassio Nunes Marques por ter votado contra o relator, “um voto lúcido e defensor da liberdade e da democracia”. 

O ataque ao ministro André Mendonça, o "terrivelmente evangélico" alçado ao STF pelo presidente Bolsonaro, foi tal que ele veio às redes sociais e justificou o seu voto. “Como cristão, não creio tenha sido chamado para endossar comportamentos que incitam atos de violência contra pessoas determinadas. E como jurista, a avalizar graves ameaças físicas contra quem quer que seja. Há formas e formas de se fazerem as coisas”, argumentou na postagem. 

E por que o “respeitável” deputado Daniel Silveira, tão defendido por lideranças evangélicas, foi processado? Por atos antidemocráticos e por divulgação de fake news. Em 16 de fevereiro do ano passado, postou vídeo em que desancou o STF e seus ministros, principalmente Edson Fachin, a quem chamou de “seu moleque, seu menino mimado, mau caráter, marginal da lei, esse menininho aí, militante da esquerda”. Disse mais: “Fachin, intolerável, inaceitável, é termos vocês no STF”. 

Silveira classificou Fachin e os seus dez “abiguinhos” (sic) de pessoas sem “caráter”, de não ter “escrúpulo, nem moral para poder estar na Suprema Corte”, que “de suprema não tem nada”. “Vocês defecam sobre a mesma Constituição, que é uma porcaria. Ela foi feita para colocar canalhas sempre na hegemonia do poder”. No vídeo, ele bateu com as mãos e declarou: “Mas eu estou, ó, cagando e andando para vocês”.

Horas antes do início do julgamento do processo contra Daniel Silveira, no dia 20 de abril, o deputado pronunciou discurso na Câmara atacando mais uma vez o Supremo. Ele defendeu o fechamento do STF e referiu-se ao ministro Alexandre de Moraes como “reizinho do Brasil” e “marginal”. 

Pois é este senhor que lideranças evangélicas defendem! E devem estar aplaudindo a concessão de graça constitucional, no dia 21 de abril, libertando o deputado federal Daniel Silveira da prisão. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o ministro aposentado do STF, Marco Aurélio Mello, apontou a gravidade da medida presidencial: o indulto foi concedido antes mesmo que o acórdão que condenou Silveira fosse publicado. Esse descompasso, disse, “causa a todos perplexidade. Não sugere segurança jurídica. Isso não é bom em termos de avanço cultural”. 

 

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