17 Fevereiro 2022
Em desavença pública entre membros da hierarquia católica, o cardeal Dominik Duka, da República Tcheca, acusou o cardeal Reinhard Marx, da Alemanha, de “difamar e manchar” a reputação do Papa Bento XVI.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 15-02-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Os comentários do cardeal de 78 anos são parte das consequências da resposta de Bento XVI ao relatório alemão que apontou sua má condução dos casos de abusos clericais quando arcebispo de Munique e Freising, no final dos anos 1970 e início dos 80.
Duka, o arcebispo de Praga, publicou uma declaração em 08 de fevereiro defendendo as ações de Bento como arcebispo, dizendo que “mesmo um leigo” com uma graduação em teologia poderia entender que, naquele momento, “Bento não tinha jurisdição para enfrentar o caso” de um notório padre que estava sendo transferido para a Arquidiocese de Munique vindo de Essen, Alemanha.
Os investigadores alemães culparam Bento XVI por tratar mal o caso, já que ele esteve presente em uma reunião de 1980 que discutiu a transferência do padre. A equipe jurídica do papa aposentado afirma que ele não estava ciente dessas alegações.
Bento XVI, o ex-cardeal Joseph Ratzinger, chefiou a Arquidiocese de Munique de 1977 a 1982, antes de ser nomeado chefe da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano e depois eleito papa em 2005.
Marx, que lidera a Arquidiocese de Munique desde 2008, encomendou o relatório independente há quase dois anos, incumbindo os investigadores de examinarem o tratamento da arquidiocese de casos de abuso entre 1945 e 2019.
O relatório final culpou Bento XVI pela má condução de quatro casos como chefe da arquidiocese e Marx por dois casos.
Em sua declaração, Duka pediu a Marx e à Arquidiocese de Munique que “assumam a responsabilidade” por prejudicar a reputação de Bento XVI com a investigação e a publicação do relatório.
Marx disse anteriormente que as descobertas do relatório representavam um “desastre” para a Igreja, mas ele não abordou diretamente suas conclusões sobre Bento XVI. No mês passado, no entanto, o presidente da Conferência Episcopal Alemã, dom Georg Bätzing, de Limburg, pediu a Bento que pedisse desculpas diretamente às vítimas de abuso.
No entanto, apesar das críticas diretas de Duka a Marx, o cardeal tcheco há muito vem sendo criticado em sua própria arquidiocese por sua suposta má gestão de casos de abuso.
Em 2019, Duka foi alvo de uma queixa criminal e acusado de encobrir abusos dentro de sua própria ordem dominicana. Ele também enfureceu sobreviventes de abuso por suas alegações anteriores de que apenas 10% das acusações de abuso contra padres são comprovadas como verdadeiras.
As fortes palavras do cardeal tcheco em defesa de Bento XVI também atraíram críticas rápidas de sobreviventes de abusos do clero em seu país.
“Dom Duka, sua retórica é insensível, suspeita e implacável”, escreveu o grupo de sobreviventes Someone Believes You em um comunicado. “Você não constrói pontes, mas destrói os esforços de cura”.
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“Traição ao Papa Bento XVI” é a acusação do cardeal Duka ao cardeal Marx - Instituto Humanitas Unisinos - IHU