05 Janeiro 2022
“A melhor forma de aprender o que o Vaticano II conquistou é ler os documentos que os bispos produziram e votaram. Esses documentos nos darão as bases para assumirmos nossos lugares no processo sinodal”, escreve William Grimm, padre missionário em Tóquio e editor da Union of Catholic Asian News (UCA News), em artigo publicado por La Croix International, 03-01-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Com liturgias de Natal, decorações, festas, canções de natal, presentes, refeições e papel de presente amassado, além das preocupações da covid-19, era fácil perder um aniversário significativo.
Em 25 de dezembro de 1961, João XXIII emitiu a constituição apostólica Humanae Salutis, convocando oficialmente o Concílio Vaticano II, que ele havia anunciado pela primeira vez em 25 de janeiro de 1959.
Assim, o Natal foi o 60º aniversário da convocação do último dos apenas 21 concílios ecumênicos nos dois milênios de história da Igreja. O encontro teve início em 11 de outubro de 1962 e encerrou-se em 8 de dezembro de 1965, sendo o maior concílio desse tipo na história.
Estamos entrando em um período durante o qual somos abençoados e desafiados a olhar novamente para as realizações desse concílio ao darmos o próximo passo, o Sínodo.
Nós – especialmente aqueles que se lembram do catolicismo pré-Vaticano II – nos maravilhamos com o quanto mudou na Igreja desde o Concílio. Graças à bolsa que sustentou ou surgiu do Vaticano II, também podemos nos alegrar com o quanto a tradição autêntica foi reapropriada e restaurada.
Um catolicismo medieval e de contra-reforma deu início a uma volta às formas e enfoques mais antigos, e especialmente às Escrituras e à Tradição, em oposição às tradições.
Essa virada foi frustrada de várias maneiras pelos dois papados que seguiram os dois papas do Vaticano II, João XXIII e Paulo VI. Mas o meio século de tentativas de reverter o ímpeto do concílio, embora frustrante para os inspirados pelo concílio, foi fútil.
Em tal reunião de bispos unidos ao papa, o Espírito Santo também é um participante poderoso, e como o poeta americano James Weldon Johnson escreveu sobre o filho pródigo: “Seu braço é muito curto para boxear com Deus”.
Agora, Francisco, o primeiro papa treinado, ordenado e ministrando apenas na “Igreja do Vaticano II”, está nos reorientando no caminho apontado pelos bispos que estiveram no Vaticano II.
O Vaticano II não foi simplesmente de dois papas. Foi uma reunião de todos os bispos da Igreja Católica, exceto alguns que não puderam comparecer por motivos de saúde ou por restrições à sua liberdade de viajar.
O Papa João deixou claro que tudo deve estar lá:
“Queremos em conseqüência, e ordenamos, que a este concílio ecumênico, por nós indicado, venham de toda parte todos os nossos diletos filhos cardeais, os veneráveis irmãos patriarcas, primazes, arcebispos e bispos tanto residenciais como apenas titulares e ademais todos os que têm direito e dever de intervir no concílio”.
Eles estavam lá “de toda parte”, cerca de 2.800 em número. Pela primeira vez, os participantes de um concílio ecumênico vieram de todo o mundo, “de todas as tribos, línguas, povos e nações” (Ap 5, 9). Era católico tanto quanto Católico.
Noticiários mostrando bispos da África, Ásia e Oceania entrando na Basílica de São Pedro para a cerimônia de abertura alertaram os observadores desde o início que a Igreja Católica não era o que as pessoas imaginavam. Esses rostos não ocidentais foram o primeiro sinal de que grandes mudanças já haviam começado.
Os bispos do Vaticano II eram revolucionários improváveis. Eles não eram um bando de radicais irresponsáveis, nem uma conspiração de subversivos para destruir a Igreja. Nenhum deles, exceto os de ritos orientais, jamais celebrou missa em qualquer outra língua, exceto latim.
A teologia em que foram treinados era tradicional, e eles a estudaram em latim. Mas quando eles se reuniram, o Espírito Santo colocou em movimento uma trajetória de mudança que está remodelando o catolicismo e, portanto, o cristianismo.
E quais foram os frutos do Vaticano II? Bem, a Igreja cresceu tanto que um concílio ecumênico hoje teria que fornecer lugares para mais de 5 mil bispos e outras mulheres e homens que participassem.
Existem agora mais de um bilhão de católicos no mundo, e o número aumenta em milhões a cada ano, sem dúvida um sinal de que o Espírito Santo está trabalhando por meio da Igreja que foi revigorada pelo concílio.
Como podemos marcar este aniversário depois de terminarmos de limpar as decorações de Natal e o papel de embrulho?
A melhor forma de aprender o que o Vaticano II conquistou é ler os documentos que os bispos produziram e votaram. Esses documentos nos darão as bases para assumirmos nossos lugares no processo sinodal.
Alguns documentos não são mais relevantes depois de tanto tempo, o mundo e a Igreja mudaram. Outros provavelmente sempre permanecerão importantes.
Quatro dos 16 são leituras essenciais. Duas delas são “constituições dogmáticas”, a forma de declaração mais confiável. Essas são Lumen Gentium, sobre a Igreja, e Dei Verbum, sobre a Revelação Divina.
O terceiro é Sacrosanctum Concilium, sobre a Sagrada Liturgia, que teve a influência mais evidente na vida dos católicos, embora tenha sido publicado muito cedo para se beneficiar da compreensão de documentos emitidos posteriormente.
O quarto documento de leitura obrigatória é uma nova forma de ensino, uma “constituição pastoral”. Gaudium et Spes, sobre a Igreja no mundo moderno, é talvez o principal fruto do Vaticano II.
Todos os documentos do Vaticano II estão disponíveis gratuitamente em várias línguas no site da Santa Sé.
Leia, reflita e aja para cumprir a oração do Papa João pelo Concílio: “Renova em nossa época os prodígios, como em novo Pentecostes; e concede que a Igreja santa, reunida em unânime e instante oração junto a Maria, Mãe de Jesus, e guiada por Pedro, difunda o reino do divino Salvador, que é reino da verdade, de justiça, de amor e de paz. Amém”.
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Tema de casa pós-Natal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU