22 Dezembro 2021
A resistência por parte dos bispos em instruir uma comissão independente, querendo assim administrar tudo internamente, parece arriscada, especialmente em relação à credibilidade pública da Igreja espanhola no que diz respeito à investigação e à gestão dos casos de abusos ocorridos em seu interior.
O comentário é do teólogo e padre italiano Marcello Neri, professor da Universidade de Flensburg, na Alemanha, publicado por Settimana News, 21-12-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Mesmo depois que os jornalistas do jornal espanhol El País entregaram ao Papa Francisco, durante o voo de volta da Grécia, os resultados da sua coleta de prováveis casos de abusos na Igreja Católica do país, os bispos espanhóis continuam considerando inoportuna a criação de uma comissão independente para investigar os casos. Em vez disso, prefere-se o caminho individual da denúncia dos casos junto aos escritórios que estão sendo abertos nas dioceses espanholas.
O papa entregou os documentos recebidos do El País à Congregação para a Doutrina da Fé, que iniciará os procedimentos oportunos de acordo com as novas disposições canônicas emitidas por Francisco. Além disso, também contatou o presidente da Conferência Episcopal Espanhola, o cardeal J. Omella, bispo de Barcelona.
Segundo os documentos da investigação jornalística, cerca de 77% dos supostos casos de abuso sexual ocorreram dentro das ordens religiosas – que estão tomando as medidas necessárias correspondentes às acusações feitas contra elas. Os maristas se comprometeram a colocar os sobreviventes em primeiro lugar, dando crédito à palavra deles na investigação.
Fica a impressão de um ritmo disperso entre as várias dioceses e entre o clero diocesano e as ordens religiosas, com o risco de não se alcançar uma visão de conjunto do fenômeno dos abusos na Espanha e de se ter dificuldade em ter uma ideia do porte numérico dos casos.
A investigação do El País contém dezenas de casos em que se presume que cardeais e bispos ou não iniciaram as investigações canônicas previstas ou tentaram proteger os supostos abusadores. A investigação jornalística, para proteger as pessoas envolvidas, não contém nem os nomes dos sobreviventes nem os anos em que teriam sofrido abusos sexuais na Igreja espanhola.
A Conferência Episcopal espera que os dados sejam postos à disposição, de forma concreta e completa, aos respectivos escritórios eclesiais e estatais.
A resistência por parte dos bispos em instruir uma comissão independente, querendo assim administrar tudo internamente, parece arriscada, especialmente em relação à credibilidade pública da Igreja espanhola no que diz respeito à investigação e à gestão dos casos de abusos ocorridos em seu interior. Levando-se em conta também que, mais uma vez, o jornalismo precedeu a necessária ativação de investigações sérias e aprofundadas por parte da Igreja.
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Abuso na Espanha: bispos não querem comissão independente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU