05 Novembro 2021
É uma perseguição: o impacto das mudanças climáticas está correndo, os decisores políticos que tentam contê-lo lançam medidas que sempre ficam para trás. A sexta edição do Relatório 2021 sobre o déficit de adaptação: a tempestade que está chegando assinado pela Agência Ambiental da ONU (PNUMA) destaca que já perdemos essa corrida porque algumas consequências da crise climática em curso são irreversíveis: portanto, além de tentar limitar aquecimento global a 1,5 °C, será indispensável se adaptar.
São previsões que também levam em consideração os últimos compromissos assumidos pela comunidade internacional, mas impelem a ter metas ainda mais ambiciosas, pois “embora uma forte mitigação seja o caminho para impactos mais baixos e custos mais de longo prazo, aumentar a ambição na adaptação, principalmente no que diz respeito ao financiamento e à implementação, é crucial para evitar que as lacunas existentes aumentem".
A reportagem é de Cristina Nadotti, publicada por La Repubblica, 04-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mais dinheiro e mais ações práticas, agora, porque embora "o dinheiro exista", como disse o primeiro-ministro Mario Draghi há três dias na abertura da cúpula de Glasgow, os financiamentos e a implementação estão muito atrasados. Diante da impressionante velocidade com que o clima muda, esta é a mensagem que o Relatório PNUMA lança durante as negociações da COP26, nossas reações não são apenas atrasadas, mas também desiguais, principalmente no que diz respeito à capacidade de resposta.
Nesse ritmo, alguns países que já estão experimentando os efeitos devastadores da crise climática provavelmente correm o risco de ficar cada vez mais para trás. Especificamente, a agência da ONU escreve que há evidências indicando que o objetivo de permanecer dentro de +1,5 graus Celsius até o final do século provavelmente não será cumprido, mas mesmo se o atingirmos, alguns impactos das mudanças climáticas já são irreversíveis e irão nos acompanhar por muitas décadas.
As políticas de adaptação, prossegue o Relatório, devem prever intervenções prioritárias em diversos setores, para prevenir e conter os danos causados por eventos meteorológicos extremos causados pelas alterações climáticas. Entre os âmbitos onde tais intervenções são mais urgentes estão a gestão do território com atenção à biodiversidade, a racionalização e conservação dos sistemas hídricos, a elaboração de mapas de periculosidade e intervenções para combate às ondas de calor, especialmente nos ambientes urbanos. Juntamente com os instrumentos para se adaptar às mudanças já em curso, também são necessárias políticas de mitigação para não acelerar ainda mais o impacto e priorizar e reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
A PNUMA lembra que “2021 foi o ano em que as alterações climáticas se manifestaram claramente como uma séria ameaça à humanidade, não só a longo prazo, mas aqui e agora” e assinala que “os impactos climáticos atingem o mundo com uma nova ferocidade" A Agência Ambiental lembra que, sempre neste ano, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou que existe uma possibilidade maior de um aumento da temperatura global acima de 1,5 grau Celsius nas próximas duas décadas. As atuais contribuições determinadas em nível nacional (NDC), ou seja, os compromissos de cada estado, previstos pelo acordo de Paris, apontam atualmente para um aquecimento global de 2,7 graus Celsius até o final do século. Portanto, "mesmo que o mundo busque intensificar os esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa - esforços que ainda não são nem de longe suficientemente fortes - o crescimento dos impactos climáticos está ultrapassando em muito o nosso esforço para se adaptar a eles", alerta a agência para o Meio Ambiente da ONU.
O Relatório também fornece um exemplo concreto de como "o dinheiro, que não é um problema" não foi usado "de forma inteligente e rápida", ainda citando Draghi. “Os pacotes de estímulo para a retomadas das atividades após o Covid-19 apresentam uma janela de oportunidade para intervir com medidas verdes e resilientes, mas não estão implementadas atualmente”, observa o PNUMA, especificando que 16,700 bilhões de dólares de estímulo fiscal foram distribuídos em todo o mundo, mas apenas uma pequena parte desses incentivos foi direcionada à adaptação, ou seja, a intervenções para prevenir os danos de eventos climáticos extremos (como secas, tempestades, incêndios, inundações), favorecendo assim também o crescimento econômico verde. Portanto, "a oportunidade foi amplamente perdida", diz o PNUMA.
Menos de um terço dos 66 países examinados até junho de 2021 estudaram medidas para enfrentar os riscos climáticos, mostra o relatório. Cerca de 79% dos países adotaram pelo menos um instrumento de planejamento da adaptação em nível nacional, como um plano, uma estratégia, uma política ou uma lei. Trata-se de um aumento de 7% a partir de 2020, calcula a PNUMA, ainda muito pouco diante da emergência em curso. 9% dos países que não dispõem de um instrumento desse tipo está desenvolvendo um. Pelo menos 65% dos países, observa o relatório, têm um ou mais planos setoriais e pelo menos 26% dispõem de um ou mais instrumentos de planejamento subnacionais.
Enquanto isso, a implementação de ações de adaptação continua crescendo lentamente. Os dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), lembra o PNUMA, revelam que os dez maiores doadores em nível global financiaram mais de 2.600 projetos com foco principal na adaptação, entre 2010 e 2019. Os projetos também estão ficando maiores e muitos atraem financiamento superiores a 10 milhões de dólares.
Os custos estimados para a adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento são cinco a dez vezes maiores do que os fluxos financeiros públicos atuais (quase 80 bilhões em 2019) e os dados disponíveis indicam que a lacuna financeira para a adaptação está aumentando. De acordo com o Adaptation Gap Report 2021, os novos custos - em comparação com aqueles do relatório de 2016 - apenas para os países em desenvolvimento estão se aproximando do topo da bifurcação 140-300 bilhões de dólares por ano até 2030 e 280-500 bilhões de dólares por ano até 2050.
Do ponto de vista das medidas financeiras anunciadas nos últimos dias na COP26, o Relatório do PNUMA representa, portanto, um importante alerta: são bem-vindos os anúncios de trilhões de dólares em possíveis financiamentos ou alianças globais de investidores privados: no entanto, é necessário que todos o dinheiro prometido seja efetivamente disponibilizado e os projetos para mitigar os efeitos do aquecimento global se tornem realidade o mais rápido possível.
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ONU: “Não basta limitar o aquecimento climático, é preciso se adaptar. Alguns danos são irreversíveis” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU