29 Outubro 2021
“Trata-se de um desafio de civilização em prol do bem comum e de uma mudança de perspectiva, na mente e no olhar, que deve colocar no centro de todas as nossas ações a dignidade de todos os seres humanos, de hoje e de amanhã”, afirmou o Papa Francisco em uma mensagem enviada à Rádio BBC, no Reino Unido, onde, no próximo domingo (31), terá início a COP26, 29-10-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Eis a mensagem.
Queridos ouvintes, bom dia!
A mudança climática e a pandemia de covid-19 expuseram a vulnerabilidade radical de todos e tudo e suscitam várias dúvidas e perplexidades sobre nossos sistemas econômicos e sobre as modalidades de organização de nossas sociedades.
Nossas seguranças caíram, nosso apetite de poder e nosso afã de controle está se desmoronando.
Descobrimo-nos frágeis e cheios de medos, submersos em uma série de “crises”: sanitária, ambiental, alimentar, econômica, social, humanitária, ética. Crises transversais, fortemente interconectadas e presságio de uma “tempestade perfeita”, capaz de romper os “vínculos” que unem nossa sociedade dentro do precioso dom da Criação.
Toda crise requer visão, capacidade de planejamento e rápida execução, repensando o futuro de nossa Casa Comum e nosso projeto comum.
Esta crise nos coloca frente a escolhas radicais que não são fáceis. Todo momento de dificuldade encerra, de fato, também oportunidades que não podem ser desaproveitadas.
Podem ser enfrentadas fazendo prevalecer comportamentos de isolamento, protecionismo, exploração; ou podem representar uma autêntica ocasião de transformação, um verdadeiro ponto de conversão, não apenas em sentido espiritual.
Esta última via é a única que conduz para um horizonte “luminoso” e pode ser perseguida apenas através de uma renovada corresponsabilidade mundial, uma nova solidariedade fundada na justiça, no fato de compartilhar um destino comum e na consciência da unidade da família humana, projeto de Deus para o mundo.
Trata-se de um desafio de civilização em prol do bem comum e de uma mudança de perspectiva, na mente e no olhar, que deve colocar no centro de todas as nossas ações a dignidade de todos os seres humanos, de hoje e de amanhã.
A lição mais importante que estas crises nos transmitem é que é necessário construirmos juntos, porque não há fronteiras, barreiras ou muros políticos para poder se esconder. E sabemos: de uma crise não se sai sozinho.
Há alguns dias, em 04 de outubro, me reuni com os chefes religiosos e cientistas para firmar uma declaração conjunta que reivindica ações mais responsáveis e coerentes tanto a nós mesmo quanto a nossos governantes. Naquela ocasião, impressionou-me o testemunho de um dos cientistas que disse: “Minha neta, que acaba de nascer, dentro de 50 anos terá que viver em um mundo inabitável, se as coisas continuarem assim”.
Não podemos permitir!
É fundamental o compromisso de cada um para essa mudança de rota tão urgente; compromisso que precisa ser alimentado desde a própria fé e espiritualidade. Na declaração conjunta reivindicamos a necessidade de atuar de forma responsável a favor da “cultura do cuidado” de nossa Casa Comum e também de nós mesmos, tratando de erradicar as “sementes dos conflitos: avidez, indiferença, ignorância, medo, injustiça, insegurança e violência”.
A humanidade nunca teve tantos meios para alcançar esse objetivo como os que tem agora. Os políticos que participarão na COP26 de Glasgow estão chamados com urgência a oferecer respostas eficazes à crise ecológica na qual vivemos e, deste modo, dar esperança concreta às gerações futuras. Porém, todos nós – e vale repetirmos, qualquer um de nós – podemos ter um papel modificando nossa resposta coletiva à ameaça sem precedentes da mudança climática e da degradação de nossa Casa Comum.
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“COP26. Urgência de respostas eficazes à crise ecológica”. Mensagem do Papa Francisco por ocasião da COP26 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU