04 Outubro 2021
Texto da mensagem em vídeo que o Papa Francisco enviou aos jovens que participaram do segundo evento mundial de "The Economy of Francesco", que aconteceu ontem em streaming do Palazzo Monte Frumentario de Assis.
O texto do Papa Francisco é publicado por Avvenire, 03-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a mensagem.
Caros jovens, saúdo vocês com afeto, feliz por lhes encontrar - ainda que virtualmente – neste seu segundo evento. Nos últimos meses, recebi muitas notícias das experiências e iniciativas que construíram juntos e gostaria de agradecer o entusiasmo com que cumprem esta missão de dar uma nova alma à economia. A pandemia Covid-19 não só nos revelou as profundas desigualdades que infectam as nossas sociedades: também as ampliou. Desde o aparecimento de um vírus vindo do mundo animal, as nossas comunidades têm sofrido o grande aumento do desemprego, da pobreza, da desigualdade, da fome e da exclusão da assistência sanitária necessária. Não esqueçamos que uns poucos aproveitaram a pandemia para enriquecer-se e fechar-se na própria realidade. Todos esses sofrimentos recaem de maneira desproporcional sobre nossos irmãos e irmãs mais pobres.
Nestes dois anos, a esta altura, já nos confrontados com todos os nossos fracassos no cuidado da casa e da família comum. Muitas vezes esquecemos a importância da cooperação humana e da solidariedade global; também frequentemente esquecemos a existência de uma relação de reciprocidade responsável entre nós e a natureza. A Terra nos precede e nos foi dada, e este é um elemento-chave em nossa relação com os bens da Terra e, portanto, uma premissa fundamental para os nossos sistemas econômicos.
Somos administradores dos bens, não donos. Apesar disso, a economia doente que mata nasce da suposição de que somos proprietários da Criação, capazes de explorá-la para nossos interesses e nosso crescimento. A pandemia nos lembrou desse profundo vínculo de reciprocidade; lembra-nos que fomos chamados a cuidar os bens que a Criação dá a todos; nos lembra nosso dever de trabalhar e distribuir esses bens para que ninguém seja excluído. Finalmente, também nos lembra que, imersos em um mar comum, devemos acolher a exigência de uma nova fraternidade. Este é um tempo favorável para sentir mais uma vez que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e com o mundo.
A qualidade do desenvolvimento dos povos e da Terra depende sobretudo dos bens comuns. Para isso, devemos buscar novas formas para regenerar a economia na época pós-Covid-19 para que seja mais justa, sustentável e solidária, ou seja, mais comum.
Precisamos de processos mais circulares, produzir e não desperdiçar os recursos da nossa Terra, formas mais equitativas de vender e distribuir os bens e comportamentos mais responsáveis quando consumimos. É preciso também um novo paradigma integral, capaz de formar as novas gerações de economistas e de empresários, no respeito da nossa interconexão com a Terra.
Vocês, na "Economia de Francisco" como em muitos outros grupos de jovens, estão trabalhando com o mesmo propósito. Vocês podem oferecer este novo olhar e este exemplo de uma nova economia.
Hoje nossa mãe Terra geme e nos avisa que estamos nos aproximando de limiares perigosos. Vocês talvez sejam a última geração que pode nos salvar, não estou exagerando. Diante dessa emergência, a sua criatividade e resiliência carregam uma grande responsabilidade. Espero que possam usar esses seus dons para consertar os erros do passado e nos direcionar rumo a uma economia, mais solidária, sustentável e inclusiva.
Essa missão da economia, no entanto, inclui a regeneração de todos os nossos sistemas sociais: incutindo os valores da fraternidade, da solidariedade, do cuidado da nossa Terra e dos bens comuns em todas as nossas estruturas, poderemos enfrentar os maiores desafios do nosso tempo, da fome e desnutrição à distribuição justa das vacinas contra o Covid-19. Devemos trabalhar juntos e sonhar grande. Com o olhar fixo em Jesus, encontraremos inspiração para idealizar um mundo novo e a coragem para caminharmos juntos por um futuro melhor.
A vocês, jovens, renovo a tarefa de recolocar a fraternidade no centro da economia. Nunca como nesta época sentimos a necessidade de jovens que saibam, através do estudo e da prática, demonstrar que existe uma economia diferente. Não desanimem: deixem-se guiar pelo amor do Evangelho, que é o impulso de toda mudança e nos exorta a entrar nas feridas da história e a ressurgir. Lancem-se com criatividade na construção de tempos novos, sensíveis à voz dos pobres e empenhem-se em incluí-los na construção do nosso futuro comum. O nosso tempo, devido à importância e urgência que a economia tem, precisa de uma nova geração de economistas que vivam o Evangelho dentro das empresas, das escolas, das fábricas, dos bancos e dentro dos mercados. Sigam o testemunho daqueles novos mercadores que Jesus não expulsa do templo, porque vocês são seus amigos e aliados do seu Reino. Caros jovens, apresentem as suas ideias, os seus sonhos e, através deles, transmitam ao mundo, à Igreja e aos outros jovens a profecia e a beleza de que são capazes. Vocês não são o futuro, vocês são o presente. Um outro presente. O mundo precisa de sua coragem, agora. Obrigado!
Francisco
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Francisco confia a economia aos jovens: “Vocês são, talvez, a última geração que pode nos salvar: não exagero” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU