06 Julho 2021
“Ver as pessoas fugindo é uma das piores experiências que alguém pode ter, principalmente quando são crianças que não têm o que comer, que estão com frio, que têm que dormir na beira da estrada e só podem se aquecer nos braços de seus pais ou mães”. O depoimento é do comunicador Fernando Arucha, que, a pedido da Igreja Luterana de El Salvador, acompanhou emigrantes salvadorenhos com destino aos Estados Unidos para a realização de documentário.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Mas ele também verificou a alegria de emigrantes ao receberem acolhida de igrejas católicas, luteranas, batistas na Guatemala, que ofereceram um lugar para passar a noite, para se lavar, descansar e se alimentar. “Senti muita alegria ao ver que ainda pode haver compaixão, mesmo em uma situação difícil”, afirmou em entrevista para o serviço de imprensa da Federação Luterana Mundial.
De El Salvador, passando pela Guatemala e o México, são 2.677 quilômetros até chegar ao sonho americano. Quem se dispõe a emigrar, há duas opções: fazer o percurso sozinho, correndo riscos de assalto e sequestro nessas rotas, por onde também passa o tráfico de drogas; ou pagar um coiote – pessoas que organizam e conduzem pequenos grupos de emigrantes – o que lhe dá mais segurança.
Fonte do Mapa: World Economic Forum
Mas o preço do coiote é caro. Ele custa de 9 mil a 12 mil dólares (cerca de 45 mil a 60 mil reais) por pessoa, num país onde o salário mínimo é de 300 dólares (1,5 mil reais) por mês. “O gasto financeiro é enorme. Existem pessoas que vendem suas casas, largam empregos, vendem carro, abrem mão de toda a comodidade. Desistem de tudo”, contou Arucha.
E por que famílias salvadorenhas se arriscam a realizar essa jornada incógnita, sujeitas a perderem tudo e voltarem sem nada ao país de origem se não conseguirem ingressar nos Estados Unidos? “Pouco mais seis milhões de pessoas vivem em cerca de 24 mil quilômetros quadrados em El Salvador. E a violência reina em cada canto desse espaço”, explicou o comunicador.
A violência deve-se a gangues, ao crime organizado, à injustiça social, num país de economia fraca. “Pessoas simplesmente desaparecem, pessoas são ameaçadas e chantageadas”, relatou Arucha. Emigrantes “correm todos os riscos apenas para poder viver em liberdade. Se eles não conseguem cruzar a fronteira para outro país, eles voltam a El Salvador como um fracasso e não têm mais nada, nem mesmo muita confiança ou fé”, agregou.
Igrejas lutam por mudanças positivas no país, na sociedade, no trabalho de defesa dos direitos humanos, na melhor distribuição da renda. “Um de nossos hinos cristãos aqui em El Salvador expressa isso lindamente: ‘Quando os pobres acreditam nos pobres’ é chegado o momento em que podemos gritar ‘liberdade’”, afirmou Arucha. Mas “mesmo dentro de uma denominação, pode ser difícil não perder a fé quando você vê ou ouve coisas que não gosta”, admitiu.
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Violência leva salvadorenhos à emigração sem certeza de nada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU