19 Fevereiro 2017
Os bispos dos Estados Unidos já disseram que com o muro os migrantes correm riscos ainda maiores. Porém, começar a viagem rumo à fronteira e passar para o outro lado não será apenas mais perigoso, mas também mais caro, cada vez mais caro desde que o presidente Trump colocou sob rédeas curtas os indocumentados que querem entrar no seu país.
A reportagem é de Alver Metalli e publicada por Tierras de América, 15-02-2017. A tradução é de André Langer.
Tempos difíceis para aqueles e tempos bons para os coiotes, como são chamados os traficantes de migrantes que circulam entre as duas fronteiras. Em todas as suas diversas modalidades. Existem os coiotes viajantes, que se deslocam com os indocumentados até a fronteira da Guatemala com o México ou até a Cidade do México para entregar a mercadoria aos coiotes locais que a levam até a fronteira norte. Existe o senhor coiote, que controla o tráfico sem sair de sua casa, graças à internet. Ele aprendeu o ofício em campo, foi coiote viajante e agora aceita as engrenagens da rede sentado em seu escritório. A rede é formada por outros coiotes, pela polícia nos pontos de passagem e pelas máfias de diversos tipos. Depois pode haver imprevistos, acidentes do ofício com os consequentes danos colaterais que implicam prisões, sequestros e mortes ao longo do caminho.
“Sem Nome” é um coiote completo, daqueles que encontram o migrante e aceitam a cadeia que deve levá-lo até o outro lado. Ele foi entrevistado pelo El Faro, jornal on-line de El Salvador, que se comprometeu a proteger o seu anonimato, “porque aquilo que faz é um crime punido pela lei com oito anos de prisão”. É uma entrevista com a qual se pode aprender muito. “Sem Nome” viaja todas as semanas de um ponto a outro de El Salvador – o menor, em superfície, dos países da América Central – para buscar clientes, oferecer-lhes segurança “ou responder às dúvidas da mãe da jovem que deve viajar”. E, naturalmente, para combinar a tarifa.
Essa tarifa – explica o jornalista do El Faro, Óscar Martínez, que recebeu as confidências de “Sem Nome” – não é fixa, mas varia de acordo com a suposta solvência do cliente, a distância e as dificuldades do trajeto, e os nós que devem ser aceitos. “Em 2014, por exemplo, quando 64 mil crianças entraram nos Estados Unidos sem visto, a cota era mais ou menos 7 mil dólares para chegar à cidade escolhida. Em 2017, com Trump no poder e sua promessa de construir um muro nos 2.100 quilômetros de fronteira que faltam, o mesmo serviço custa cerca de 8 mil dólares”.
Pela boca do coiote “Sem Nome” tomamos conhecimento de que para mover o cliente de nó em nó, ou transladá-lo ao longo da cadeia, são necessárias três coisas: primeiro, um policial ou agente do Instituto Nacional de Migrações do México que avisa quando está de turno em um posto migratório de controle de veículos. “No México, são comprados por poucos pesos”, afirma “Sem Nome”.
Segundo, é a parte mais difícil, “um contato com o cartel”. Normalmente, esta conexão se obtém através de algum senhor coiote mexicano que trabalha na fronteira com os Estados Unidos, tem relações com os Zeta ou com o Cartel do Golfo e recebe os clientes do coiote de El Salvador.
Terceiro, o coiote mexicano, que tendo obtido permissão irá cruzar com seus migrantes a fronteira com os Estados Unidos e, se pagaram por isso, os levará até a cidade de destino. A quantia negociada para essa última etapa da viagem é cobrada em sua totalidade pelo coiote mexicano. “O salvadorenho – explica “Sem Nome” – não recebe nada por essa parte do trajeto e, obviamente, tampouco pelo contato com o coiote do norte nem pelo suborno do funcionário mexicano”.
Na cadeia descrita, os anéis estão bem conectados. “Sem um coiote salvadorenho não há cliente centro-americano. Sem coiote mexicano não há viagem segura nem cruzamento para os Estados Unidos”.
O encarecimento – explica “Sem Nome” – deve-se aos anéis “do norte, que modificam a tarifa com a desculpa de Trump”. “Primeiro eram 3 mil dólares desde Reynosa (fronteira do lado do México) até Houston. Desde janeiro deste ano (estes coiotes) estão pedindo 5 mil dólares: mil na fronteira do lado mexicano, mil em McAllen (fronteira do lado estadunidense) e três mil antes da entrega em Houston”.
“Sem Nome” explica que os 8 mil dólares que cobra são repartidos da seguinte maneira: dois mil para chegar até Reynosa, incluindo o suborno nos postos de controle da polícia da Guatemala e do México, 300 dólares por cada migrante vão para os cartéis, 3 mil dólares para os coiotes do norte por seus serviços desde Reynosa até Houston; e, por último, mil dólares para o coiote salvadorenho. Isto dava um lucro de pouco menos de 2 mil dólares por migrante para o senhor coiote. “Fazer por menos não tem sentido”, lamenta-se, e não compreende aqueles que trabalham por 7.500 dólares, nem que segurança possa garantir com o tempo presente.
São coisas que os núncios apostólicos nos Estados Unidos e México, Christophe Pierre e Franco Coppola, respectivamente, sabem. Em vista disso, estão organizando um encontro para os bispos dos dois países com a finalidade de denunciar juntos “o muro da exclusão”.
Sobre isso se falará no final de fevereiro em Brownsville (Texas).
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Era Trump. Os traficantes de migrantes aumentam as tarifas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU