22 Junho 2021
Existe um consenso entre os cientistas de que estes números exagerados do Brasil poderiam ter sido evitados se o Governo Central tivesse adotado medidas de saúde pública adequadas.
O artigo é de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia e pesquisador titular da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – ENCE/IBGE, publicado por EcoDebate, 21-06-2021.
O Brasil registrou 500 mil óbitos da covid-19 no sábado, dia 19 de junho. É a maior tragédia brasileira. Nunca houve um evento tão mortífero quanto a pandemia do novo coronavírus (mesmo com subnotificações). Foram 195 mil vidas perdidas em 2020 e já são mais de 300 mil em 2021. Consequentemente, a expectativa de vida caiu cerca de 2 anos no ano passado e deve cair em maior proporção no atual ano. Das 500 mil mortes, 150 mil foram de pessoas abaixo de 60 anos e 350 mil de idosos (60 anos e +), sendo 280 mil homens e 220 mil mulheres.
Todas as cidades do país foram afetadas em um grau menor ou maior, mas o Brasil tem sofrido bem mais que o restante do mundo. O coeficiente de mortalidade do mundo está em 500 óbitos por milhão de habitantes e o coeficiente brasileiro ficou em 2.383 óbitos por milhão de habitantes em 19/06/2021.
O maior coeficiente ocorreu na região Centro-Oeste com 2.874 óbitos por milhão. Em seguida, a região Sudeste com 2.628 óbitos por milhão, a região Sul com 2.560 óbitos por milhão, a região Norte com 2.320 óbitos por milhão e a região com menor coeficiente o Nordeste com 1.810 óbitos por milhão de habitantes.
A primeira vítima da covid-19 morreu em meados de março de 2020 e 146 dias depois, em 08 de agosto, o Brasil registrou 100 mil mortes. Após 152 dias, no 07 de janeiro de 2021, já eram 200 mil mortes e, 76 dias depois, no dia 24 de março atingiu 300 mil óbitos.
O montante de 400 mil vidas perdidas foi alcançado no recorde de apenas 36 dias, em 29 de abril (período em que a média diária ficou em 2,8 mil mortes a cada 24 horas). Meio milhão de mortes foi registrado no dia 19 de junho (52 dias para acrescentar 100 mil vítimas). Mas além de toda a tragédia, o Brasil mantém elevadas médias móveis de casos e de mortes, conforme mostrado abaixo.
O gráfico abaixo, do Portal da Transparência do Registro Civil, mostra os dados das mortes brasileiras no mês de junho de 01 a 20/06. O que chama a atenção é que, do total, a percentagem de mortes entre os idosos ficou em 46%, ou seja, 54% das vítimas fatais em junho de 2021 tem ocorrido na população abaixo de 60 anos (não idosa). Este rejuvenescimento da pandemia é preocupante, pois o processo de vacinação está atrasado nesta faixa etária e isto abre espaço para uma 3ª onda pandêmica muito forte.
O Brasil, neste fim de semana, ultrapassou a Índia na média móvel de mortes e se tornou o epicentro da pandemia global. Segundo o site Our World in Data, com dados da Universidade Johns Hopkins, a média móvel de 7 dias da Índia ficou abaixo de 2 mil óbitos diários e o Brasil se manteve acima desta marca.
Todos estes dados indicam que a pandemia ainda vai provocar muitos danos no Brasil no segundo semestre do atual ano. Existe um consenso entre os cientistas de que estes números exagerados do Brasil poderiam ter sido evitados se o Governo Central tivesse adotado medidas de saúde pública adequadas.
Desta forma, no dia em que o Brasil alcançou a dramática marca de 500 mil mortes, houve manifestações contra o descaso governamental, pelo impeachment do presidente Bolsonaro e a favor da vacina. Foram centenas de atos no Brasil e no exterior mobilizando quase um milhão de pessoas.
Nos próximos meses o futuro do Brasil deve ser decidido nas ruas contra os descalabros atuais e contra o genocídio e o ecocídio.
ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020. Disponível aqui.
ALVES, JED. Brasil tem taxa de mortalidade maior do que G-7, BRICS e os 10 países mais populosos, Ecodebate, 24/052021. Disponível aqui.
ALVES, JED. Óbitos podem superar os nascimentos no Brasil pandêmico, Ecodebate, 05/04/2021. Disponível aqui.
Jornal da Globo. Brasil pode registrar mais mortes do que nascimentos em um mês. Rede Globo, 08/04/2021. Disponível aqui.
ALVES, JED. Covid-19. Brasil registra pela primeira vez mais mortes que nascimentos, entrevista a Pedro Sá Guerra na Televisão Portuguesa (RTP), 15/04/2021. Disponível aqui.
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Brasil ultrapassa 500 mil óbitos da covid-19 com rejuvenescimento das vítimas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU