16 Junho 2021
A imagem do sacerdote na Igreja está passando por uma grande mudança. Este é um fato que também se percebe nas ordenações sacerdotais na Alemanha? O professor de teologia Richard Hartmann de Fulda analisou as homilias feitas durante as ordenações sacerdotais do ano passado. Na entrevista publicada em Katholisch ele fala sobre os resultados a que chegou (Fulda - 8 de junho de 2021).
As ordenações sacerdotais nas dioceses são talvez as ocasiões mais importantes em que os bispos falam publicamente sobre o sacerdócio, mas como o fazem? O teólogo Richard Hartmann, professor de teologia pastoral e homilética da Faculdade de Teologia de Fulda, analisando de perto as homilias proferidas durante as celebrações do ano passado, diz que ficou bastante decepcionado. Na entrevista a seguir, ele explica os motivos pelos quais, em sua opinião, os bispos perderam uma oportunidade.
A entrevista com Richard Hartmann, realizada por Christoph Brüwer, é publicada por Katholisch e reproduzida por Settimana News, 15-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Prof. Hartmann, por que examinou as homilias das ordenações sacerdotais do ano passado?
Os motivos são vários: em primeiro lugar, porque trabalhei pessoalmente por cerca de vinte anos na formação para a pregação. Além disso, porque tenho lidado há tempo com os desenvolvimentos estruturais nas dioceses, os modelos relativos aos papéis e assuntos similares - atualmente, em particular na diocese de Fulda. A respeito deste tema, estive em várias dioceses da Alemanha.
Atualmente, o papel do sacerdote e dos funcionários em tempo integral está mudando profundamente, assim como voltou ao primeiro plano o tema do sacerdócio comum a todos os fiéis. Por isso queria ver se o que se encontra nos documentos orientadores das dioceses sobre os desenvolvimentos estruturais da pastoral se reflete também nos sermões dos bispos e no que eles dizem publicamente sobre o sacerdócio.
Por que você levou em consideração justamente as homilias das ordenações sacerdotais?
Na maioria das dioceses, existem duas, três circunstâncias importantes durante o ano em que os bispos falam publicamente sobre o sacerdócio. A mais importante é certamente aquela das ordenações sacerdotais em que se pode esperar que o bispo diga algo a respeito, tanto aos candidatos ao sacerdócio como ao povo de Deus. Outra ocasião é a Missa Crismal, na qual se renova a promessa da obediência. Além disso, em muitas dioceses, são organizados encontros para os sacerdotes.
Há algum tempo tenho a impressão de que o que os bispos dizem publicamente em seus sermões não é inteiramente compatível com o que está escrito nas diretrizes do novo planejamento da pastoral. Aproveitei o tempo da pandemia para ver como são os textos dos sermões que recebo; exceto um, recebi todos. Portanto, considerei esses textos simplesmente com base em seu conteúdo.
O que você notou?
Fiquei desiludido, porque muitos discursos têm pouca pertinência ou - o que considero igualmente negativo, senão pior - porque se referem apenas à vocação pessoal dos candidatos. É verdade que não há acentos dramáticos de puro clericalismo, mas praticamente não há qualquer aceno ao fato de ser padre hoje, como eu teria esperado ou desejado.
A quais temas você está se referindo?
Dois em particular. Por um lado, a mensagem sobre o que aguarda os candidatos à ordenação e sobre como o bispo, a quem prometeram reverência e obediência, os apoiará. Em decorrência das profundas mudanças que estão ocorrendo na Igreja, é realmente uma situação aventurosa aquela a que os padres estão hoje estão se encaminhando, muito diferente daquela de 40 anos atrás, quando eu fui ordenado.
Por outro lado, também uma mensagem ao povo dos fiéis, para que não coloquem os novos sacerdotes em um trono inalcançável, mas expressem sua solidariedade e não os deixem sozinhos.
Mas, se em todos os discursos a colaboração com os/as agentes pastorais é mal e parcamente mencionada, ao passo que a santidade do serviço sacerdotal e a vocação sacerdotal são fortemente enfatizadas, então tudo se torna difícil.
Que outros pontos você notou?
Alguns tópicos são pouco ou nada abordados. A tarefa do sacerdote no diaconato, por exemplo, de cuidar de pessoas necessitadas, foi mencionada em menos de um terço dos textos e bem superficialmente.
Quase não se fala do problema de ser padre numa Igreja que está perdendo cada vez mais a sua relevância e que deve procurar o diálogo social.
Também não há lugar para discussões sobre as mudanças pastorais nas dioceses e no serviço de liderança dos sacerdotes ou o que significa hoje viver no celibato.
Também considero relevante que se fale da Igreja e dos sacerdotes sem nenhuma menção ao ecumenismo e à solidariedade entre as confissões.
Todos esses são argumentos que me levam a perguntar por que os bispos não aproveitam essas oportunidades, tanto como próprio empenho quanto como mensagem para o povo de Deus.
Mas um bispo não pode tratar de todos os temas em seu sermão.
Isso é verdade, é claro, e os bispos também devem fazer suas escolhas. As homilias de ordenação não são uma conferência teológica pastoral, mas têm a ver com a índole de cada bispo. Existem muitos estilos diferentes. Mas o fato de esses temas não aparecerem ou mal são citados em 26 sermões já é decepcionante.
No ano passado, no centro das homilias de ordenação estava a relação dos sacerdotes com Cristo, sua espiritualidade e a sacramentalidade do ministério. Todos são sermões fora do tempo que desvanecem no espiritual, algo que neste momento não tem utilidade para ninguém.
Além das dioceses alemãs, você também analisou os sermões proferidos durante as ordenações da Fraternidade São Pio X. Por quê?
Em primeiro lugar, porque caíram em minhas mãos enquanto eu procurava os sermões das ordenações sacerdotais na Alemanha. Admito que pensei que encontraria algo lá que fosse completamente em contraste com as minhas afirmações teológicas. Mas a diferença entre um sermão deste ambiente e aquele de alguns bispos católicos na Alemanha não é tão grande. Isso também se deve ao fato de que quase todos os sermões são fortemente centrados sobre a espiritualidade, sobre a relação com Cristo e sobre a sacramentalidade e não tanto sobre a realidade eclesial-pastoral.
Na conclusão da sua análise, você escreve que os bispos perderam uma oportunidade nas homilias por ocasião das ordenações presbiterais. O que quis dizer?
Na realidade, gostaria que os bispos olhassem mais de perto quais sacerdotes eles enviam e em qual situação eclesial e que apoio podem dar a eles. Muitas vezes existe a ideia, tanto entre os sacerdotes como nas comunidades, de que o padre deve fazer tudo e que toda a realidade da Igreja depende da sua atividade.
Em apoio aos sacerdotes, portanto, gostaria que o povo de Deus os sentisse inseridos na vida real e não os considerasse como uma contraparte à qual atribuir toda responsabilidade quando algo não funciona.
O diretor do seminário de Fulda, Dirk Gärtner, que também é presidente da Conferência alemã dos Reitores, foi um dos primeiros a ler o artigo. Ele me disse ter entendido o quão perigoso é dar tão pouca ênfase à importância do padre se sentir parte de seu povo - porque é isso que favorece o clericalismo.
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Bispos e ordenações: oportunidades perdidas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU