15 Junho 2021
Para a Prêmio Nobel de Economia de 2019, Esther Duflo, também é hora de repensar a responsabilidade social das empresas.
A reportagem é de Mariano Mangia, publicada por La Repubblica, 14-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Ricos ou pobres, realmente temos um destino comum, compartilhado. Se houver uma enorme onda de contágios na Índia porque a taxa de vacinação está abaixo de 2%, isso significa que a variante indiana, hoje a variante delta, teve uma possibilidade de emergir e está ameaçando nossa existência, embora sejamos vacinados, simplesmente porque as vacinas não são tão eficazes contra ela. Poderíamos escapar da variante delta, mas poderíamos falhar com a variante gama ou a variante épsilon ou zeta. Portanto, temos um destino compartilhado com outros, no curto prazo com o Covid e em um tempo menos imediato com o aquecimento global”.
Segundo Esther Duflo, a mais jovem ganhadora do Nobel de economia da história e professora do Massachusetts Institute of Tecnology de Boston, essa é uma das lições que o Covid e a pandemia nos ensinaram. Nesta entrevista exclusiva ao La Repubblica, ao lado de seu discurso no recente Amundi World Investment Forum, também nos ensinou que precisamos de governos capazes de funcionar e dotados de recursos financeiros adequados, sem um governo não há compra de máscaras, vacinas e campanhas de vacinação, assim como parece-lhe já consideravelmente superestimada a ideia de que são necessários incentivos financeiros para as pessoas, tanto os pobres quanto os ricos que trabalham, afinal, ela destacou, o teto salarial não tornou mais preguiçosas as estrelas do mundo do esportes USA.
Para uma especialista em economia da pobreza e da desigualdade de renda, não poderíamos deixar de pedir uma avaliação sobre os pacotes de estímulo lançados nos EUA e Europa do ponto de vista da luta contra as desigualdades. “Não sei o que fizeram para a desigualdade, depende de como é medida, mas acredito que foram absolutamente essenciais para evitar um enorme aumento da pobreza”, foi sua resposta. Não houve um aumento significativo da pobreza nos Estados Unidos, onde também um grande número de pessoas perderam seus empregos, porque a combinação de subsídios e do cheque entregue diretamente impediram tal resultado, explicou. Ao mesmo tempo, as fortunas de pessoas muito ricas também aumentaram e, portanto, o incremento líquido das desigualdades ainda será provavelmente muito alto durante a crise covid-19.
"Mas o que mais importa é que houve um impacto direto sobre a pobreza muito inferior do que poderia ter sido e na Europa foi ainda melhor: as pessoas conseguiram manter seus empregos e foram pagas por meio de seu empregador, em um forma que preservou o sentido de normalidade de sua vida, pelo menos desse ponto de vista”. Onde ambos os sistemas falharam um pouco, observou, é com pessoas que já eram extremamente pobres e, portanto, fora do sistema. Outra questão abordada foi o risco de que a transição energética e a digitalização, no centro de programas de recuperação como o Next Generation da União Europeia, possam produzir um aumento das desigualdades.
“Sim, certamente existe o risco de que a automação, a digitalização ou a inteligência artificial possam aumentá-la. A natureza dos empregos existentes mudará. Operações simples e rotineiras podem ser realizadas por uma máquina ou por software, muitos dos atuais empregos se tornarão redundantes. A pergunta é o que acontece com as pessoas que fazem esses trabalhos hoje: serão criados outros postos de trabalho para pessoas como elas e quão fácil será consegui-los? O que a história sugere é que um processo de transição acontece muito lentamente e, enquanto isso, as pessoas sofrem enormemente. Devemos, portanto, pensar em como ajudar e acompanhar as pessoas nesta transição através do nosso sistema de proteção social”.
Finalmente, há o papel das empresas a ser reconsiderado. Hoje, afirmou a economista francesa, precisaríamos substituir a frase de outro ganhador do Nobel, Milton Friedman, que defendia que a única verdadeira responsabilidade das empresas é obter lucros, por algo mais adequado aos tempos em que vivemos. “A responsabilidade social das empresas neste 'esplêndido mundo novo' de maiores desigualdades é mostrar respeito”, concluiu. “Respeito pelo governo, com a disponibilidade de pagar os impostos e rever as alíquotas fiscais. Respeito pelos trabalhadores, em particular pela dignidade dos trabalhadores, a forma como são contratados, pagos e despedidos, e o respeito pela Terra, a forma como os produtos são criados e vendidos”.
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Transição energética, digitalização e inteligência artificial correm o risco de aumentar as desigualdades - Instituto Humanitas Unisinos - IHU