05 Abril 2021
Olhando para os doces coelhinhos da Páscoa de chocolate nas prateleiras dos supermercados, quase ninguém pensa em exploração. No entanto, o cacau de que são feitos é principalmente produzido com o trabalho de crianças. Uma lei poderia mudar a situação?
A reportagem é de Mey Dudin, publicada por Domradio, 03-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os dias que antecedem a Páscoa são uma história de dor. Até os coelhinhos da Páscoa de chocolate costumam ter uma história de dor que começa na África Ocidental. Em Gana ou na Costa do Marfim, as crianças "manipulam facões, espalham pesticidas, carregam cargas pesadas demais, perdem a possibilidade de frequentar a escola", diz Friedel Hütz-Adams, pesquisador do Südwind-Institut para a Economia e Ecumene de Bonn. Por uma barra de chocolate ao leite, que é vendido aqui por 89 centavos, um agricultor na África recebe menos de seis centavos. Estima-se que somente em Gana e na vizinha Costa do Marfim, 1,6 milhão de crianças trabalham nas plantações.
Os produtores de cacau em Gana precisam ser defendidos. Em um mundo globalizado, até mesmo um coelhinho da Páscoa de chocolate é um produto muito complexo, que exige muitas etapas para ser feito. Até o verão, o Bundestag (o parlamento alemão) deverá aprovar a Supply Chain Act, que poderia assim também oferecer proteção aos produtores de cacau em Gana.
“Cerca de 10% da colheita mundial é transformada em chocolate nas fábricas alemãs”, explica Hütz-Adams. A Lei da Cadeia de Abastecimento deveria, portanto, atingir muitas empresas. Se a lei for aprovada, as grandes empresas enfrentarão multas de até sete dígitos a partir de 2023 se ignorarem os riscos em suas cadeias de abastecimento.
“Na África Ocidental, não é um problema encontrar evidências de trabalho infantil e rendas miseráveis”, disse Hütz-Adams. Atualmente, o chamado preço agrícola que os agricultores recebem por suas amêndoas de cacau é o equivalente a 1500 euros por tonelada. Para uma renda de subsistência, deveria ser de pelo menos € 2.500. O caminho da planta do cacau até a prateleira do supermercado é quase sempre impossível de ser rastreado. A colheita vem quase que exclusivamente de muitos pequenos agricultores que não têm condições de negociar com os compradores, as grandes multinacionais.
Estima-se que apenas um terço dos agricultores esteja organizado em cooperativas. Através dos pontos de coleta, que existem por toda parte nas regiões de cultivo da África, onde as amêndoas são limpas, secas e fermentadas, o cacau é colocado em contêineres para ser transportado por navio através do mar. Até mesmo nessas fases iniciais, muitas vezes estão envolvidos subcontratados das três grandes corporações que dominam o mercado, mas dos quais quase ninguém conhece os nomes: Barry Callebaut (Suíça), Cargill (EUA) e Olam International (Singapura).
Na Europa, as amêndoas são transformadas em massa de cacau, manteiga de cacau e cacau em pó em países como a Alemanha ou a Holanda. Em seguida, outras empresas, como Lindt ou Storck assumem - e ganham dinheiro com a efetiva criação de valor. Esses comerciantes geralmente compram apenas a massa ou o pó; eles não entram em contato com a amêndoa de cacau em si. No entanto, há cada vez mais discussão na indústria sobre como tornar a produção de chocolate mais justa. Existem marcas muito utilizadas como Fairtrade. Mas mesmo estas não estão tão à altura do que o nome sugere.
De acordo com Hütz-Adams, as pessoas que trabalham nas plantações recebem em média cerca de um centavo por tablete a mais, é um primeiro passo, mas ainda insuficiente para sobreviver.
As grandes multinacionais também estão tentando satisfazer a necessidade das pessoas dos países ricos de se sentirem bem com a consciência ao comerem chocolate. A Tony's Chocolonely, por exemplo, criou sua própria fundação para garantir que seu chocolate seja produzido "sem escravos".
Existem contratos de cinco anos com cooperativas de Gana e da Costa do Marfim e os agricultores recebem mais dinheiro pelo cacau. Outras multinacionais também estão entrando em ação: a Lindt tem um registro dos agricultores e das terras em Gana. Aldi, Lidl e Rewe iniciaram projetos para apoiar os produtores de cacau. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.
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Chocolate: exploração e trabalho infantil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU