30 Março 2021
Foi o padre Dan, um pastor anglicano que cumpre sua missão como capelão na prisão londrina de Belmarsh, quem entregou a carta do Papa Francisco. Destinatário: Julian Assange, o fundador do Wikileaks que os Estados Unidos querem processar e que o Reino Unido mantém detido em uma cela à espera que a disputa judicial com Washington seja resolvida.
A reportagem é de Nello Scavo, publicada por Articolo 21, 29-03-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Isso foi revelado por Stella Moris, companheira de Assange. “Depois de uma noite difícil, Julian acordou hoje pela manhã - escreveu Moris no Twitter no domingo passado - com uma mensagem gentil e pessoal do Papa Francisco entregue na porta de sua cela pelo padre da prisão. Nossa família deseja expressar nossa gratidão aos numerosos católicos e outros cristãos que lutam por sua liberdade”.
O conteúdo da mensagem não foi divulgado. Mas o gesto do Papa não passou despercebido em Washington, onde o novo presidente, o católico Joe Biden, nos últimos dias deu mandato aos advogados do governo para apresentar recurso contra a falta de extradição de Assange do Reino Unido, onde o fundador do Wikileaks encontra-se detido no aguardo de que uma variedade de questões judiciais relacionadas ao seu caso sejam resolvidas.
A impugnação da não extradição confirma que Joe Biden quer processar Assange, indiciado nos EUA por 18 acusações por ter colaborado com a analista da CIA Chelsea Manning e de ter divulgado centenas de milhares de mensagens diplomáticas ultrassecretas em 2010. Um dos vazamentos mais colossais da história.
No início do ano, após o indeferimento do seu pedido de extradição para os Estados Unidos, um tribunal britânico decidiu que Assange, de qualquer forma, não pode ser libertado, após os 7 anos como refugiado transcorridos como recluso na embaixada do Equador em Londres e os quase 2 como detento no aguardo de julgamento na prisão de segurança máxima de Belmarsh, nos arredores da capital do Reino Unido.
Por ter contribuído a revelar arquivos secretos do Pentágono e de outras instituições, incluindo documentos sobre crimes de guerra cometidos no Iraque e no Afeganistão, Assange enfrenta uma sentença de 175 anos de prisão nos Estados Unidos e prisão perpétua.
Manning, que foi informante secreta do WikiLeaks fornecendo informações confidenciais sobre crimes cometidos por oficiais e militares dos EUA em missões no exterior, há um ano tentou suicídio na prisão. Em 2010, o então soldado Bradley Manning roubou centenas de milhares de documentos militares e diplomáticos confidenciais, alguns ultrassecretos, enquanto desempenhava sua função como analista de inteligência em Bagdá.
Assim que obteve material sensível - incluindo um vídeo de helicópteros estadunidenses matavam 12 civis desarmados - Manning o entregou ao WikiLeaks, que o divulgou criando forte constrangimento para os EUA. Presa e encarcerada primeiro no Kuwait e depois em confinamento solitário na prisão militar de Quântico, Virgínia, ao final do processo perante a corte marcial, Manning conseguiu evitar a condenação pela acusação mais grave, a de conivência com o inimigo e de alta traição, crime que inclui pena de morte. Mas ela foi condenada a 35 anos de prisão. Uma sentença em 2017 comutada pelo então presidente Barack Obama, quando a analista havia cumprido sete anos de prisão, período durante o qual decidiu mudar de gênero, trocando seu nome de Bradley para Chelsea. No início de março de 2020, Manning foi novamente presa por se recusar a testemunhar perante o grande júri no caso de Assange. Poucos dias após a tentativa de suicídio, recuperou a liberdade.
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Assange, carta do Papa Francisco ao fundador do Wikileaks - Instituto Humanitas Unisinos - IHU