O fundador de "Ajuda à Igreja que Sofre". Processo de beatificação é suspenso

Foto: Redigolo | Wikimedia Commons

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11 Fevereiro 2021

Foi um dos grandes gestores da solidariedade da Igreja Católica no mundo. Werenfried van Straaten, mais conhecido como “padre Tocino”, foi o fundador da Ajuda à Igreja que Sofre, instituição que se tornou na grande garantia aos cristãos perseguidos no mundo. Agora, uma investigação revela uma dura acusação, de tentativa de estupro, contra o religioso, que faleceu em 2003 e cujo processo de beatificação foi pausado pelo Vaticano.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 10-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Segundo a publicação Zeit “Christ & Welt” (C&W), uma visita apostólica às obras de Werenfried em 2009 revelou “violações em quatro áreas do ensino da moral e social católicos”, tal e como explicou, o visitador e bispo auxiliar de Paderborn, Manfred Gothe, em uma carta ao então prefeito da Congregação para o Clero, o cardeal Mauro Piacenza. “Há uma tentativa de estupro, excessos no estilo de vida, déficits consideráveis na gestão pessoal e suscetibilidade às ideias fascistas”, relatou Grothe ao máximo responsável do clero católico.

Segredo vaticano

A vítima de Werenfried (uma trabalhadora da fundação) denunciou a tentativa de estupro, que ocorreu em 1973, para a instituição, em 2009. A mulher queria permanecer no anonimato, e evitar, com seu testemunho, que seu suposto estuprador subisse aos altares. De fato, Piacenza assegurou que Roma não daria o consentimento à beatificação do religioso, porém ordenou o segredo, e somente se permitiu informar aos diretores da organização. “Se deve evitar transmitir uma imagem errônea do instituto pelos atos de seu fundador”, destacou o cardeal.

Segundo a publicação, Ajuda à Igreja que Sofre estava a par do processo, e de fato acreditou na vítima, que foi indenizada com 16 mil euros “em reconhecimento do seu sofrimento”. Sobre o resto das acusações contra Werenfried, a organização as admite e as classifica como “muito graves”. Porém, justificam que não se publicara nada “para evitar danos à reputação da instituição” e seu trabalho em todo o mundo.

Depois da publicação desta nota, a Fundação enviou um comunicado no qual admite os fatos, e faz os seguintes apontamentos:

  • Em 2010, uma pessoa apresentou uma acusação de agressão sexual contra o padre van Straaten, que supostamente ocorreu em 1973. O padre van Straaten já havia falecido em 2003.
  • O relatório era verossímil, ainda que a questão de culpabilidade já não pudesse se esclarecer devido à morte do padre van Straaten. Os responsáveis seguiram a política recomendada a nível eclesial na Alemanha, quanto ao procedimento de casos de abusos. Por isso se concedeu à pessoa afetada uma ajuda econômica de 16 mil euros em compensação pelo seu sofrimento.
  • Os responsáveis pela Aid to the Church in Need (Ajuda à Igreja que Sofre) informaram imediatamente às autoridades eclesiásticas correspondentes. O início de um procedimento de caráter judicial, que fosse levantado desde o início, foi impossível, pois o acusado já havia falecido.
  • A vítima expressou seu desejo de confidencialidade. A Ajuda à Igreja que Sofre respeitou este pedido.
  • Até agora não se tem conhecimento de outras denúncias contra o padre van Straaten de violência sexual.

O holandês Werenfried van Straaten, nascido em 1913, conhecido como “padre Toucinho” (o apelido, tradução literal de Speck, que em alemão é toucinho, se refere às campanhas de alimentação, especialmente carne, para os refugiados de guerra), foi conhecido por sua campanha, depois da Segunda Guerra Mundial, pela reconciliação na Alemanha. Fundou em 1948 a Ajuda à Igreja que Sofre, que foi reconhecida como associação papal em 1984. Em 2011 passou a ser Fundação Pontifícia, sendo presidida desde então pelo cardeal Piacenza.

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