16 Novembro 2020
"O Papa Francisco, assim como o Papa João XXIII, não agrada à burguesia, porque, tendo que escolher, escolhe o lado dos pobres", escreve Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, em artigo publicado por Chiesa di Tutti, Chiesa dei Poveri, 14-11-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Caras amigas e amigos, publicamos no nosso site, Chiesa di Tutti, Chiesa dei Poveri, uma resenha crítica, embora bastante gentil, de Vittorio Bellavite a um livro de Massimo Franco que dá por consumada no insucesso a chamada “parábola” do pontificado de Bergoglio.
Como nota a resenha, mais do que um livro, do qual se reconhecem, aliás, as ricas informações, trata-se de uma operação editorial e cultural de grande porte, na qual o jornal Corriere della Sera, ao qual Massimo Franco pertence, se empenhou ao distribuir o livro junto com o jornal nas bancas e tentando transmitir ao público a ideia inquietante de um “enigma Bergoglio”, assim como se falou nos tempos do Papa João XXIII, mas com uma intenção bem diferente, de um “mistério Roncalli”.
A referência ao Papa Roncalli não é casual, porque, mesmo em relação àquele papa, o Corriere della Sera produziu uma ação de demolição, que, daquela vez, foi confiada a outro jornalista de renome, Indro Montanelli, que se prestou a dar voz às posições antijoaninas da Cúria de então, mesmo que depois ele escreveu que havia se arrependido.
Resta saber o que há de tão grave tanto em um quanto em outro, o Roncalli da Pacem in Terris e o Bergoglio da Fratelli tutti, para que um jornal “moderado” (entendido como uma virtude) e geralmente conhecido como defensor da lei e da ordem, ataque, a ponto de desejar a sua queda, dois papas tão populares pela sua bondade e mansidão.
Não deve se tratar de um alerta despertado pela insistência deles na Trindade, porque não é fácil que observadores externos que não entram na lógica daquilo que julgam, se deem conta do porte subversivo de uma fé inclusiva que coloca no centro de tudo a misericórdia do Pai. E então por quê?
A pergunta poderia ser repassada pelo jornal para a burguesia, da Lombardia ou do Vale do Pó, que ele representa ou acha que interpreta. Que é o mesmo que se perguntar por que papas como Roncalli e Bergoglio são atacados por aquele tipo de personagens que um mítico polemista do jornal L’Unità, Fortebraccio, chamava de “Lorsignori”, ou por aqueles prepotentes tão numerosos a ponto de não poderem ser chamados pelo nome, que em Milão descendem em linha reta daquele “Inominado”, ainda não convertido, contado por Manzoni...
O que esses dois papas têm em comum de desagradável para esses senhores? O que eles têm em comum é que estão do lado dos pobres. O Papa João XXIII abriu o Concílio dizendo que queria uma “Igreja de todos e sobretudo dos pobres”: e o nosso site tem razão em recordar isso, tendo assumido o seu nome precisamente a partir daí. E Francisco abriu o seu pontificado dizendo: “Ah, como eu gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres!”.
A confirmação de que é disso que se trata vem de outro jornal que tem uma atitude diferente em relação ao Papa Francisco, o La Repubblica, que nesse sábado, 14 de novembro, noticiando uma pesquisa do instituto Demos segundo a qual entre 2016 e 2018 a popularidade de Francisco teria diminuído ligeiramente, de 82% para 72%, atribui a causa disso ao apoio declarado e repetido de Francisco aos “pobres do mundo”, especialmente aos imigrantes que cruzam as nossas fronteiras.
Portanto, esta é a solução do “enigma”: o Papa Francisco, assim como o Papa João XXIII, não agrada à burguesia, porque, tendo que escolher, escolhe o lado dos pobres.
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O enigma? Os pobres. Artigo de Raniero La Valle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU