26 Outubro 2020
"A crise pandêmica nos coloca diante de uma escolha: queremos mais mortes ou salvaguardar o sistema econômico? Aqui se move a decisão de um novo lockdown, mas o sistema econômico é desnudado e as palavras de Francisco retornam: 'Pensávamos que sempre seríamos saudáveis em um mundo doente'", escreve Enzo Fortunato, frei franciscano e diretor da Sala de Imprensa do Sacro Convento de Assis, Itália, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 25-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O tempo corre rápido, cheio de questões que perturbam e orientam. Em maio de 2019, o Papa Francisco, com uma carta, convocava jovens economistas de todo o mundo a Assis, para o evento Economy of Francesco: “Queridos amigos, escrevo para convidá-los a uma iniciativa que muito desejo: um evento que permita-me conhecer aqueles que hoje estão se formando e estão começando a estudar e praticar uma economia diferente, aquela que faz viver e não mata, que inclui e não exclui, que humaniza e não desumaniza, que cuida da criação e não a depreda. Um evento que ajude a nos reunirmos e nos conhecermos, e nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a economia atual e dar alma à economia de amanhã. Sim, é preciso ‘re-animar’ a economia! E qual é a cidade mais adequada para isso do que Assis, que durante séculos foi o símbolo e a mensagem de um humanismo de fraternidade?”.
Ele os convocava de 26 a 28 de março. As universidades de todo o mundo, as cúrias diocesanas, os franciscanos espalhados por toda a parte, mobilizaram-se para levar seus representantes a Assis. A pandemia não permitiu esse encontro, mas a vontade de fazê-lo permaneceu intacta. O encontro Economy of Francesco será realizado de 19 a 21 de novembro, apesar da pandemia, com a participação online de mais de 2.000 jovens com menos de 35 anos, 56% homens e 44% mulheres. Empresários, economistas, estudantes, promotores de atividades a serviço do bem comum e de uma economia sustentável, da Martinica ao Vietnã, da Zâmbia à Austrália, da Alemanha ao Chile, movidos pelo objetivo comum de construir um mundo mais justo e sustentável. Entre eles Lilly, 12, a “Greta da Tailândia” que há muito luta por um país sem plástico, promovendo a coleta de lixo nos canais de Bangkok, mas também Alfredo, 35, assistente social português que com um grupo de amigos deu origem à cooperativa social "WelcomeHOME" onde os sem-teto atuam como guias turísticos, mostrando o Porto "com seus olhos" e Ignacio, de 32 anos, da Argentina, que aos 18 trabalhava num dos bancos mais importantes do país e lembra a dor de ter que rejeitar o pedido de empréstimo de uma viúva. Na Economy of Francesco, eles discutirão ideias, desafios e propostas para uma nova economia: management e dom, finanças e humanidade, trabalho e cuidado, energia e pobreza, agricultura e justiça, negócios e paz, mulheres pela economia, CO2 das desigualdades, lucro e vocação, empresas em transição, vida e estilos de vida, políticas e felicidade.
A dramática situação econômica e sanitária atual, à luz da pandemia, está travando o mundo e fazendo as pessoas compreenderem a verdade, a importância e a necessidade de um novo processo econômico: como o Papa Francisco ressaltou em 27 de março, “ninguém se salva sozinho”. A verdade é que a crise revela o fracasso da perspectiva econômica de acumulação por si só, sem cuidar do outro.
A importância é demonstrada pelas adesões de todas as partes do mundo, de jovens, mas também de prêmios como o Nobel Amartya Sen e Muhammad Yunus. E, por fim, a necessidade: se a verdade e a importância não bastassem, a crise pandêmica nos coloca diante de uma escolha: queremos mais mortes ou salvaguardar o sistema econômico? Aqui se move a decisão de um novo lockdown, mas o sistema econômico é desnudado e as palavras de Francisco retornam: "Pensávamos que sempre seríamos saudáveis em um mundo doente".
Agora vamos rumo à Economy of Francesco, de 19 a 21 de novembro: na terça-feira na sala de imprensa do Vaticano, pela primeira vez na história sem jornalistas presentes, falará Luigino Bruni, diretor científico do Comitê organizador, Francesca Di Maolo, presidente do Instituto Serafico. e a irmã Alessandra Smerilli, economista experiente.
Temos a certeza de que mesmo online haverá uma grande participação, estamos fortalecendo o sistema de conexões do Sagrado Convento de Assis, de onde partiu o Homem que quebrou os clichés de 1200, nos colocando uma pergunta: “Como queremos continuar, como irmãos ou como egoístas?"
E o Papa assume o seu espírito de uma forma enfática e perspicaz, mas também orientadora. Agora cabe a nós escolher se queremos ser luzes acesas ou apagadas: existe a potencialidade para um novo mundo e a história tirada do Midrash nos ensina: “Dois irmãos tinham um campo e dividiam a colheita. Um tinha muitos filhos e o outro era solteiro. Cada um queria dar mais ao irmão e à noite, discretamente, cada um acrescentava grãos ao monte do irmão ... e pela manhã os montes eram sempre iguais. Mas uma noite, os dois irmãos se encontram e compreenderam o que cada um deles queria e se abraçam. Lágrimas escorreram, caíram no chão, e Deus disse: ‘Onde essas lágrimas caíram, quero que meu templo seja construído’".
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Assis. Jovens economistas convocados pelo Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU