30 Setembro 2020
"Se continuarmos assim, o que todos e todas vamos deixar para nosso futuro? O que vamos deixar para a nova geração? Qual vai ser o nosso legado para essas pessoas?", escreve Vitória Abranoski Soares, 13 anos, bolsista da rede jesuíta de educação e estudante do 7º ano do Colégio Medianeira, em Curitiba, cidade na qual reside.
Nós adolescentes e jovens, estamos num processo de transformações físicas e comportamentais e diante desta conjuntura de pandemia, nossas angústias e anseios ficam mais em evidência. Toda criança, adolescente ou jovem, tem um sonho de ser algo quando crescer, não é mesmo? Mas e se esses sonhos não se concretizarem? E se tudo que nos permeia, como o simples ar que respiramos, deixasse de existir?
Quando somos jovens, nos sentimos fortes, ligados em tudo que acontece no mundo e temos uma energia incrível. Mas quando se deparamos com o caos que está acontecendo com nossa casa comum, me sinto em alerta a seguir como a sueca Greta Thunberg, que nos chama para si a responsabilidade de lutar por um mundo melhor.
Sei que muitos jovens, principalmente, os mais vulneráveis, nem conseguem pensar no amanhã, são tantas desigualdades, violências e preconceitos. Eles estão muito ocupados com o hoje, tentando sobreviver, ainda mais se vocês forem um jovem negro da periferia. Mesmo assim, nós jovens precisamos ser fortes, resistentes o bastante para tentar construir um mundo menos difícil para as próximas gerações, lutando por mais políticas públicas e na luta por Direitos Humanos.
Estamos em meio a uma grave crise ambiental no Brasil, nunca antes vista, e que já havia sido agravada com o governo de Bolsonaro, pois o principal projeto de seu governo foi o de explorar a floresta amazônica e propôs uma iniciativa para favorecer a mineração e a exploração. Foi um desmonte de leis conquistadas. Com Bolsonaro, houve um processo muito rápido de destruição de florestas, diretamente relacionado aos incêndios que consumiram a Amazônia aliado a violência e extermínio dos povos indígenas. A diminuição do volume das chuvas também ocorre em boa parte do Brasil devido ao desmatamento da Amazônia e para agravar a destruição vivemos num momento onde o número de incêndios do Pantanal é 440% maior do que a média entre 2010 e 2019.
As juventudes precisam ser resistência contra um sistema que mata, onde o desenvolvimentismo a qualquer custo se esforça pelo maior lucro, mesmo com o maior dano possível. É um modelo econômico predador que favorece a poucos e prejudica a todos em escala mundial.
Nas últimas semanas, parece que estamos sendo constantemente bombardeados com notícias, informações (verdadeiras e falsas), e-mails e textos sobre a crise e é difícil nos concentrarmos em outras coisas. Mas o trabalho para salvar nosso planeta deve continuar. E esse trabalho envolve a luta contra todo tipo de discriminação e de injustiça. Ataque aos direitos humanos, desmatamento, crise hídrica, o colapso dos ecossistemas, tudo está interligado!
Penso que a crise ambiental que vivemos não é apenas econômica e política, mas também espiritual, nossa pachamama já deu os sinais que não está mais suportando este sistema, mas me preocupa que poucos começaram a pensar sobre isso e tomaram uma iniciativa. Se nada for feito a extinção da política ambiental no Brasil traz sérios riscos para a vida no planeta.
Somos a primeira geração que está sentindo as consequências da crise e somos a última geração que pode fazer a resistência. As pessoas só vão perceber que não dá pra comer dinheiro quando o último animal morrer, o último rio secar, a última árvore cair, o último ecossistema entrar em colapso, quando o céu entrar em escuridão pelos gases poluentes de fábricas, carros, caminhões e não é eu que digo isso mas sim nosso indígenas que estão sendo dizimados e sofrendo para salvar um pouco de nossa terra que já foi queimada, mais de 906 mil hectares e isso só na Amazônia, imagina no Pantanal que neste momento está em chamas, onde brigadistas ficam com o sentimento de impotência diante da destruição. Lembrando que apesar de alta das queimadas na Amazônia e no Pantanal, orçamento destinado à contratação de pessoal de prevenção e controle de incêndios florestais em áreas federais sofreu forte redução entre 2019 e 2020.
O Pantanal de 150 mil quilômetros quadrados, lar de onças, jacarés e centenas de outras espécies de animais, extremamente rico em espécies, está prestes a entrar em colapso – e em um futuro não muito distante. Se continuarmos assim, o que todos e todas vamos deixar para nosso futuro? O que vamos deixar para a nova geração? Qual vai ser o nosso legado para essas pessoas?
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Jovens como resistência - Instituto Humanitas Unisinos - IHU