11 Agosto 2020
Iván Agulló, cosmólogo, mereceu o prêmio Jovem Pesquisador da Sociedade Internacional de Relatividade Geral e Gravitação, e ganhou em duas ocasiões o primeiro prêmio do importante concurso de ensaios da Gravity Research Foundation, premiação recebida antes por Stephen Hawking, Roger Penrose e vários prêmios Nobel.
Agulló recebeu outros prêmios brilhantes, mas não tenho espaço. A respeito disto pergunto, do espaço, o tempo e a gravidade, que conduzem você com este universo para onde? Nem Iván sabe, e olha que sabe muito! Leiam o seu livro: “Mas allá del big bang” (Debate). Falou destes assuntos no auditório do CosmoCaixa Barcelona, e o tempo voou.
A entrevista é de Víctor-M. Amela, publicada por La Vanguardia, 10-08-2020. A tradução é do Cepat.
Havia cientistas em sua casa?
Meu pai era caminhoneiro, transportava verduras a Lleida, e voltava com farinha.
Como chegou à ciência?
Quando criança, gostava de escutar as conversas dos mais velhos. E me fascinaram as matemáticas de um modo... muito louco.
Muito louco?
Senti que eram a linguagem da natureza, a linguagem em que está escrito o universo!
E o que aconteceu?
Mergulhei em fórmulas matemáticas, para entender tudo.
O universo pode ser explicado em uma fórmula?
O ser humano criou maravilhas. E a mais sublime de todas é a equação que descreve a teoria da relatividade geral.
Einstein a criou. O que nos disse?
Disse-nos o que são o espaço, o tempo e a gravidade.
E o que são?
A gravidade é a geometria do contínuo espaço-tempo.
Ah. Não é uma força, então?
Não. É geometria. A massa dos corpos celestes – estrelas, planetas – curva o espaço-tempo. Assim, quanto mais densidade de massa...
... maior curvatura. Recordo-me de Carl Sagan, ilustrando com bolas de bilhar...
... sobre uma tela, certo. A curva que nessa tela cria a massa da bola é a sua gravidade!
Como Carl Sagan foi grande!
Tinha o dom da comunicação e aproximou a ciência da sociedade. É uma contribuição impressionante para a humanidade. Inspira-me.
Por isso publica livros de cosmologia?
Sim. A cosmologia estuda o conjunto de tudo o que existe: o universo. Sua extensão, sua duração, sua estrutura...
Desde quando nos perguntamos pelo universo?
Desde que somos humanos. O morfema grego para “homem” é anthropos, e sabe o que significa, literalmente?
Não.
“Aquele que olha para cima”.
Oh... Olhamos, e o que vemos?
Primeiro uma manifestação divina: o deus da terra reclinado, os gregos; tartarugas sobre elefantes, os hinduístas...
Para os egípcios, o firmamento noturno era uma deusa nos cobrindo.
A deusa Nut. Toda cultura tem seu modelo cosmogônico. O primeiro modelo científico foi oferecido pelos gregos: calcularam o raio da esfera terrestre! Acreditavam que era fixa, isso sim.
Até Copérnico e Galileu: “Move-se”.
E Galileu, preso. E virá Newton... e trará a maior revolução científica da história da humanidade.
Sim?
Fundou a ciência moderna! Definiu espaço e tempo como inertes e imutáveis, cenário da física. Suas leis da mecânica trazem a revolução industrial. E até hoje.
Mas vem Einstein... e o repara!
Sim. A cosmologia atual confirma o que em 1915 Einstein incorpora em sua fórmula da relatividade geral: a gravidade. Tudo o que predisse se confirmou... exceto nas primeiras frações de segundo do universo.
Aí não? Por quê? O que aconteceu aí?
As partículas seguiram outra lei: a mecânica quântica! Einstein não a aceitou. Até o ano de 1931. Então, sim, assumiu seu erro, aceitou que o universo segue se expandindo.
E é assim?
Tudo vai se separando, sim, como a massa de um pão que se esponja e cresce no forno. Ou como um globo que enchemos de ar.
E este universo em permanente expansão, quando começou a se expandir?
Podemos retroceder até 13,8 bilhões de anos atrás..., mas antes disso não temos ainda evidência alguma de um “começo”.
Mas... houve ou não houve um big bang?
Não podemos saber! Ninguém sabe. A ciência de Einstein não serve para isso, é um terreno da física quântica. Nisso trabalho hoje... Nada melhor que entender o universo!
E você tem alguma hipótese?
Sim, a chamo de gravidade quântica em laços.
Em que consiste?
O big bang não seria outra coisa que um big bounce, isto é, um “grande rebote” de um universo que estava prestes a entrar em colapso.
Uma batida nova, como em um coração.
Talvez uma só vez, talvez um ciclo de infinitas vezes? Rastreio, hoje, o fundo cósmico de micro-ondas, procuro cicatrizes com memória disso, uma pintura rupestre do cosmos...
Como era o universo no rebote?
Talvez matéria difusa. Não estruturas de cometas, planetas, estrelas, galáxias, aglomerados, superaglomerados... Entre um e outro superaglomerado, está o tecido cósmico. Assim é agora.
O que diria Einstein de seu big bounce?
Gostaria, porque Einstein amava a eternidade, não suportava a ideia de um começo. O tempo não é senão o espaço em ação, e pressagiou suas ondas gravitacionais.
O universo... entrará em colapso ou se dissipará?
Há algo misterioso que denominamos energia escura e que está acelerando a expansão da matéria do universo. Se as coisas seguirem assim, tudo se dissipará até ficar uma radiação resfriada... e já sem tempo.
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“Einstein amava a eternidade, não suportava a ideia de um começo”. Entrevista com Iván Agulló - Instituto Humanitas Unisinos - IHU