16 Julho 2020
"Enquanto a Igreja - entendida como realidade dinâmica composta de paróquias, dioceses, conferências episcopais, estruturas centrais - poderia e deveria se empenhar mais e melhor, acreditando de uma vez por todas na comunicação. E não considerando-a às vezes um ouropel, outras vezes um aborrecimento", escreve Fabrizio Mastrofini, jornalista, em artigo publicado por Settimana News, 15-07-2020. A tradução de Luisa Rabolini.
Gostaria de falar - se o diretor de Settimana News o permitir - sobre uma discussão recorrente que tenho com um padre jesuíta sobre o Twitter.
Antes de tudo, explico quem somos nós dois, interlocutores. Eu cuido da comunicação da Pontifícia Academia para a Vida e, nessa função, também sou responsável pelas mídias sociais: o canal do YouTube, as páginas do Facebook, o Twitter. O religioso de quem falo e com quem me confronto poderia ser definido como um jesuíta "de antigamente": formação sólida, refinado humor estilo inglês, grande capacidade de lidar com problemas combinada com prudência e capacidade de discernimento.
Em resumo: ele não concorda com a modalidade de comunicação que se realiza via Twitter. Acha que não é apenas inútil, mas prejudicial. Bem como são os próprios pressupostos da comunicação via Twitter a serem equivocados e até prejudiciais. Por força maior, torna-se uma modalidade superficial, que não permite explicação e, menos ainda, aprofundamento; é ontologicamente errada: gera ideias erradas, simplifica e faz com que realidades muito complexas pareçam simples; não ajuda a pensar, mas procede por slogans na maioria das vezes maximalistas.
É fácil criticar tudo e todos, jogar afirmações impossíveis de refutar. O Twitter se torna o epifenômeno das fake news, o iceberg de uma sociedade (e de uma Igreja, nesse ponto) dedicada a aparecer. De qualquer forma, desde que apareça.
Ele está certo? Ele está errado?
Quando tuito ele balança a cabeça, desconsolado, como se dissesse: aqui está, mais uma vez estamos nos entregando ao maximalismo atual.
A última vez que conversamos sobre isso, tentei dizer que, embora suas críticas sejam compreensíveis e compartilháveis, também existe uma maneira ética de comunicar, até mesmo via Twitter. Pretendia me referir, por exemplo, a um tweet daquela manhã em que, sobre um assunto complexo e árduo - de natureza científica - e destinado a provocar debate (o debate habitual via Twitter, é claro, de afirmações genéricas do tipo que qualquer pessoa que tenha algo para jogar ali, o faz...), pois bem, para evitar esse tipo de reações, eu havia inserido o link para o artigo relacionado ao tema em questão.
E argumentei que a ética da comunicação consistia exatamente nisso: o link, para que um seguidor interessado tivesse a disposição a fonte e pudesse ler um texto para formar uma opinião. Claro, um seguidor interessado e honesto; o seguidor desinteressado e desonesto não faz isso ou entende de forma equivocada de propósito. Mas isso não acontece apenas no Twitter, mas em todo lugar.
E então, qual foi a resposta do jesuíta? Uma sonora gargalhada e um menear da cabeça, como se dissesse: aqui está o nosso jornalista sem esperança em quem nunca se pode confiar completamente! Nada de "eticidade" da comunicação! É metafisicamente impossível qualquer forma de eticidade através da mídia social!
No entanto, estou convencido de que existe. Existe, pode existir, na medida em que a comunicação via Twitter reflete uma realidade (um Ente do Vaticano, neste caso, que tem conteúdos sobre os quais chamar a atenção) e promove uma reflexão e/ou coloca em pauta temas. É uma comunicação ética na medida em que nos esforçamos para "entrar em rede" com outras pessoas em questões delicadas, como questões sobre o final da vida, dos cuidados paliativos, do acesso e direito à saúde, dos migrantes, dos desafios tecnológicos, da qualidade da vida e da atenção ao meio ambiente.
Certamente, são argumentos que se apresentam com uma comunicação rápida e essencial, que, no entanto, tem a vantagem de ser multimídia: um vídeo dos voluntários, enfermeiros ou médicos da rede dos hospices do Reino Unido tem um impacto emocional significativo; leva a refletir, vai direto ao ponto e bate. E sem o Twitter, quem poderia conhecê-los e ouvi-los falar? Existe a possibilidade de dialogar com um mundo que de outra forma seria inacessível.
Ao mesmo tempo, existem centenas de milhares de contas falsas, ou pior, trolls, como no mundo real temos que lidar com pessoas tendenciosas e falsas. Além disso, mesmo aqui, por trás dessas contas falsas existem mecanismos reais e tentativas de controle e interesses econômicos relevantes em jogo.
Portanto, o Twitter é uma metáfora do mundo real, é uma expressão dele e, diante de tantos falsos, existem milhões de pessoas reais. De outra forma não alcançáveis - por exemplo - pela Pontifícia Academia para a Vida ou por outros entes que querem difundir uma visão da realidade mais positiva, ponderada e estimulante.
E apesar do jesuíta que eu conheço. Enquanto a Igreja - entendida como realidade dinâmica composta de paróquias, dioceses, conferências episcopais, estruturas centrais - poderia e deveria se empenhar mais e melhor, acreditando de uma vez por todas na comunicação. E não considerando-a às vezes um ouropel, outras vezes um aborrecimento.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Ouropéis, aborrecimentos, Twitter e… um jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU