11 Julho 2018
A “bioética global” entrou oficialmente no debate promovido pela Pontifícia Academia para a Vida com a assembleia realizada de 25 a 27 de junho e que foi aberta por um amplo discurso do Papa Francisco. O tema da “bioética global” tem como pano de fundo a encíclica Laudato si’, implica um alargamento das fronteiras da bioética aos temas da vida conjugado no sentido amplo das fases de desenvolvimento das pessoas e considera os diversos contextos em que vivem.
A reportagem é de Fabrizio Mastrofini, publicada em Settimana News, 02-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como explicou o Prof. Henk Ten Have, diretor do Centro de Health Care Ethics, em Pittsburgh, as características da “bioética global” estão alinhados com os princípios desenvolvidos pela Unesco em 2005: cuidado pela dignidade humana e pelos direitos humanos, ênfase na autonomia e na responsabilidade individual, respeito pela integridade das pessoas, promoção dos princípios de igualdade, justiça e equidade, responsabilidade social e cooperação, proteção das gerações futuras, do ambiente, da biosfera e da biodiversidade.
Como explicou Dom Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, a “bioética global” é uma abordagem que expande as fronteiras da bioética tradicional: da defesa da vida antes do nascimento à defesa de toda a vida humana nas múltiplas dimensões, na inserção no ambiente de vida e na ecologia humana.
No centro, está sempre a pessoa humana, conjugada nos contextos concretos em que vive e age. Não uma visão panteísta, mas uma abordagem firmemente enraizada no personalismo cristão, ampliado à defesa do ambiente de acordo com o slogan: “Temos uma só vida para viver e um só planeta onde viver”.
A partir dessas premissas, o Papa Francisco identificou as articulações fundamentais de um compromisso que a Pontifícia Academia para a Vida deve continuar.
“A visão global da bioética, que vocês estão se preparando para relançar no campo da ética social e do humanismo planetário, fortalecidos pela inspiração cristã, se comprometerá com mais seriedade e rigor a desarmar a cumplicidade com o trabalho sujo da morte, sustentado pelo pecado. Assim, poderá nos restituir às razões e às práticas da aliança com a graça destinada por Deus à vida de cada um de nós. Essa bioética não se moverá a partir da doença e da morte para decidir o sentido da vida e definir o valor da pessoa. Ao contrário, se moverá a partir da profunda convicção da irrevogável dignidade da pessoa humana, assim como Deus a ama, da dignidade de cada pessoa, em cada fase e condição de sua existência, na busca de formas de amor e de cuidado que devem ser dirigidas à sua vulnerabilidade e à sua fragilidade. Portanto, em primeiro lugar, essa ‘bioética global’ será uma modalidade específica para desenvolver a perspectiva da ecologia integral que é própria da encíclica Laudato si’, em que eu insisti nesses pontos fortes: a íntima relação entre os pobres e a fragilidade do planeta; a convicção de que tudo no mundo está intimamente conectado; a crítica ao novo paradigma e às formas de poder que derivam da tecnologia; o convite a buscar outros modos de entender a economia e o progresso; o valor próprio de cada criatura; o sentido humano da ecologia; a necessidade de debates sinceros e honestos; a grave responsabilidade da política internacional e local; a cultura do descarte e a proposta de um novo estilo de vida (n. 16).”
Depois, acrescentou que, “nos textos e nos ensinamentos da formação cristã e eclesiástica, esses temas da ética da vida humana deverão encontrar uma adequada colocação no âmbito de uma antropologia global e não serem confinados entre a questões-limite da moral e do direito. Eu espero que uma conversão à atual centralidade da ecologia humana integral, ou seja, de uma compreensão harmoniosa e abrangente da condição humana, encontre no compromisso intelectual, civil e religioso de vocês um válido sustento e entonação propositiva”.
Também devemos afirmar com força que, “sem o adequado apoio de uma proximidade humana responsável, nenhuma regulação puramente jurídica e nenhum auxílio técnico poderão, sozinhos, garantir condições e contextos relacionais correspondentes à dignidade da pessoa”.
Concluindo os trabalhos, Dom Paglia enfatizou a importância do diálogo, concretizado na presença de acadêmicos de diversas origens e extrações. “Eles nos enriquecem e fornecem novos estímulos”, disse.
Entre as iniciativas do futuro próximo, o Mons. Renzo Pegoraro, chanceler da Academia, ressaltou que se realizará um maior monitoramento das temáticas bioéticas emergentes nos diversos contextos continentais, para favorecer um melhor intercâmbio e diálogo entre os acadêmicos.
O tema do próximo evento anual será a “robótica”. “Quero terminar a minha vida assistido por um ser humano, não por uma máquina”, brincou Dom Vincenzo Paglia, sublinhando como, “para o nosso futuro, está se tornando importante a relação com as máquinas e, portanto, com uma tecnologia que já tem um grande impacto na vida das pessoas e no seu futuro”.
“A nossa tarefa como Pontifícia Academia – insistiu Dom Paglia – é de aprofundar a reflexão sobre o significado da vida humana, ampliando-nos para temas como o ambiente, as tecnologias, a brecha entre os diversos países. O nosso horizonte é a humanidade, o gênero humano. Para nós, existe o ‘eu cuido da humanidade”, e nunca diremos ‘o meu país está no centro’”.
A 25ª assembleia será realizada de 25 a 27 de fevereiro de 2019.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bioética ''global'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU