Ação pede segurança para o trabalho de jornalistas

Jornalistas entrevistando Bolsonaro no “cercadinho” do Palácio da Alvorada. | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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06 Julho 2020

Entidades da sociedade civil protocolaram em Brasília, na terça-feira, 30 de junho, ação contra a omissão do governo em promover medidas de segurança para a atuação de jornalistas que fazem a cobertura no “cercadinho” do Palácio da Alvorada e de manifestações na capital federal. A ação argumenta que os ataques são estimulados pelo tratamento abusivo do presidente da República e ministros contra profissionais da imprensa, e pede uma indenização por dano moral coletivo no valor de 300 mil reais.

A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.

Monitoramento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) sobre ataques contra o jornalismo e seus profissionais cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro, divulgado na quinta-feira, 2 de julho, registrou, no primeiro semestre do ano, 245 ocorrências, das quais 211 categorizadas como descredibilização da imprensa, 32 ataques pessoais a jornalistas e dois ataques contra a Fenaj. São quase dez ataques ao trabalho jornalístico por semana, aponta matéria da entidade sindical.

O monitoramento da Fenaj contempla declarações públicas do presidente em suas manifestações no YouTube, na conta pessoal no Twitter, nos vídeos de entrevistas coletivas no “cercadinho” em frente ao Palácio do Alvorada e transcrições de discursos e entrevistas disponibilizadas no portal do Planalto.

Bolsonaro chegou a declarar a imprensa e os jornalistas como “inimigos do país”, por conta de matérias críticas ao seu governo. Nos três primeiros meses do ano, o presidente classificou o trabalho da imprensa como mentirosa, omissa, sem credibilidade. Afirmou que ela atrapalha, deturpa, esculhamba, tripudia, destrói, produz fake news.

Sobre a cobertura da pandemia, o presidente da República declarou, no dia 10 de março, durante viagem que realizou aos Estados Unidos, que a mídia propagava “fantasia”. Duas semanas depois, em pronunciamento em cadeia de rádio e TV, arrolou que meios de comunicação “espalharam exatamente a sensação de pavor” e criticou-as por causar “histeria”, registra o monitoramento da Fenaj.

Bolsonaro comparou a imprensa a um vírus “pior que coronavírus”. Quando o Brasil ultrapassou a marca de 50 mil mortes pelo covid-19, em junho, o presidente repetiu que grande parte da imprensa criou “estado de pânico junto à população”.

Em abril, Bolsonaro chamou repórteres que faziam a cobertura no “cercadinho” de urubus, que trabalham “amontoados”. Os trabalhadores da imprensa estavam ali “justamente porque eram as condições proporcionadas pelo governo federal”, anota a Fenaj.

Durante entrevista coletiva no Alvorada, no dia 5 de maio, Bolsonaro mandou jornalistas “calarem a boca” e recorreu a adjetivos como “patifaria” e “canalha”, referindo-se ao teor de matérias jornalísticas. Também responsabilizou a imprensa por “fabricar” crises com seus ministros.

Desde o ano passado, a Fenaj vem denunciando que os ataques de Bolsonaro à imprensa estimulam a violência contra jornalistas em coberturas diárias, como noticiado em diferentes ocasiões neste semestre, informando a agressão sofrida por profissionais da imprensa consumados por seguidor@s do presidente da República.

Veículos de imprensa, entre eles os grupos Globo, Bandeirantes e Folha, passaram a não mais pautar repórteres para a cobertura das entrevistas do presidente que ele concede no “cercadinho”, onde conta com uma claque de admirador@s. A decisão foi tomada após apoiador@s de Bolsonaro subirem o tom das ameaças e dos ataques a@s profissionais da imprensa.

Impetraram a ação contra o governo a Fenaj, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, o Instituto Vladimir Herzog, Intervozes Coletivo Brasil de Comunicação Social, Artigo 19 e Repórteres Sem Fronteira. A iniciativa, diz comunicado das organizações, surgiu a partir da Rede Nacional de Proteção a Comunicadores, que desenvolve estratégias para coibir casos de violações à liberdade de expressão no país.

A ação ganhou impulso depois da fala do chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, em conversa registrada pelo Grupo Bandeirantes. Ele disse que não conteria ameaças e agressões verbais, e que os jornalistas tinham que “fingir que não ouviram” as ofensas.

No processo são citados como responsáveis por promoverem a segurança de jornalistas e comunicadores na cobertura das ações do governo o presidente Jair Bolsonaro; o chefe do GSI; o ministro das Comunicações, Fábio de Faria; e o chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten.

 

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