24 Junho 2020
Bispo camaronês suspende padre popular por realizar uma dança ritual pertencente à religião africana tradicional.
A reportagem é de Jean François Channon Denwo, publicada por La Croix International, 23-06-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O bispo de uma diocese da região oeste de Camarões causou polêmica entre os fiéis ao suspender um padre popular e teólogo moral, que foi filmado fazendo uma dança ritual típica da religião tradicional africana.
Dom Dieudonné Watio, da Diocese de Bafoussam, anunciou, 15 em de junho, que havia suspendido o Pe. André Marie Kengne, proibindo-o de celebrar publicamente os sacramentos.
Atualmente servindo como pároco, Kengne foi acusado de promover o sincretismo religioso em um vídeo postado na internet. Nele, o religioso aparece usando um traje tradicional do povo Bamiléké e participando de uma dança ritual durante um evento.
O padre, cujos ancestrais pertenceram aos Bamiléké, explica, em francês e na língua bandjoun, por que participou da dança.
Ordenado sacerdote em 1997, Kengne, que concluiu o doutorado em Teologia Moral no ano de 2005 pela Academia Alfonsiana (Pontifícia Universidade Lateranense), de Roma, disse que não há nada na Bíblia, nem na religião cristã – e tampouco no sacerdócio católico – que o proíba de participar de uma cerimônia tradicional.
Ele elogiou a cultura de seu povo de origem, acrescentando que muitos dos valores aí praticados se alinham com o cristianismo e estão em conformidade com a doutrina católica.
Dom Dieudonné Watio, no entanto, discorda. Após saber que o vídeo viralizou em Camarões, o prelado, de 74 anos, decidiu impor sanções ao padre.
“O bispo agiu de acordo com a doutrina da Igreja”, explicou o Pe. Clement Kouamo, pessoa próxima da cúria diocesana de Bafoussam.
“Ele deve priorizar o ensino oficial da Igreja. Deve, sobretudo, não deixar as rédeas soltas para toda e qualquer forma de sincretismo religioso entre o cristianismo e as religiões tradicionais”, continuou Kouamo.
A diocese ficou dividida com o que está sendo chamado “o caso da suspensão do Pe. Kengne”. A divisão atingiu também o presbiterado local.
“Entre o bispo e nós padres, temos uma relação de pai e filho”, disse um dos padres, que pediu para não ser identificado.
“O bispo foi exageradamente intransigente com o nosso companheiro, o padre André Marie Kengne, que é um teólogo moral e antropólogo bastante respeitado dentro da Igreja”, continuou o religioso.
“Em nosso entender, o bispo deveria ter trazido provas intelectuais e doutrinais que efetivamente implicassem o nosso irmão. Deveria ter aberto o debate com os demais antes de suspendê-lo”, acrescentou.
O antropólogo jesuíta, Ludovic Lado, adotou uma abordagem mais equilibrada.
“Antes de mais nada, saúdo o interesse, e mesmo a paixão, deste padre pelas culturas africanas tradicionais, as quais de alguma forma me recordam da aventura inicial, de meu companheiro Éric de Rosny, cuja famosa obra, Les yeux de ma chèvre, todos conhecem”, escreveu Lado em sua página no Facebook. “Mas também reconheço o direito do bispo em redirecionar um padre quando percebe que algo diferente pode confundir alguns fiéis”, lê-se na postagem.
O jesuíta disse que, embora a suspensão do bispo “tenha o mérito de salvaguardar a atividade pastoral, a sua forma não foi a mais apropriada”.
“O texto do bispo poderia ter sido escrito sem essa retórica, que soou como uma vingança pública nas rádios diocesanas”, disse ele.
O Pe. André Marie Kengne disse que não quer comentar a decisão do bispo.
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Bispo africano gera polêmica ao suspender padre teólogo por sincretismo religioso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU