18 Junho 2020
“O capitalismo nos empurra para o consumo, para a vida com pressa, o estresse, a tecnologia (como mecanismos de captura ideológica e não como ferramenta de libertação) e a perda da natureza. O decrescimento nos guia para o oposto: uma sociedade onde exista convivência, calma, conexão com o meio ambiente e, o mais importante, bem-estar social e econômico para todos”, manifesta-se Alterius Collective, em artigo publicado por Tercera Vía, 16-06-2020. A tradução é do Cepat.
Há dez anos, o eminente cientista Frank Fenner alertou que se continuarmos com o atual sistema econômico (e sua visão absurda de progresso), a humanidade se extinguirá em 100 anos, devido à superpopulação, destruição ambiental e a mudança climática. A voz de Fenner é apenas uma das apontaram para o problema fundamental do capitalismo: a acumulação de dinheiro e poder em poucas mãos, a partir da exploração das maiorias e da destruição do meio ambiente.
Todos os sistemas de administração ao longo da história humana tiveram um ponto de ruptura e o do capitalismo é autoproduzido porque anda de mãos dadas com a exploração que faz da biosfera. A crise que estamos enfrentando atualmente, por causa da Covid-19, é apenas uma das maneiras pelas quais o colapso deste sistema é evidente e nos obriga a pensar, e resgatar, as rotas alternativas para a construção de um mundo justo e equilibrado, o único possível se apostarmos na continuidade das espécies dentro do planeta.
Aqueles que acreditam que o sistema funciona não conseguem ver a distância entre sua frágil bolha de bem-estar, que pode explodir a qualquer momento, e os ultrajantes privilégios da elite. Essas diferenças não são casuais, mas estruturais, e é um grave problema que a maioria explorada assuma que com esforço (que se traduz na exploração que padecem bilhões de pessoas em todo o mundo) é possível acessar essa vida de luxos, que por si já é imoral vivê-la em um mundo onde a miséria se espalha sem parar.
Existe um consenso cada vez mais amplo de que a única maneira de parar o colapso é decrescer. O decrescimento implica uma transformação radical, não apenas no sistema de produção e consumo, mas na mentalidade da sociedade global. A Covid-19, apesar de suas nefastas consequências para a saúde e a economia, também nos fornece lições importantes para planejar rotas para esse cenário urgente. Além de ter nos mostrado a fragilidade de um sistema hiperconectado, fazendo ver o valor da organização local, produção em pequena escala e autonomia da comunidade, também nos revelou que o essencial se reduz a ter acesso a alimentos, moradia e a relações afetivas.
Que a saúde não é apenas uma questão de medicamentos e hospitais, mas de hábitos alimentares (que em países como o México estão definidos substancialmente mais pela oferta do que pela demanda). Mostrou-nos a importância de um bom descanso, o valor das conversas. Mas também revelou a natureza opressora das forças policiais em todo o mundo, a urgência dos governos (sejam de esquerda ou direita) em consolidar esquemas autoritários e que, sem importar as condições, a saturação é generalizada e a luta social é imparável.
Em poucas palavras, podemos definir o decrescimento como uma forma de sociedade e economia que visa o bem-estar de todos. Entendido a partir desse ponto, busca-se harmonia no cuidado, na solidariedade e na cooperação de cada indivíduo. Além disso, a sociedade decrescente deve se ver como parte de um sistema ecológico planetário. Somente assim, a partir do trabalho micro e macro é possível uma vida digna para todos.
Estabelecer as bases para uma sociedade decrescente pode ser simples, mas colocá-la em prática exige muito mais esforço. No entanto, reconhecer os objetivos do decrescimento é um passo em direção à transformação. É necessária uma estrutura mínima para avançar em direção a uma forma equitativa de sociedade, com bem-estar social para todos. Nesse sentido, devemos ter em mente que é necessário:
- Gerenciamento de tempo: isso inclui desaceleração, bem-estar de tempo e coexistência;
- Redução de produção e do consumo. (A libertação do paradigma unilateral do desenvolvimento ocidental);
- Ampliação da tomada de decisões democráticas para permitir uma participação política real;
- Mudanças sociais orientadas para a suficiência e eficiência ecológicas (em vez de mudanças puramente tecnológicas);
- Criação de economias abertas, conectadas e localizadas.
Certamente, alcançar o decrescimento é muito mais complexo do que nos propor a sermos pessoas melhores. A realidade muda através de ações e o que as sociedades de hoje precisam é agir para se transformar realmente. Mas também é importante entender que o decrescimento requer o enfrentamento dos esquemas de dominação histórica dos países que hoje podem planejar essas saídas, porque alcançaram bons níveis de estabilidade social a partir da dominação e exploração de outras regiões. O decrescimento requer a redistribuição da riqueza que os países dominantes acumularam com suas políticas colonizadoras, caso contrário, somente se tornarão mais graves os efeitos da desigualdade nos países empobrecidos.
Por fim, não se trata de superar qualquer crise, mas de reconhecer suas origens, suas possibilidades e a partir delas avançar em direção a outro mundo possível e necessário. Agora, estamos em um crescimento que não aponta para a boa vida de todos e, portanto, o objetivo é deter um pouco o avanço e restaurar as raízes. A Covid-19 mostrou que deter o “progresso” não é apenas possível, mas urgente.
O capitalismo nos empurra para o consumo, para a vida com pressa, o estresse, a tecnologia (como mecanismos de captura ideológica e não como ferramenta de libertação) e a perda da natureza. O decrescimento nos guia para o oposto: uma sociedade onde exista convivência, calma, conexão com o meio ambiente e, o mais importante, bem-estar social e econômico para todos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A Covid veio nos lembrar a importância do decrescimento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU