05 Mai 2020
Em 1º de maio, o cardeal Konrad Krajewski foi a Ostia Lido, Itália. No posto de controle, foi detido por quase uma hora. Era um dia festivo, o mar estava ali ao lado. Padre Corrado, como é chamado, não usava vestes púrpura ou solidéu, dirigia uma van lotada de alimentos. Aos agentes mostrou a placa do Vaticano, o passaporte diplomático, uma folha de papel já amassada com a licença: ajuda aos pobres.
A reportagem é de Carlo Tecce, publicada por Il Fatto Quotidiano, 04-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Esmoleiro apostólico é a profissão do Padre Corrado. De acordo com a mais recente reforma constitucional, a "Pastor Bonus" promulgada há trinta anos por João Paulo II, o esmoleiro é encarregado da caridade em nome do Santo Padre. Em 3 de agosto de 2013, no começo do pontificado, Francisco atribuiu a tarefa ao polonês Konrad, nascido em 63, um sacerdote que prestava serviço no departamento para as celebrações litúrgicas, depois em setembro foi consagrado arcebispo e, dois anos atrás, elevado a cardeal. Título jamais alcançado por um esmoleiro em mais de oito séculos de história: “O Papa me confiou uma missão específica: dar conforto aos mais fracos. E minha missão é cumprida quando a conta bancária e a reserva no armazém estão vazias. O Evangelho me leva até quem me chama, sem julgar ninguém”, fala o cardeal Corrado, que exerce seu ofício com espontânea veemência.
Isso o leva a despertar sentimentos opostos, entre aqueles que o veneram como um intrépido salvador dos desfavorecidos e aqueles que o culpam pelos comportamentos excêntricos. Até a semana passada, ele era o cardeal que havia descido em uma caixa de inspeção de um prédio ocupado para reconectar a eletricidade e se tornou uma saborosa presa midiática para o então ministro Matteo Salvini, agora é o protegido de Jorge Mario Bergoglio que "financia" as prostitutas transexuais do litoral do Lácio em desgraça, porque os clientes sumiram com a pandemia.
O cardeal Krajeswski, no entanto, não é um personagem literário que às vezes realiza ações espetaculares para desafiar a lei. Ele é o chefe - o mais visível, é claro - de uma estrutura ligada ao pontífice, estranha ao governo curial, uma espécie de pronto socorro para os necessitados: fornece refeições, chuveiros, roupas para os sem-teto, dinheiro para o aluguel às famílias, paga os estudos para os meninos, acolhe aqueles que passam frio.
A Esmolaria administra um fluxo de pedidos que passa dos sacerdotes aos bispos e dos bispos aos colaboradores de Krajeswski. Através de Dom Corrado, portanto, Francisco enviou respiradores hospitalares para a România, Nápoles, Pádua, Lecce, Locri. Para o cardeal - e o conceito também se aplica a Francisco - a caridade não existe com limites. Deveria ser concedida a todos: “O Evangelho não faz distinções. Sempre respondo, não meço a fé, não castigo os pecadores, não recompenso os verdadeiros católicos”.
A pandemia aumentou o abismo dos pobres, aqueles que estavam à beira caíram nele: empregos precários, empregos informais. Todas as noites, Corrado entrega trezentas sacolas de comida à comunidade de Santo Egídio para aqueles que recorrem à paróquia romana de Santa Maria em Trastevere: “São pessoas que têm casa, mas nada na geladeira. Não sabemos quem são, apenas que precisam encher o estômago". A Esmolaria doou mais de 4 milhões de euros no ano passado. A maior parte do dinheiro é conseguido com a venda de pergaminhos com uma bênção apostólica.
Francisco pretende expandir as atividades da Esmolaria. A reforma da "Pastor Bonus", que será o legado da Cúria de Bergoglio, prevê o nascimento de um dicastério para a pobreza e, consequentemente, mais recursos. Mais dinheiro para gastar, subtraído de outros e transferidos por indicação do sumo pontífice. O ministro, é óbvio, será o cardeal Corrado. Esse cenário no Vaticano desencadeia às disputas habituais pelo poder. Não é de surpreender que o cardeal polonês seja impopular para os opositores de Francisco. E ele, Dom Corrado, não se importa. Acredita que esteja do lado direito da Igreja. "O tempo do ouro pendurado nas batinas acabou", parece repetir com frequência, mas em voz baixa.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Konrad, esmoleiro do Papa: “Ajudo a todos, não julgo ninguém” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU